quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

do blog de paris

hoje, nem sei como, falei sobre o nenhum-lugar na sala de aula. acho que porque quero desmistificar um tanto de coisas. sei lá. arrependi-me logo depois, mas aí já era tarde. como sabem os que por aqui passam, escrevo para nada, por vontade de escrever. e escrevo de modo descontínuo, sobre o que interessa somente a mim, acho. como Paulo Honório diz, escrevo sobre coisas desimportantes e deixo de escrever sobre outras de mais valia (não é exatamente o que ele diz, mas escrevo de memória - a que não tenho).

e talvez para me certificar de que continuo em segurança, lembrei do blog de Paris, que era hospedado no weblogger, que encerrou todas as contas, e com isso lá se foram meus escritos nesse blog, que eu achava bem bonito (mas só eu achava). tinha uma caricatura minha feita pela Lan e era todo amarelo. senti saudade. sorte que tenho o arquivo. o que será daquela "moça" sete anos depois? agora, sou uma senhora. e tenho menos sonhos - e ainda menos certezas. talvez resultado de uma certa aridez da qual não consigo me despregar, por mais que tente.

fiquei, então, com insônia. a insônia que já me fazia falta. leio de forma descordenada o que não parece ter sido escrito por mim. ou parece? em 18 de dezembro de 2006, escrevi esta postagem, que coloco aqui - metade.


Sobre livros e conversas

...

... Dizia a Mari tentando lhe explicar meus recuos: sou de uma geração fundada nas incertezas, nas dúvidas, na incompletude: não tenho certezas - só as das minhas aporias. E acho muito sacal a lógica do sucesso. Em quê? E para quê? Não tenho a segurança de dizer que foi graças a mim que estou aqui. Sou sempre tentada a dizer que foi apesar de mim. Ao menos esses recuos não me precipitam. Demoro, habito, mais em mim. Por muitas vezes só quero poder exercer a contradição: duvidar das possibilidades para não me carregar nem de sonhos nem de ideais. Porque se eles são reconfortantes (profissão, família, dinheiro na poupança), o que preciso ser e fazer para consegui-los é de uma brutalidade imensa comigo. Eu só quero continuar sem saber onde tudo isso vai dar. Acho que é cansativo para quem ouve; afinal só tenho intransigências: não acredito, não sei se vai ser assim, duvido que seja (em outras palavras: sou uma "pentelha", mas tenho algum humor!).

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Daí que os livros são este inatingível de nós. Se quero viver, ou se quero me esconder, se quero tentar, ou se quero negar, se quero planar, se quero; são aqui, com eles, com aqueles que vale, na claridade do assombro, que a vida ganha sentido.

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Azul


Assisti à "Azul é a cor mais quente" numa tarde quente, reconciliada com uma cidade que desde sempre me estranhava. E quanto mais penso nele, no filme, mais gosto. Primeiro, ele me causou uma tristeza profunda, que veio de algum lugar pelo qual todos já passamos, o lugar de um grande amor que, apesar de ser grande, acaba por não dar certo. Não pensei em nenhum amor em especial, mas no próprio decurso da vida, na dificuldade dos dias, na exigência da vida, na falta de perdão do erro. 

É bonito e é bonito. Nada no filme de Abdellatif Kechiche é gratuito, nem mesmo, ou sobretudo, a tão comentada cena de sexo entre as protagonistas, Adèle e Emma. Caetano viu um certo esteticismo, que tem mesmo. Eu só consegui pensar, enquanto assistia, que todo ser vivente no mundo merecia ter sexo dessa maneira. E sim, sexo; sem eufemismos como "fazer amor"; sexo na mais pura carnalidade, capaz de levar ao êxtase e perdurar mesmo quando o amor acaba. E a cena no restaurante, em que as duas se encontram (perdão pelo spoiling), é a prova disso.  

É um filme que não pode prescindir dos seus atores, no caso, atrizes, pois seus rostos são de tal modo violados que chega a causar incômodo. Vem daí a proximidade que logo nos leva a pensar analogicamente. E esta talvez seja a grande tacada do filme. Só uma mente muito encaixotada colocaria o filme no gueto de filme gay, no intuito de diminuir seu alcance, embora a questão da homossexualidade feminina esteja ali o tempo todo. Quando as colegas interrogam Adèle, sentimos  o peso do preconceito e as odiamos veementemente. Dizer que é uma história de amor também não diz exatamente sobre o filme, embora, mais uma vez, seja uma afirmação exata.

