Para mim, Nelson Rodrigues é uma daquelas personagens comuns no meu - ainda vasto - buraco literário. Pensava sempre: “Devo ler”. E ia sempre adiando. Sua produção teatral também não me atraía o suficiente. Mas por quê? Simplesmente não sei. Sei que é o mais importante dramaturgo destas paragens, assim como sei da fama das suas crônicas. Eu tinha, e continuo tendo, curiosidade, mas algo sempre me afastava. Porém, colhia informações aqui e ali, atiçando minha curiosidade. E para começar escolhi o livro indicado pelo amigo Binho: O óbvio ululante, reunião da crônicas publicadas no Jornal O Globo durante os anos 1960 e que compõem o início do que ele chamou de Confissões. Acho que é um bom começo; ainda mais agora publicado pela Editora Agir, em uma edição caprichada. Antes de começar a ler, tinha visto “Senhora dos Afogados”, produzido pelo Antunes Filho, e gostado muito.
Ora, são tantas as informações sobre Nelson Rodrigues que me custa ter o que dizer. Todos o conhecem; se não o leram, viram a série “A vida como ela é”, do Fantástico. O que falar de um autor tão conhecido? Sempre páro diante deste espanto, diante do que dizer de escritores já tão ditos, com medo da repetição, do óbvio. Nelson é o “reacionário” mais lido e comentado da literatura brasileira. O que acho, e não constinui nenhuma novidade, é que isto é o que há de mais fascinante no seu texto: seu reacionarismo, pois é o que permite uma escrita dissonante. Como leitor, vamos da risada ao mais terrível ódio por ele. Ora, e eu creio que, ao menos em O óbvio ululante, Nelson nada tem de óbvio. Ele vai contra o “coro dos desafinados” de um modo implacável e terrível, mas com uma lucidez que quase nos arrasta com ele. Ele é, de fato, o menino com fome a quem sempre retorna: fome de polêmica, de modo desabusado e perigoso. Ousar pensar diferente não deixa de ser fascinante, embora seja fácil reconhecer seus enganos e suas ausências (nenhum comentario ao AI 5 em todo o ano de 1968)!
É isto: Nelson quase nos convence; e em tempos magros como os de agora fica fácil imaginar uma “esquerda de botequim”, e um ou outro que se promove à custa da fome. Lembrei agora de uma daquelas capas apelativas da Revista Bravo, que dizia o seguinte: “Por que não temos mais um cronista como ele?”. Eu não poderia assinar embaixo do que esta pergunta retórica sugere, até porque leio muito poucos cronistas – vez ou outra leio a do Cony, na Folha de São Paulo, e acho de uma sem-gracice sem tamanho. Se existisse apenas Cony cronista eu concordaria de imediato com a Bravo. Pois, sem dúvida alguma, Nelson era um cronista completo, que sabia lapidar cada palavra atrás da frase perfeita – e são tantas!
Enquanto eu lia, porque tinha lido A descoberta do mundo, da Clarice, a pouco tempo, pensava em como os dois são diferentes:: Clarice sentia culpa de escrever para o jornal, e seu fascínio pelo real era acompanhado de um medo terrível; já Nelson estava totalmente à vontade na sua função de cronista: o real lhe fascinava na crueza mais perversa e não parecia se sentir menos escritor por assim escrever.
Agora, vou para “A vida como ela é”.
Ora, são tantas as informações sobre Nelson Rodrigues que me custa ter o que dizer. Todos o conhecem; se não o leram, viram a série “A vida como ela é”, do Fantástico. O que falar de um autor tão conhecido? Sempre páro diante deste espanto, diante do que dizer de escritores já tão ditos, com medo da repetição, do óbvio. Nelson é o “reacionário” mais lido e comentado da literatura brasileira. O que acho, e não constinui nenhuma novidade, é que isto é o que há de mais fascinante no seu texto: seu reacionarismo, pois é o que permite uma escrita dissonante. Como leitor, vamos da risada ao mais terrível ódio por ele. Ora, e eu creio que, ao menos em O óbvio ululante, Nelson nada tem de óbvio. Ele vai contra o “coro dos desafinados” de um modo implacável e terrível, mas com uma lucidez que quase nos arrasta com ele. Ele é, de fato, o menino com fome a quem sempre retorna: fome de polêmica, de modo desabusado e perigoso. Ousar pensar diferente não deixa de ser fascinante, embora seja fácil reconhecer seus enganos e suas ausências (nenhum comentario ao AI 5 em todo o ano de 1968)!
É isto: Nelson quase nos convence; e em tempos magros como os de agora fica fácil imaginar uma “esquerda de botequim”, e um ou outro que se promove à custa da fome. Lembrei agora de uma daquelas capas apelativas da Revista Bravo, que dizia o seguinte: “Por que não temos mais um cronista como ele?”. Eu não poderia assinar embaixo do que esta pergunta retórica sugere, até porque leio muito poucos cronistas – vez ou outra leio a do Cony, na Folha de São Paulo, e acho de uma sem-gracice sem tamanho. Se existisse apenas Cony cronista eu concordaria de imediato com a Bravo. Pois, sem dúvida alguma, Nelson era um cronista completo, que sabia lapidar cada palavra atrás da frase perfeita – e são tantas!
Enquanto eu lia, porque tinha lido A descoberta do mundo, da Clarice, a pouco tempo, pensava em como os dois são diferentes:: Clarice sentia culpa de escrever para o jornal, e seu fascínio pelo real era acompanhado de um medo terrível; já Nelson estava totalmente à vontade na sua função de cronista: o real lhe fascinava na crueza mais perversa e não parecia se sentir menos escritor por assim escrever.
Agora, vou para “A vida como ela é”.