segunda-feira, 10 de junho de 2019

Casamento da Princesa






pois este ano tem me feito revirar um bocado. agora, fui para ver o casamento da Princesa, dela que provocou, involuntariamente, meu primeiro e mais importante deslocamento, há quase trinta anos.

por diversas vezes, nos dias que antecederam e procederam o casamento, eu pensei que ainda via a Jéssica, ora Princesa, ora Doidinha, como a adolescente que ela era em 2004, quando fui embora de Porto Velho. até ali tínhamos uma convivência quase diária permeada de muito afeto, muito amor, muita admiração. depois, perdemos a cumplicidade dos dias; tanto eu como ela avessas de comunicação à distância. vez ou outra, nesses dias, senti falta dessa cumplicidade agora memória. e me vi investigando em silêncio o que ainda há. e sei que da minha parte é um desmesurado amor. 

eu nunca casei num ritual como esse, e nem tenho lembrança se alguma vez o quis, mas quase tudo que me é estranho é da ordem da emoção. eu fui assim --- para viver os dias em nome deste lugar que é dela em mim. e foi bonito. é o que eu tenho a dizer::: foi bonito --- como tudo que lembro que vivemos. e isso é um milagre. por fim, é um milagre::: ter alguém que se ama tanto e só ter boas lembranças desse amor. 

e foi o que desejei -- a ambos::: que seja bonito o casamento. que haja mais dias felizes do que tristes. isto do caminhar junto - que nunca é fácil, mas é o que quase sempre queremos viver::: o encontro com o outro. 

ainda em casa, tomei ciência de que deveria ir entregue aos rituais, atenta à praticidade que me obrigo a ter vez por outra. me arrumar, arrumar o Poeminha, estar atenta ao que precisassem - pouco, muito pouco. quis encontrá-la, encontrá-las, ela e Maneca; ela, Maneca, Ed e Josimar, com amor, porque, se não me engano, foi o que sempre nos permeou. e é o que posso dar, desatenta que sou::: a minha presença, quando ali estou. e isso me trouxe alegria, muita alegria. estar ali, estar com. 

fotografei toscamente quase todo o casamento. e me embrulhei de emoção diversas vezes. dancei muito e comi muito. e me concentrei para não beber além da. para poder registrar.  pois é o que se tem a fazer em uma festa de casamento: dançar, comer, beber e achar tudo bonito. foi assim. lembrei muito do mano. ele foi a presença que nos faltou nestes dias. e ainda lá, me veio o pensamento de não querer normatizar nem moralizar o luto que ainda dói, ainda que doa. flagrei a dor do meu pai e da tia Fá na pouca luz da festa. e guardei-os, aqui, em mim.   

pela primeira vez, nos encontramos - as quatro irmãs - sem ser no Ceará. Morg finalmente foi nos encontrar. e eu espero que esta primeira viagem tenha sido bonita para ela também. para que ela possa vir aqui, na minha casa. minha maior alegria é ter irmãs, como já disse outras vezes aqui. é um assombro: os mesmos sorrisos, os mesmos vários tiques, as fisionomias tão próximas. em algum momento, expressei nossas diferenças, como um apelo para que estas não nos afastem nem retirem de nós isto que tem nome de amor; amor como um sentimento imperfeito, afeito à curvatura do que temos de próprio em cada uma. 
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a primeira lembrança que tenho de Jéssica é dela correndo na praça da cidade de minha infância. ela tinha um ano. na minha memória, era um vestido amarelo, com laços de fita branco. não sei se inventei essa memória. ou se a construí a partir de alguma fotografia. ali, aos quinze anos, eu já dava início a um dos princípios básicos da maternidade que eu exerceria vinte anos depois: cuidar sem violência. e agora, quando escrevo, me dou conta que também Maneca fez este pacto. e também Josimar. tantos foram os dias e as noites que nos colocamos à sua disposição. para brincar, correr e acalentar. ela não tem a delicadeza que poderia ter se constituído aí. porque é para dentro --- como nós três, arrisco-me a dizer: sua mãe, seu pai e eu. e deve precisar de um esforço extra para lidar com quem está a seu redor. talvez quando ela for mãe - se for -, a delicadeza que há ali, e que é preciso arrancar vez por por outra, prevaleça. ou já agora::: ela e Ed juntos nos dias que virão. tão longos, tão longos, é o que desejo.