Daí que o que realmente impressiona é o fato de, durante três horas, num filme com o elenco basicamente jovem, mantermo-nos presos a sua história, sem sentir o tempo passar. Por mais que enquanto assistia eu não pensasse nisso, somente um bom filme, que se utilize de todos os recursos para tanto, é capaz de nos prender desse modo. É o detalhe, como o azul, como uma cena que remete à outra e à outra, o trunfo deste filme. O detalhe é a sua beleza. 
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sábado, 30 de novembro de 2013

os aprendizados do Poeminha. e as alegrias tantas.



em vão eu tento "domesticar", dar ordem, fazer a distinção entre o brinquedo e o objeto; em geral, um objeto que nomeio como meu; objeto que custa dinheiro, que tem valor pra "mamãe". a fantasia sem freios de Poeminha homogeneiza tudo. tudo é brinquedo, tudo é matéria para um fazer-a-mais.as prateleiras das estantes viram pistas de carro, o saleiro vira mesmo saleiro, e não se sabe de onde ele tirou tanto o gosto de sal, a cadeira de design vira suporte de escrita, a porta da geladeira é uma pista onde imãs amalucados fazem círculos, o depósito de sutiã para lavagem na máquina ora vira garagem de carrinhos, ora enormes peitos que se juntam ao meu peito; a lanterna do pai serve para um jogo de luz que, de debaixo da mesa, ele orquestra e comanda sobre o que deve iluminar ou não. o sofá é o depósito dos copos, é o lugar do pula-pula, por falta de.; a caixa de fósforo acende e o olho brilha; a máquina fotográfica tira fotos mesmo e isso o fascina. as fitas adesivas viram arco-íris que se espalham pela casa. e ainda "obras de arte". 
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daí que devo guardar:::: o tom do seu "acho que sim". "acho que não". e o "sim". e "que foi?" - quando, surpreso, busca entender. ou ainda: "éeee", quando também tenta entender. e enquanto os pés dançam doidamente, diz: "meus pés estão doidos".

ou, depois de pensar por alguns instantes, após alguma idiotice minha, tasca: "por que eu tenho que pedir desculpas "mumigo" quando grito, e você não?". fico ali, então, desarmada, buscando a explicação mais inteligente possível, uma explicação que dê conta de um raciocínio tão completo, tão inteiro, tão filho meu. é isto, filho. deixe não. agora você grita e eu tento lhe dizer que isso não é legal. mas não esqueça que eu também não devo gritar. responda sempre na mesma altura, na mesma justeza. faça valer os dias, pois na vida é preciso um tanto de coragem:::  e aquele dia? depois de perambular pela revistaria do aeroporto, lá no alto, vê um livro e aponta. olha, folheia e diz: "quero este. posso?". pode, sim, filho. pode. e esta é a beleza. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Vanguart


Continuo achando que o Hélio Flanders tem muito sex appeal no palco, apesar do bigodinho ridículo. Bob Dylan é o fantasma de Flanders, mas convenhamos que não é de todo mal ter Bob Dylan como fantasma. No novo álbum, tem coisas do tipo:

vou embora, 
mas vou te levar comigo
vamos juntos pra ver o sol nascer...

E "Demorou pra ser":

(você é a vida da minha vida)

enquanto eu tiver saúde
enquanto eu tiver de pé
enquanto a gente se amar
enquanto a gente ainda tiver
um coração tão cheio
tão cheio de amanhã
vê? meu coração tão cheio
estou aqui

E ainda:

eu vou até o final,
eu vou até te ver
sob águas claras: carvelas
sigo a estrada do sol no céu
em sonhos antevejo teus vales
respiro a américa
repetindo: - eu vou até o final
eu vou até chegar

O título do novo álbum é "Muito mais que o amor", mas tem muito de amor. Talvez não tenha aquela dor de amor quando o amor acaba. E tem trompete e violino, que cria um tom intimista em várias músicas. Faz tempo que percebo que os músicos - aqueles que antes chamávamos de roqueiros - cada vez mais cantam o amor. E mais que isso, cantam o viver-bem, a passagem do tempo, a vontade de que as coisas deem certo. Claro que falo daqueles que estão envelhecendo junto comigo: Arnaldo Antunes, Lenine, Marcelo Camelo etc.. Desapareceu a raiva. Ainda sinto falta do grito, mas agora bem menos. Como eles, ando sentindo vontade de andar descalço, de olhar em volta, de cuidar mais de mim. E aí, vem todo o movimento: músicas no ipod, dois romances pela metade, o livro de 1000 páginas e terça com cara de sexta.

domingo, 17 de novembro de 2013

Anotações para futuras postagens

[1]
Sempre que fico um tempo com minhas irmãs, ou fico muito eufórica, ou muito pensativa. Ou alterno os dois sentimentos. Sempre me assombro com as semelhanças, inclusive físicas. Nestas horas, é quando penso como há muito de "determinação" nas nossas atitudes diante do mundo. Daí, a razão dos dois sentimentos. Já pensou poder colocar toda a culpa na genética? seria a glória. o problema é que não é só uma questão de culpa. Também há o pensamento. E na mesma medida em que vejo, nas minhas irmãs, a configuração dos meus entraves, vejo também as minhas levezas, embora estas, menos. O que será mesmo de mim? O que me distingue? Prometo escrever sobre isso depois.

