quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os dias do FALE chegaram. E por isso estou insone, depois de dias e dias e noites e noites... Vai ser bonito do jeito que já está sendo:


domingo, 19 de junho de 2011

Bernardo Carvalho pensa

exausta, sem saber mais exatamente como me manter acordada, ou, na impossibilidade, como me manter sentada com esta dor tamanha embaixo da costela, resultado de dias e dias diante deste computador, vago pela internet atrás de algo que faça qualquer coisa com esta minha vontade - já quase insana - de entrar em off, que se fodam todos os meus compromissos pré-FALE. Encontro, então, esta postagem de Bernardo Carvalho e, de repente, descubro porque continuo lendo seus livros, apesar da antipatia por seu cerebralismo. Adoro esta sacada de que os provincianos são os outros e que temos mais é que ignorar este modo tosco de classificação dos lugares:

"(...) A coisa vai mais ou menos bem (mais para menos do que para mais) quando minha amiga me pergunta sobre as viagens, sobre a urgência de estar do lado de fora, no exterior, sobre a atração pelo estrangeiro como uma forma de estranhamento. E eu caio na asneira de responder com um exemplo recente – que, depois de uma leitura no norte da Alemanha, o mediador me perguntou: “Mas, afinal, onde está o Brasil na sua obra?”. E que isso tinha a ver com um preconceito, pois ele nunca faria a mesma pergunta a um americano ou a um inglês ou a um francês que tivesse escrito um romance sobre o Japão ou a Mongólia. O exótico não pode falar do exótico. É insuportável, não tem credibilidade. Um clichê não pode falar de outro, porque se anula. Prossigo (embora tudo – a começar pela cara da minha amiga – me alerte de que é hora de calar a boca), dizendo que as identidades nacionais também são ficções, mas ficções vividas como religião, como crença, transparência e normalidade, e que a ficção literária, ao mostrar sua construção, sua fragilidade, sua opacidade, pode servir como uma alternativa e um antídoto à crença nas identidades – e não apenas nacionais. É essa a literatura que me interessa, uma literatura desconfortável, cuja força vem da sua fragilidade".

A postagem completa está aqui. Em tempo: Bernardo Carvalho está em Berlim. E uma de suas obrigações de escritor residente é escrever um blog (algo que ele não gosta).
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sábado, 11 de junho de 2011

Álbum de memórias - Canoa Quebrada

Canoa quebrada, no Ceará, é um pequeno pedaço do paraíso. Verdade que não tem o mesmo encanto de Jericoaquara. E eu não sei especificar bem por que. Talvez a distância de Jeri conte a favor. Canoa é bem ali, se estamos em Fortaleza. E quando eu estava ainda bastante doente, minhaPrincesa foi para Fortaleza. E eu achei que não devíamos ficar entre quatro paredes só porque eu não estava bem. Todos eles vibravam de vida, engavetados de tédio. Fomos a Canoa então, bem ali. A viagem foi muito sofrida. Senti cada osso. Mas o que são os ossos, se podemos ainda viver? Se podemos ver um ser muito amado voar? Registrei o voo da Princesa. Quando eu voltar em Canoa Quebrada, prometo, vou voar também.











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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vou pra FLIP



Flip. Desejo antigo. Não sei como é. Mas vivenciar a literatura como uma festa sempre foi uma tentação. Ando em crise com minhas escolhas acadêmicas, já que me roubaram o que de mais precioso eu tinha em mim: a leitura literária. Então vou me dar ao direito de passar um mês no universo da literatura. Vou também para a Abralic falar sobre um escritor que é estranho.  É  estranho e por isso gosto um tanto. Aqui e ali. Joca Reiners Terron.  Vou conhecer Curitiba. Embora. Embora quando pense em Curitiba, penso na Curitiba de Adriane Hernandez, a Driamada, que me fez ver a desumanidade de uma cidade planejada. Poderia lembrar de Paulo Leminski, e sentir Curitiba como a palma da minha pica que não tenho. Mas penso em Adriane. E compreendo bem por que. Qualquer um que morou na casa do Brasil, em Paris, sabe o que há de desumano na “casa planejada”. Para manter o plano, que todo excesso seja contido. Seja restrito ao sótão. 
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Mas vou. E é certo que me deixarei fotografar naqueles lugares tão turísticos. Vou à ópera de arame. E lá me lembrarei de Madri, onde tem uma ópera igual. A daqui, réplica de lá, talvez?  Lembrar daqueles dias de Madri. Ali eu vi Guernica e O jardim das Delícias. E duvido que exista ser no mundo que não se dilacere diante. E eu estava cambaleante nas suas ruas. Como só ficamos quando alguma dor martela. Senti um tanto de dor e um tanto de poesia naquilo que sentia em mim. Noites em claro num bar tão babel - e no sótão. Diverti-me horrores com a minha solidão. Tem um quê de aventura ficar bêbada numa cidade estranha em que apenas um e outro turista como você fala a sua língua ou a língua que agora lhe serve de sua. Algumas experiências são muito libertadoras, e por isso voltam de forma mais constante do que outras. Assim é minha memória de Madri. Mas era da Flip, em Paraty, que eu falavra. E da Abralic, em Curitiba, não?
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A ideia era entre Paraty e Curitiba passar uma semana em São Paulo – a Sampa que eu amo. Mas julho, será? Me deu uma desvontade. Paraty está entre o Rio de Janeiro e São Paulo. E meio de repente deu uma vontade doida de sentir o sol do Rio. O Rio, onde só fui para ser feliz.  Mas agora. Agora eu estou tão institucional. Vou morrer de saudade do meu filho, que não vai. Morrer de saudade do Tatupai, que também não vai. Eu vou. Mas de repente não amo mais São Paulo. Nem o Rio. Nem Curitiba. É assim. É o tempo. O que ele faz conosco. Isso assombra. E ao mesmo tempo é o que nos acalenta. Nos redime.
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terça-feira, 7 de junho de 2011

