domingo, 17 de maio de 2015

dos dias.

destes dias.







vim bem aqui em Itabuna. para um seminário. não não. não o seminário destas fotos. a cada vez que viajo para um novo lugar, levo comigo a esperança de que vou fotografar as miudezas, os instantes. imagino que vou encontrar o tempo a ocasião a imagem que me darão vontade de vencer a dificuldade da técnica. 

mas as ocasiões têm sido escassas. porque fotografar, para mim, tem a ver com aquilo que me toca. com aquilo que quero guardar. carreguei a câmara por três longos dias --- e apenas neste seminário, no qual fui no fim do primeiro dia do seminário de que participava, senti vontade de fotografar. senti ali uma força viva e poderosa. e o contraste entre um e outro seminário me deu um vazio incomensurável. passei da mais profunda indignação para uma letargia triste.

em outros tempos, com menos cuidado de si, eu teria pedido a voz e testemunhado meus assombros. teria demonstrado talvez indignação, talvez desespero. o mesmo desespero que vi em muitos rostos e muitos discursos. talvez ainda o faça --- em qualquer dia que essa letargia resolver dar uma trégua. mas o certo é que a chance do humano no interior da universidade é cada vez mais rara. quando ela parece apontar para isso é quando o humano mais é rechaçado. 

a universidade está corrompida pelos jogos de poderes, pela mesquinhez dos campos de disputas, pela alienação dos que ocupam o lugar das ordens e daqueles que batalham como vespas por estes lugares ou por, no mínimo, estarem próximos deles. 

a arrogância é a marca mais visível. mas não a arrogância alegre e criadora das vanguardas, embora essa palavra tenha sido ouvida a todo instante. talvez no mesmo gesto, por diversas vezes, lembrei que nenhuma ideia, nas artes, envelheceu tão rápido como a ideia de vanguarda. e justamente porque logo perdeu o viço, a alegria, a juventude. e hoje só sobreviva como tradição - vide octavio paz. 

ninguém lembrou de pensar que talvez o gesto pudesse ser o gesto da diferença. não o da inovação, da vanguarda, mas o da diferença. e não exatamente isto: apenas o desejo da diferença, o que permitiria a todo instante contrastar essa vontade com as limitações do real. talvez essa palavra não tenha sido sequer mencionada porque -- se bem pensada -- pudesse abrir o fosso, mostrando, assim, o abismo em que todos estamos metidos. escolher palavras mais ruidosas talvez ajude a esconder as ruínas da nossa própria miséria. 
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talvez, por isso, o fascínio por esta diferença das fotos --- 
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agora, aqui, no fim do terceiro dia, olhando esta dezena de fotos que tirei no hiato, pergunto-me qual a via possível. e daí me lembro de três nomes. três nomes que pincelei no decorrer do longo e triste seminário de três dias. os nomes-esperanças. resolvo, então, por ora, ficar com eles em busca de alguma filiação possível --- para que valha a pena o desgarramento do que já me era conhecido.


As fotos foram tiradas na abertura do 10º Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde: Cultura, Práticas de Cuidado e Políticas Públicas, que aconteceu na cidade de Ilhéus nestes dias. linda a abertura. as fotos mostram meu olhar de espectadora. tirei-as sentadas, enquanto via e ouvia.