[2]
Sou tão gastona como a minha mãe. E digo isso sem orgulho. Acho que muito do olhar impiedoso da minha mãe sobre nós advém das necessidades que os desejos materiais impõem. Isso de precisar de dinheiro para comprar. Eu tive mais sorte do que ela no quesito salário. E também tive mais sorte em relação ao que esperar do outro, pois desde muito cedo me veio uma espécie de certeza de que apenas eu deveria ser responsável pelo meu sustento e, consequentemente, pelos meus excessos. Quando eu ainda me orgulhava de ser gastona, eu costumava dizer que era uma mulher cara, com a vantagem de que me bancava. Agora, eu queria ser menos gastona com coisas materiais. Ando sentindo cada vez mais vontade de ter dinheiro para cair no mundo, o que tem sido cada vez mais difícil; agora que sou também uma família.

[3]
Fico abismada como há cada vez menos público para a cultura. Vejo aqui na mostra de cinema que promovemos no campus de Vilhena da Unir - que nunca se pareceu com um campus, mas cada vez mais me parece um depósito de pessoas que não sabem exatamente o que querem - mas sabem com certeza que não querem o que um curso como o de Letras pode oferecer. Mas vejo também em outros lugares. Minha família também vive ao largo de uma certa movimentação cultural que há em Porto Velho, coordenada pela prefeitura e pelo Sesc. Acabei de chegar de lá e senti bem isso. Havia poucas pessoas no I Festival de Arte e Cultura, promovido pelo Universidade. Às vezes, penso que isso não deveria me incomodar, mas incomoda. Sobretudo, incomodam-me os jovens presos aos seus celulares e a uma vida em que o horizonte de coisas cotidianas interessantes parece se resumir a jogos nos seus celulares. Penso, às vezes, que todos estão usando esta prótese, porque no fundo sabem o quanto são desinteressantes, o quanto não sustentam uma conversa, pois não têm nada a dizer a quem está ali do lado. Estou mesmo ficando velha. Mas não o suficiente para esquecer que, embora fosse menos falante do que hoje, sempre tinha o que dizer a quem estava ao meu lado. Agora, o que tenho vontade de dizer já não há mais quem ouça. Também já não consigo alcançar a quem realmente queria, mesmo a alguns a quem amo de amor grande, mas que os dias distantes tiraram a intimidade.

[4] 
Algumas amizades ficam intactas no decorrer dos anos. Ter encontrado a Márcia, o Binho, a Ida, o Manu, nestes dias me confirmou esta grande alegria. Não que seja como antes, mas o fato de ser quase como antes, de ainda haver uma cumplicidade grande que nos permite dizer as maiores besteiras sem nenhum constrangimento, que nos deixa contar antigas histórias às gargalhadas, rindo de nós mesmos, já é uma façanha e tanto. E há também outras pessoas bonitas que me dão muita vontade de investir na amizade, embora eu seja meio ruim em fazer isso, como o Dudu e a Mariana. E ainda aqueles que sempre que vejo de longe, tenho certeza de que se fosse menos desatenta - ou menos tímida nas abordagens - gostaria muito de ser amiga, como Rinaldo e Deivis. E há os que rodeiam todos eles e que me enchem de ternura. São muitos. Carla, a quem sempre acho que deveria conversar mais, Fernando que me parece tão bonito, Ariana, tão doce e tão forte, Joéser, artista tão inteiro. Edinei, que amo tanto de coração. E tantos, tantos outros.

[5]
Chorei quando vi alguns dos "envolvidos no mensalão" entregando-se à polícia. Ao mesmo tempo que precisamos de uma noção tão movente como Justiça, dá um certo terror averiguar como o ser humano é frágil diante de decisões que se vestem sob o manto da justiça (e um caso de foro íntimo nestes dias só aumentou minha perplexidade!). Acho que levaremos muitos anos para entender o que realmente aconteceu, mas tenho a firme convicção de que não é nada disso que a grande mídia tenta nos vender. Joaquim Barbosa não é o salvador da pátria. E nestas horas, penso nas nossas profundas mesquinharias individuais, nos nossos grandes abismos, e só consigo pensar que tudo é obra do humano, que por sua própria natureza não tem como ser salvador de nada.

