no facebook todos tiveram um "grande ano". não sei por que lembrei de Fernando Pessoa. mas isso não importa agora. não me interessam os festins. disse algumas vezes - as vezes na lágrima, as vezes no choro que não saiu, as vezes bem alto e outras num silêncio absurdo - que este foi um ano "desgraçado". talvez disse isso mais para lembrar que nunca tive medo de palavras fortes do que propriamente para definir o ano em si. e ainda assim foi um ano bom em muitos sentidos (.....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................) houve as decisões -- as teimosias -- a vontade de não me deixar apenas seguir o curso -- os momentos bonitos. houve muito no que me agarrar. e na impossibilidade da ponte, o mergulho naquilo que poderia me salvar foi o mais definidor. pois um peso indefinido alastrou-se por tudo que poderia ter sido bom. e eu me perdi e tive que fazer muito esforço para me encontrar. e foi dolorido como fazia tempo que não era. e foi solitário. tive que me debater com muitas questões e somente agora talvez alguma possibilidade. tive que de novo e de novo pensar nesta falência de projetos comuns. nunca me pareceu tão difícil viver em comunidade.e ao mesmo tempo nunca foi tão esclarecedor sobre mim e sobre os outros (.........................................................................................................................................................................................................................). achei que o ano em que fiz faz quarenta anos poderia ter sido mais generoso. mas como é mesmo que deve ser um ano ninguém sabe. e me anima pensar que talvez eu fracassei menos do que muitos daqueles que tiveram um "grande ano". pois não me faltou coragem para pensar em tudo que estava acontecendo. e eu só tenho medo de não saber entender. e eu não entendi muitas vezes. mas me esforcei em planos que fracassaram, em interpretações que não vingaram, em ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................) e acho que só pode ser assim. este estar no mundo esfarrapado onde a vontade de persistir seja sempre maior do que qualquer outra vontade. (..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................) esta imagem aí de cima é uma imagem imperfeita. sem técnica. apontei a objetiva e disparei com a ajuda do automático. são os fundos do edifício copan. a parte menos glamourosa. e mesmo assim, as decisões de Niemeyer me impressionam enormemente. é um enorme paredão de vidro com divisórias de ferro. quem mora ali - imagino - pode num dia de dor profunda ou de alegria imensa encostar-se na transparência do vidro e sentir-se quase como que solto no ar. não há varanda. não há rede de proteção alguma. a transparência do fora. é preciso perder um bocado de medo para ter coragem de morar num lugar assim, é o que imagino. pois é como tenho visto o que vejo. tirei esta foto hoje à tarde. amanhã é 31 de dezembro. no próximo ano, a imagem talvez continue imperfeita. mas o que quero - dentre os tantas quereres - é que muito em breve possa existir a técnica. apontar a objetiva e disparar a partir do que eu aprender. é deste aprendizado que é preciso não abrir mão, é o que penso. (...................................................................................................................................................) e por pensar imagino um ano que vem mais alegre. uma alegria do estar atenta. não precisa ser "grande". mas que seja inteiro. e que as pontes sejam possíveis. e que tanto para mim como para o tatupai e para o poeminha seja um tempo bom, é o que desejo. com desejo.
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