luz amarela




poeminha é meio água. para ele, tudo é motivo de. e a luz na nossa casa amarela é amarela. amarela como a cadeira. quem diria.
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domingo, 5 de junho de 2011

bicicleta na parede - e sobre o que é bom


a bicicleta foi parar na parede. o bacana é que não está apenas na parede. tatupai procurou, procurou até encontrar a atividade  física que lhe dava prazer. agora já está até fazendo trilhas. acorda cedo aos domingos. ele diz que a paisagem não é de brincadeira - de alumiar. a turma também. há algum tempo a busca pela vida saudável bateu a porta aqui em casa. Poeminha é, em larga medida, responsável pelas mudanças. e nos contagiamos. frutas de todas as cores. refeições balanceadas. e tatupai, pouco a pouco, foi percebendo a necessidade de se cuidar.  sobrepeso, cansaço. logo ele, um cozinheiro de mão cheia. é bom porque os sabores agora experimentam outros sabores. longe da gordura, das massas de todos os dias. é difícil - a começar pelo preço. produtos de qualidade são sempre os mais caros das prateleiras::: ainda mais aqui na mata, em que o monopólio dos supermercados mantém os preços nas alturas. mas não dá para abrir mão. e tenho que agradecer esta "consciência", mais uma vez, às pessoas que tive a sorte de encontrar. ninguém na minha família pensa com amor na alimentação. heranças. de certo modo, comer sempre me pareceu nada mais que uma necessidade fisiológica... até encontrar carla, mariamada, tatupai. não descarto a possibilidade de Poeminha um dia querer viver à base de sanduíches, mas não vai ser aqui em casa que ele vai aprender. todas as noites, eu faço um "resumo" a ele das "delícias" do dia. o abraço apertado. o livro. o filminho. a brincadeira demorada. a ida a  bisavó - e agora a avó que está aqui. o almoço. a bicicleta do pai. o a ida a praça. o jantar - e repito: "filho, a vida é bonita. vale a pena gostar de gostar; você ouviu aquela música em que dancei com você? pluct plact zuum. mamãe chorou porque no tempo dela tudo era falta. agora não, filho. você não tem tudo. nem precisa. mas amor e cuidado não lhe faltam. você sente?" e ele se espalha todo em cima de mim. seguro. inteiro. e às vezes, nesses momentos de ternura, eu lembro daquela longa estrada ao meio dia de muitos desejos. quase nunca satisfeitos. e ainda bem que o tempo passa - tantas vezes ao nosso favor. 

e a bicicleta na parede. a busca pelo saudável. o cuidado com o filho. a parada contrariada, mas necessária. tudo isso faz parte do savoir faire. de um desejo de viver bem - que se concretiza porque a história existe, mas nem sempre perdura. ainda bem. 
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quinta-feira, 2 de junho de 2011

o micróbio do samba da adriana

a música é mais forma do que conteúdo. porque prescinde das palavras. e não há quem duvide disso. porém algumas vezes é preciso abrir exceção para esta lei. quando a novidade é tamanha. desde que ouvi pela primeira vez o micróbio do samba, o novo cd de adriana calcanhoto, pensei nele como uma exceção. e uma exceção muito bonita. vigorosamente bonita. adriana veste-se de samba, invertendo seus sentidos. e o faz dando voz a mulher - uma (in)certa mulher que se apropria do discurso masculino. até aí tudo bem. quem acompanha, sabe que esta apropriação às vezes é vista mesmo como um retrocesso. não neste caso, é certo. muitas cantoras, nos últimos tempos, flertaram com o samba, mas nenhuma com o vigor de adriana::: marisa monte e maria rita talvez sejam os primeiros nomes que vêm à mente. mas tem teresa cristina e martinália, a quem amo desde muito (mas elas não apenas flertaram; elas são o "próprio" samba). só que nenhuma delas incomodou-se de dar voz à submissão da mulher. ou se incomodaram pouco::: o eu lírico reproduziu aquilo lá: a dor, a saudade, o silêncio da mulher. a malandragem, a sedução, a esperteza do homem. o vigor da adriana está neste contrário: aqui a mulher comanda. reiteradamente. música após música é uma mulher forte e linda que comanda seu próprio mundo de desejos. e a singeleza que é seu samba não deixa que essa escolha resvale em nenhum momento para o panfletário. a que canta é a mulher de agora. pode ser eu. e pode ser você, tão lindas para o mundo, no mundo. e não tenho como não me apaixonar por este universo-mulher: pode se remoer/ se penitenciar/ eu encontrei alguém/ que só pensa em beijar. uma mulher liberta dos anseios tão firmemente sedimentados. com tudo aquilo que advém da beleza de ser mulher::: segura livre leve. um risco, claro: te deixo a geladeira cheia e sem promessa/ que findo o carnaval eu tô de volta/ não chora, neguinho, não chora/ ... / tá na minha hora, tá na minha hora. um risco delicioso - com gosto de invenção que veio pra ficar. certeza que qualquer outra cantora que resolva se arriscar daqui em diante no micróbio do samba não vai ignorar a voz - o tom da voz - de adriana. se o homem tiver voz, que se aproprie do que um dia foi a voz da mulher: ... por você seria aquele que você mandasse ser/ nunca chegaria tarde com a barba por fazer/ vem cá, vem ver, vem ver. a voz da tradição está toda aí. mas o tom agora é outro.
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