[6]
O livro que estou lendo é O remorso de baltazar serapião. Ontem, depois de umas cinquenta páginas, no ônibus, tive que parar. Era terrível demais o que lia. Como mulher, senti todos os meus "buracos" expostos, sob perigo de serem violados. Que livro é este, jesuscristinho? Que condição é esta, a nossa? Chorei choro mansinho. Não queria assustar ao Poeminha, que dormia tranquilo ao meu lado. Fazia tanto tempo que um livro não fazia isso comigo, de me fazer chorar, assim, sem vergonha nenhuma, sem nenhum melodrama. De me obrigar a parar porque não tinha condições de continuar.

[7]
Tatupai acaba de me ligar. Diz que, na ilha, sentiu uma saudade danada de nós dois. De mim e do Poeminha. Ficou imaginando que se algo acontecesse conosco, ele estava na condição de não ter como saber. Penso que ele sentiu algo próximo ao que sinto a cada vez que lembro que fui para a mesma ilha sem levar o remédio de alergia do Poeminha. Faço mil cálculos mentalmente tentando calcular se, diante de uma crise, teria como salvar meu filho sem o tal remédio. E a cada vez vejo que, devido à distância, não tinha e me mortifico diante do ser avoado que sou. É loucura. Mas vou dizer que é loucura advinda de um sentimento de amor desmesurado. E quem tem a sorte de ter amores desmesurados? Pois é assim.
*
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Sobreviveremos todos, não tenho dúvida. Talvez pela lógica reinante no mundo, sejamos uns perdedores, uns avoados diante das ordens práticas do mundo. Para mim, somos uns sonhadores. Da estirpe dos que não se desgarram dos seus sonhos diante das monstruosidades. Da estirpe dos que, diante de janelas fechadas, consegue tirar dali alguma beleza.
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domingo, 10 de novembro de 2013

Sucumbir e atravessar


“O homem é uma corda, atada entre o animal e o
além-do-homem – uma corda sobre um abismo.
Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso
olhar-pra-trás, perigoso arrepiar-se e parar.
 

O que é grande no homem, é que ele é um passar e
um sucumbir.
 

Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como
os que sucumbem, pois são os que atravessam.
 

Amo os de grande desprezo, porque são os do
grande respeito, e dardos da aspiração pela outra
margem.”


Friedrich Nietzsche

(citação recolhida da belíssima tese de Daniel Abrão, sobre Catatau, de Leminski)


a cada vez que volto de viagem, volto grávida de desejos, de mínimos desejos; todos eles envolvem pequenas mudanças no dia-a-dia. nem eu mesma levo a sério essas miudezas, mas por dias e dias carrego-as comigo. é o de sempre::: assistir a todos os filmes da extensa lista já feita e continuar a fazê-la de modo diário, de forma amorosa. e ainda ler a enorme pilha de livros urgentes a serem lidos. dividi-los por prioridades, talvez. mas prioridades que digam respeito a algumas urgências, como ler mais hilda hilst, valter hugo mãe e, ainda, ler o novo livro de michel laub, quando ainda não consegui ler nenhum dos anteriores, e este antonio geraldo figueiredo, de que todos falam agora. mas, sobretudo, eu sinto vontade de voltar a ouvir música com a mesma constância de antes. e por isso, e por outras razões, itamar assumpção não para de tocar na nossa vitrola.

assim, desejos mínimos. como mínimo é o tempo. comecei semana passada um movimento que talvez me mantenha próxima a esses desejos mínimos. e comecei pela parte mais difícil: a leitura de um grande livro, de mais de mil páginas. não sei se irei adiante.  reluto em abandonar a sensação de beleza que me acompanha. começou o período das chuvas. e afora que o mofo se aproxima violentamente dos livros, gosto muito das chuvas, do ar brumoso das chuvas. não sei. sinto o gosto de estar reconciliada com a vida que agora acontece, embora existam tantas aparas a fazer. que bela concepção de sucumbir, esta de Nietzsche. e a ela me entrego metade. 
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terça-feira, 5 de novembro de 2013

kubrick no mis

Eu só tinha um parâmetro de comparação sobre a exposição da obra de um cineasta.  Em 2006, vi uma exposição sobre Pedro Almodóvar na Cinemateca Francesa - que até agora me parecia insuperável. Mas ao ver a de Stanley Kubrick, neste ano, no MIS, fiquei tomada por uma emoção intensa. 

