Cena de confissão: Entre a
proposição da disciplina e a sua organização, um hiato. Desaparece a ambição de
catalogação para dar lugar a uma obsessão ainda mais perigosa: a reflexão
arbitrária ou intempestiva, como crianças que desistem de colecionar carrinhos para
se dedicarem ao trabalho minucioso e exasperante de desmontagem.
Como em todas as disciplinas, um
reconhecimento com espanto da biblioteca. E com isso a impossibilidade de
despregar da imagem de Barthes: “Biblioteca de um sujeito = uma identidade
forte, completa, um ‘retrato’”. Diferente do despregar do conhecimento acerca
de Barthes, cada vez mais distante. É a imagem que nos perfura. E é com a junção
de duas bibliotecas que o curso se desloca.
Figura da
disciplina: A amizade. Por diversas razões. A impressão de que a
Universidade não consegue mais realizar a proximidade com essa figura (Derrida,
Blanchot, Agamben). Colocar em cena o que está fora da cena (Derrida, Jean-Luc
Nancy). Perfurar, rasurar, sustentar o subjétil da amizade, naquilo que ela tem
de ambiguidade: uma necessidade e uma certa desconfiança (Nietzsche, Derrida,
Artaud). O que pode sair daí? Quais sentidos poderão se constituir a partir da
declaração da amizade?
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foi assim. foi uma experiência muito bonita. aquela, de dar aula no mestrado em estudos literários. tenho certeza de que para mais ninguém foi mais bonito do que para mim. a junção de duas coisas: o querer-fazer e o gostar muito de algumas pessoas que lá estavam. bonito estar num espaço em que mais se ama do que se é amado. sempre essa dissimetria entre professor e aluno. não contei quantas vezes tive que me deslocar de vilhena a porto velho. 12 horas de viagem. e um desejo: o de ensinar na pós-graduação. não fiz nenhuma exigência e aceitei todas as cláusulas. não sei muito bem o teor desta importância. mas me emocionou. e muito. quase passei pelo vexame de chorar em sala de aula no último dia. emoção e saudade são os nomes. criei uma figura para o curso: a da amizade. ministrei junto com binho, meu amigo de muito tempo. um amigo que amo. talvez aquela moça bonita que tenha me dito que meu lugar é na sala de aula daqui a um tempo vai me desferir algum golpe certeiro como outras fizeram, mas no momento eu só consigo pensar que ela tem toda a razão. porque é na sala de aula onde eu mais penso, onde mais quero aprender, onde mais estou em casa.
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