Se não for instituída uma proibição draconiana, causadora de muito stress como toda proibição, qualquer criança hoje pode ver um close microscópico da bunda de Deborah Secco, vestida com roupas sadomasoquistas (este é um dos poucos exemplos que eu posso citar, visto por acaso, já que não assisto a novelas), num capítulo final de novela, mas não pode ver, numa exposição, um nu, uma cena de sexo ou um pingo de esperma no momento mesmo em que pinga da vagina, mesmo se for uma imagem de uma beleza estonteante, o que era o caso do quadro de Sherman, como se estivéssemos vendo o próprio momento da concepção, aquele momento em que um espermatozóide encontra um óvulo e nos permite o milagre do existir.
E por que parece que eu tenho certa ojeriza ao close da bunda de uma atriz num canal aberto de TV e questione a proibição a menores de certas obras numa exposição? Pela simples razão de que um contexto de uma exposição é, ou deveria ser, ele mesmo questionador. Nele, podemos refletir sobre o sempiterno embate entre ética e estética, ou sobre a relação da arte com o consumo, ou ainda a recomposição do objeto cotidiano que retalha a nossa visão costumeira. Assim como podemos meditar sobre o real ou a suposta espetacularização da intimidade, a exposição do corpo, tudo isso definidor do atual estado de coisas.
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Quando “educadores” não dão esse tipo de informação, que poderia fazer o público compreender o que é aparentemente incompreensível ou inconcebível, perdem a oportunidade de o público que se vale deles sair dali mais informado, mais afim com as propostas da arte contemporânea, apesar de seus espantosos procedimentos. O que se nega, e é o que eu acho mais terrível, é o contato com a própria história da arte; cujo conhecimento poderia levar a questões como por que uma pintura hiperrealista de Sherman, ou uma fotografia de Nan Goldin, ou mesmo os quadros gigantes de Jeff Koons, causam mais escândalo do que O nascimento de Vênus, de Boticelli ou a Olympia, de Manet, eles mesmos, à sua época, dignos de escândalos.
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É o que eu me perguntava diante daquelas placas, para mim, totalmente sem sentido. Ou ao fugir da "educadora". Por um lado, as rédeas parecem soltas a uma proporção inimaginável, por outro, a mistificação da desinformação. É o horror! O horror!
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