Diante da exposição, e dos filmes, de Kubrick, é fácil perceber o cinema como uma arte que ergue tijolo a tijolo novos mundos, como se fossem do nada, embora sejam tão semelhantes ao nosso. Apresentam, no entanto, uma diferença radical, porque regidos por um gesto autoral que faz de cada detalhe um material para se pensar. Há uma assinatura Kubrick; uma assinatura que nos confronta, em geral, com o que há de mais inominável no humano.  E o fato de cada um desses mundos [desses filmes] ser rigorosamente distinto um do outro, é o que mais impressiona. Difícil um cineasta que tenha feito filmes tão distintos uns dos outros e que, ainda assim, seja (re)conhecido em cada um deles. Fiquei um pouco tonta. E ao mesmo tempo, inteira alegria. Nos espaços que foram montados para cada um dos filmes, há um rico material: roteiros originais, objetos, câmeras, muitos vídeos e fotografias; verdadeiras paisagens fílmicas. O fetiche do objeto. E na passagem de cada espaço, cortinas pesadas de veludo escuro. Ao fetiche do objeto acresce-se o fetiche do gesto, levando-nos por um labirinto de sensações, de imagens difusas dos filmes, das sensações provocadas por elas.  

E só uma criança para ver com toda a inteireza o quanto a marca da violência em Kubrick é também lúdica. Poeminha, que havia ficado muito entediado na exposição de Lucien Freud, no Masp, entrou e saiu das salas da exposição interagindo com tudo, com uma curiosidade sempre crescente.









sábado, 2 de novembro de 2013

daqui

(escrito em 28 de outubro)

a vida faz e desfaz. estou aqui em sampa com a familinha enquanto aquele que por diversas vezes cuidou de mim na longa infância está em algum lugar inominável, inabitável talvez, sem que eu saiba se ele vai voltar para que possamos, juntos, pagar a promessa que ele fez, quando achava que eu estava prestes a morrer. não. não. tenho um blog em que a tônica é o modo como interpreto a minha vida e os acontecimentos que fazem parte dela, mas jamais colocarei "luto" na minha página de facebook para correr o risco de "curtirem" com a minha dor. minha dor não é para ser curtida. é para ser vivida por mim. e só por mim. o homem que me ensinou a ouvir histórias não é, para mim, uma estatística. não. as estatísticas nada têm a ver o humano. a dor é íntima. dói aqui onde ninguém pode alcançar. onde não há plateia.

às vezes, me pergunto se toda esta gente sem face, no momento de cortar os pulsos, colocará uma foto minuto antes? e todos esses sorrisos sem alma ainda saberão sorrir longe das próprias câmeras? apesar de me identificarem como um ser alegre, e eu mesma dizer tantas vezes como cuido desta alegria, desconfio muito de quem quer pintar a vida de rosa todo o tempo. o que diabo as pessoas estão fazendo com as suas vidas? que pessoas são estas com as caras enterradas em seus celulares? com suas mentiras alegres? com suas tristezas sorridentes? com seus recados coletivos de amor ao próximo, trancafiados em suas redes de segurança?

não. não. prefiro quem sente. prefiro tocar naquele ponto em que nada parece fazer sentido. prefiro ter medo de mim mesma. prefiro assumir que meus desvãos são tamanhos. prefiro dizer que cada dia é uma negociação. comigo. com o outro. com a vida. com o que desejo. com o que tenho. com o que perco. com o que ganho. pois é assim. de tudo até aqui tenho certeza das minhas tentativas. somente das tentativas. e dos encontros. nada é perfeito. nada está exatamente no lugar. nenhum comercial de margarina. sei que posso perder tudo, como já perdi outras vezes. e por outro lado, sei também do esforço. da vontade. da cumplicidade que tenho com algumas pessoas - que tenho com Poeminha e com Tatupai, especialmente. se não vou chorar lágrimas públicas, não é porque não posso mostrá-las. é porque estarei bastante ocupada com o que as provocou. é também por isso que não escrevo neste blog tanto quanto gostaria de escrever. por diversas vezes, enquanto faço algo que considero que vale a pena ser compartilhado, prometo-me que escreverei aqui depois, mas a força da vivência acaba sendo maior do que a da partilha. não é mais importante viver? aprender a cuidar da vida?

