sexta-feira, 2 de outubro de 2020

do que agora me importa

 



tenho estado em silêncios. ainda não tanto como planejo em mim, mas ainda assim silêncios. me preparo para voltar a mim. por isso, escrevo agora no blog. hoje. não sei se vai durar. se haverá outras postagens. tenho escrito quase todos os dias, no instagram e facebook, um diário de quarentena. às vezes, gosto; outras, me arrependo. algumas vezes, sinto meio que vergonha, porque parece um diário retardado de adolescente. e algumas raras vezes, fico com aquela alegria de quem pensa que criou involuntariamente uma imagem bonita. mas cumpro a cada dia que acordo uma decisão::: não apagar, seja qual for o sentimento que me domine sobre a tal postagem do dia, geralmente escrita nas madrugadas.

gosto da escrita. me preparo para voltar a escrever meus artigos tortos sobre o que me interessa. não escrevo para ter uma produção científica --- é para mim. para forçar o trabalho do pensamento. para deixar registrado. foi Marcos quem me disse que eu podia. e que devia fazê-lo. ainda hoje me parece que tudo que escrevo é pela metade, porque vagueio por interesses tantos. porque minha memória brinca com campos vazios. mas não vou mentir::: danço quando escrevo. sou feliz. o corpo vagueia, os dedos bailam, a mente devaneia. como que me embriago. e gozo. gozo.

é por isso que vou voltar a escrever artigos tortos. a-científicos::: porque não devemos nos afastar do que nos tira do sério. do siso. da normalidade vil. não me importo com o valor que possam dar. não me importo que não valha um tostão. e somente muito longe penso o quanto a pesquisa nas universidades é escandalosamente sinônimo de ciências. das ditas ciências exatas. o tempo é sempre muito velho, é o que penso. por isto, Nietzsche ainda hoje está aí::: para que a gente não esqueça da gaia ciência. não esqueça que há outra via::: à revelia, à contrapelo, na cara dos caretas. e que esse estado de coisas tacanho, pequeno, feio, pobre, não deve nos impedir de dançarmos como bailarinas. 

se eu escrevesse da forma como falo - bruta, amarga, irônica, exigente, atrevida -, eu me arriscaria a tentar alguma ficção. mas escrevo assim::: nesta forma que me parece meio lírica, meio poética no mal sentido do sentido; numa linguagem que, para ser bem sincera, tento fugir, em vão, como o diabo foge da cruz. tenho em mente dois ou três nomes bem estrelados com os quais identifico parecenças com isso que pode ser identificado como minha escritura ---- e por isso desisto de perder tempo na ficção. 

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e a imagem que recobre este texto? somos nós::: eu, o menino e o pai do menino. coloquei porque é tão rara. o pai do menino não gosta de fotos de família. talvez porque perceba a precariedade da pose. talvez porque não goste de se ver rodeado. não sei. não insisto. mas gosto de nos ver assim juntos ---- esta família são como meus artigos tortos::: profundo amor. e do mesmo modo, penso muitas vezes que cuido pela metade. porque não sei como ser de outro modo. li hoje que "o amor atual, em toda a sua vivacidade, 'ensaia' o momento da ruptura ou antecipa o seu próprio fim". Deleuze é foda. dá é ódio ler uma frase assim, pois, se eu pudesse, estacionava naquele momento em que se acredita na eternidade::: nós três inteiros e juntos.