O que me levou a desejar ir ao show da Madonna foi a
curiosidade. Eu queria ver em “atividade” esta mulher que há tanto tempo povoa
o imaginário de toda uma época – a que eu vivo. E ali, já no primeiro “ato”,
diante daquela missa profana, eu penso ter compreendido. E me veio uma emoção
muito intensa.
Ocupei o lugar de muitos dos seus fãs, quando chorei e senti o
coração dar um salto. E foi assim, de salto em salto, que, liberta do
conhecimento, da crítica, presenciei cenas de amor, de não à intolerância, à
falta de liberdade. Um banquete dionisíaco, milimetricamente delirante, no que
se propõe a ser transgressor, violento, particular. Como em muito dos artistas a
quem dedico profundo amor, o que penso ter visto foi um enfrentamento do horror
que pode tanto nos fazer sucumbir quanto nos encaminhar para a glória. Madonna,
sem dúvida alguma, escolheu a segunda opção. Mesmo assim, ela não é
uma simples popstar, embora domine como ninguém o que é próprio do pop. Madonna é um mundo. É uma daquelas artistas que parecem saber como transgredir a essência de uma época. Não custa lembrar que, quando ela surgiu, a época libertária do mundo havia passado tão rápido que nos
custa a acreditar naquela história de “paz e amor”, livre de todos os dogmas.
E cada vez que penso no que vi
no show, mais faço comparações – e mais penso que alguns discursos, tão distintos dos de Madonna, quando
parecem pregar o amor, mais espalham a intolerância. E ainda é aquele mesmo
medo do riso, da alegria, da loucura, ora feia, ora bonita, que nos
compõe. Enquanto esses discursos
circularem, Madonnas não podem deixar de existir – naquilo que aponta também
para o contraditório. Porque o contraditório não deve perecer. A beleza viva da
contradição não deve se extinguir – para que haja arte. Para que haja o riso
louco nas noites em que a chuva cai.
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