na tarde em que fiz 39 anos, assisti a um musical infantil. foi e não foi bonito. porque, às vezes, a vida é assim. Poeminha sentiu a tal ponto. tudo. e dormiu no final. em algum momento, agradeci minhas lágrimas sinceras. só podemos ver a beleza, quando algo em nós permite que ela exista. estranho, não? posso não hoje explicar. também não posso fugir de um certo melodrama. prometo que é só hoje. daqui a pouco, vou agarrar meu filho pela mão e ver com ele a arte de Lucien Freud. poderia levá-lo ao zoológico, e vou me sentir culpada se não conseguir levá-lo (sempre há quem nos diga o que não é certo, o que deve ser feito!). e por outro lado, se eu pudesse pedir algo por ele, eu pediria aos deuses que meu Poeminha achasse mais importante admirar aquilo que é feito pelo humano do que gostar de ver animais enjaulados. porque talvez não exista nada mais importante na vida do que uma certa abertura para o mundo, uma certa curiosidade, um certo cuidado, um certo desejo que transcenda a miséria humana,  seja a nossa, seja a dos outros. 
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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

miolo mole

 branco céu niemeyer

deve ser meu miolo mole. mas eu defendo que devemos ter um pouco de "miolo mole". é o único modo de trapacear (no sentido barthesiano, claro) com a vida. de não encaretar de vez. de não ficar cada vez mais chata. porque o cotidiano - não a vida! - é muito avaro. apaga a inteireza de muita coisa. e isso não significa viver num eterno adolescer. estou cada vez mais empenhada em cuidar dos meus 39 anos, que farei daqui a dois dias. mas tenho pensado cada vez mais numa vida que não deixe para trás os desvãos. não nos deixe abandonar a vontade de cobrir a vida com hiatos. 

pensava nisso e em outras bobagens enquanto via o Vanguart no Sesc Pompéia. estava numa alegria inteira. há algumas semanas decidimos que viríamos a São Paulo para aproveitar parte da Mostra de cinema - o hiato. pela primeira vez, toda a familinha veio perambular por aqui. sempre viemos separados, mas nunca nos faltou vontade de virmos juntos. então, viemos. e aqui nos juntamos com outros amigos. manaMácia chegou segunda. domingo passamos o dia com Marcos, Margarida e Pedro. foi um dia muito bonito. bonito mesmo. falamos bobagens, demos muita risada, vimos a ópera de Pequim no Sesc Mariana, almoçamos no Lelis, um restaurante maravilhoso, com jeito de cantina. e depois bebemos até ficarmos bêbados num barzinho perto da Paulista. 

noite dessas assisti ao filme Antes da meia-noite. E passei vários dias num banzo terrível a cada vez que pensava nele. neste último filme da trilogia de Richart Linklater, senti todo o peso não exatamente do "antes", mas do "depois". Em Antes do anoitecer, eu já havia implicado um pouco com o papel de Celine, personagem da atriz Julie Delpy. Achei à época que a consciência política lhe havia deixado meio chata, com todo aquele papo de militante francesa (pardon!). Mas aí o fim do filme, naquele estúdio parisiense, com aquela música, levou para longe essa implicância. E neste, sem redenção, achei que a passagem do tempo encaminha a mulher para um plano devastador, do qual escapar é quase impossível. como resistir, é o que penso desde lá. como não ser Celine? sim, porque sua inteligência, seu humor, sua ironia, continuam lá, mas ao mesmo tempo não estão. e o que resta não me agradou. e não me agradou justamente porque estas questões têm passado por mim há muito tempo. há muito tempo venho numa batalha para não deixar o cotidiano me engolir. 

e por causa do filme, e porque comentávamos sobre o fato de como as mulheres distribuem "senhas falsas" num início de namoro, tatupai me disse o que já desconfiava há tempos::: que eu continuo tendo as características pelas quais ele se apaixonou, mas... só que mais chata! (sim, sim, tanto eu como o Tatupai praticamos bastante o esporte perigoso da sinceridade). e eu não tive como discordar. pois hoje a vida me tem muito mais peso. há cinco anos, quando nos conhecemos, eu tinha uma carga de responsabilidade muito menor. sei que há aí toda uma discussão de gênero. e aqui falo muito superficialmente apenas das consequências. se eu for me ater às causas, seria inteira Celine. ela está certa. as reivindicações são justas. e por isso me doeu. ser mulher doi.

e por isso estou aqui. hiato. miolo mole. mostra de cinema. amigos. familinha fora de casa. retardar. ou ao menos trapacear com o inevitável.   
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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Noite de Bozo

(postagem muito antiga, de um blog meu que não existe mais. me fez pensar no que ainda sou eu e no que não é mais possível ser. nesta noite em que, insone, preciso dormir).



Chego à casa que não é minha com muito sono; e a insônia vela por mim às três da manhã. No email, lixos eletrônicos e um tanto de palavras. Alguma ausência é sentida, mas as presenças reduzem tudo a algum ponto que logo deixarei para trás. Tem email de editor pedindo o novo endereço. Fico pensando que bom seria se isso fosse comum, mas é só uma publicaçãozinha de nada. Certo, a revista é poderosíssima, cheia de exigências porque passou pelo crivo do céu das publicações – o tal sciello. Mas não passa de uma publicação que quase ninguém lê. É o ramo universitário se alimentando de si mesmo – parasitas, talvez.

Queria dizer tanta coisa – à la Rousseau que se confessava para provar que os outros é que eram uns filhos da puta. Mas eu queria mesmo era ser uma máquina de escrever. Tac tac tac! Eficiência à toda prova: quinze artigos no doutorado; outros tantos no porvir; mas sou assim::: lenta, desastrada, absorta num sem fim de devaneios. Parece bem “muderno” ser assim; estar inserida e ao mesmo tempo rir das bobagens da internet onde todos são leitores, veem filmes “cabeça” e amam “meu pai, minha mãe e meus irmãos”. É que a miudeza é apenas miudeza mesmo::: a mediocridade cotidiana lustrada de frases floreadas da qual não escapo nem sei se quero escapar.

Nesta noite insone, lendo e escrevendo essas miudezas, queria mesmo era ter a barriga das francesas e a bunda das brasileiras; não pensar em publicações nem em nenhum outro fastio pseudointelectual. E, no entanto, por ora me contento com uma cerveja enquanto a insônia me vela. Quando ficar ainda mais velha, desistirei de vez da barriga das francesas e assumirei um ar de intelectual entediada; algo que não sou::: nem intelectual nem entediada. É cada vez mais fácil representar o que não se é. Quando o corpo escapa e restam as palavras escritas tudo é, antes, ficção. Fácil assim::: decorar três ou quatro frases sarcásticas daqueles autores que todos conhecem e nunca leram; falar mal de outros dois que todos amam; e a receita estará pronta para ser degustada em alguma festa em que todos tristemente se assemelham. Afinal, fazer parte da má-fé ordenadamente posta na mesa é o que mantém o fluxo cultural em dia.

Acho que hoje sou Bozo [não o do canal de TV que nunca vi, mas o de Beckett]. Começo desde já a treinar o ar enfastiado que logo mais representarei.
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terça-feira, 17 de setembro de 2013

mariana e o futebol na praia

como pode, não é mesmo? eu ia escrever qualquer coisa triste aqui, resultado do acúmulo, do não saber como fazer em algumas situações. aí, mariana escreveu. escreveu tão bonito - algo que ela pensa que partiu de mim, mas que, na verdade, partiu dela. da beleza que transparece no seu jeito inteiro de ser. ela sabe, porque já lhe falei várias vezes. mas não custa repetir::: mariana me devolveu vários sentires - eu que andava tão sem acreditar na possibilidade de uma troca generosa. então, depois de ler o que ela me escreveu, fiquei fazendo conta de alegrias, buscando aqui e ali.

enquanto isso, procurava, de fato, algum livro sobre Brecht, porque eu sabia que tinha um em algum lugar neste espaço que ora chamo de escritório, ora chamo de biblioteca (e desconfio que chamo de escritório porque me envergonho da palavra biblioteca, como se fosse pedante dizer que tenho uma "biblioteca" em casa). e de repente, me entreguei inteira a esta alegria de ter, sim, uma biblioteca pessoal, individual, intransferível, no sentido de que quase tudo que tem aqui diz respeito a mim, só faz sentido a partir desta junção de variados temas que me interessam, dos quais eu sei ou gostaria de saber. o que explicaria um livro sobre teatro, bem aqui?

e depois de encontrar o livro, pensei ainda mais longe e lembrei de um das tardes em que estava em Porto de galinhas neste ano, quando fotografei um jogo de futebol na praia. dia de semana, à tarde, e todos aqueles jovens jogando futebol na praia. tirei várias fotografias, mesmo sem saber ajustar direito o foco. estava nublado e claro que a qualidade não ficou muito boa. não importa. registrei. e é outra alegria, mais uma. 

"obrigada, mariana, por ter me feito estar com um punhado de sentires esta noite. Com a alegria, sobretudo". e lembrar "do gostar do que se faz. Do querer o que se faz. Do se encantar com as coisas". é bonito demais, não? e é dela.

e com o futebol, novamente, à beira do mar:::









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sábado, 14 de setembro de 2013

cenas (ainda) de umas férias I





demorei muito pra chegar até aqui, neste momento de delicadeza. entre minha avó materna e meu filho, vivi muitas Milenas. algumas das quais tenho muito apreço e outras que tenho até mesmo uma certa vergonha. de todo modo, acho bonito este percurso, que indica um sem-fim de mudanças. o que não mudei, todas os dias, bate à porte. mas o que mudei, idem. 


arev é um amor antigo e duradouro. quando nos conhecemos, só havia em nós uma alegria genuína no meio de um grande deserto. éramos quase sozinhas no mundo. mas tínhamos a certeza de um estar no mundo com inteireza. sua risada, seu despudor, sua coragem de lidar com o mundo, me inspiram desde lá. então, sair de uma cidade a outra, 22h, só para poder passar umas três horas com ela (com eles), não é nada, perto do que ela diz para meu coração. 


descobri com certa tristeza que o mundo que a vida toda meu pai habitou não era um mundo de sonhos, como imaginei desde menina. por um longo tempo, reconstituí a minha maneira este lugar, gastando longas horas na criação de outros mundos, sendo neles tudo que eu jamais poderia ser na vida fora dos sonhos. fazia o que eu imaginava que ele fazia. e ao indagar que lugar é este tão cheio de sombras, o que quis arrancar dele foi este sorriso, quase envergonhado, que de algum modo deve lhe dizer como em nós há um amor infindo por ele.



não é pouca coisa o que trago em mim em relação a elas.  é um amor que sabe que é amor. que é todo sentimento. eu conto uma historinha particular sobre o fato de sermos tão unidas. não cabe aqui. sei que somos. sei que de modos diferentes cada uma salvou minha vida em determinado momento. e sei que me amam. e não me venham com história:::: saber-se amada é meio caminho... 
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e em tudo está Poeminha. sempre um agradecimento por senti-lo assim, tão amoroso. meu maior desejo é que ele continue aberto a tanto carinho. meu filho vai fazer 04 anos, e desde lá não há um só dia em que eu não bendiga o seu estar no mundo ao meu lado. se ele se fizer assim, amando os que estão ali, amando-o também, já lhe terei dito muito do que eu mesma penso ser o mais bonito acerca da vida.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

4º silic


De bandeja eu te daria
Se ao meu alcance
O lance da alegria
O presente deste instante.



Os maiores hiatos do "nenhum lugar" têm a ver com completude, com inteireza. Há longos intervalos que, de certo modo, não precisam de registro, pois ficarão em mim de qualquer jeito. Ou do jeito mais bonito para uma desmemoriada como eu: como lampejos. Lampejos de boniteza. 

Foi assim com o 4º Silic - Simpósio de Literatura Contemporânea. Acho bonito como chegamos até aqui - num evento que já não me recordo exatamente como começou. Sei que Rosana teve a ideia, sei que desde o primeiro foi uma lindeza. Sei que a 2ª edição foi super emocionante porque, afinal, eu era ali uma sobrevivente. E o 3º foi o que pode ser chamado de sucesso. Incrivelmente bem pensado. Porém, eu não queria, dessa vez, a mesma competência. Queria de volta o afeto. De volta, o querer fazer. E a alegria da realização. 

Senti uma vontade imensa de reunir pessoas que eu amava de verdade - a quem o Silic dizia respeito. E tenho a sorte de ter amigos muito sabidos - e que por isso compõem a história do Silic. Desde a escolha do tema, que, nesse ano, deve largamente ao pensamento de Marcos::: "as intermitências da crise", ficou bonito. Foi realmente uma grande emoção: Marcos Siscar, Marcio Renato, Marinalva. Binho, Evando Nascimento, Mariana, Rômulo, Dariete, Berenice. E ainda teve Florência Garramuño, que não conhecíamos, mas que conquistou a todos pela generosidade com que aceitou a longa estrada. E teve o sonho de receber Luiz Costa Lima, que ainda que irrealizado tocou o coração de todos nós. Tudo foi uma grande conversa, um sem-fim de risadas e cumplicidade. Pareço descrever um evento acadêmico? pois foi assim, assino. 

Aconteceu, ainda, o 1º Seminário Interno do Gepec, com a presença de professoras convidadas, Walnice e Simone, que foram tão generosas. Aliás, não faltou generosidade. Mergulhamos todos numa rede de afetos. Também no Seminário de Integração houve muito a dizer e muito a ouvir. E o que foi aquela conversa com o Marcos e o Evando, orquestrada por Mariana, Rômulo e Dariete? Que lindeza! E a ansiedade de Tatupai e Neto para vencer a distância de Costa Lima e nós? E a manhã de sábado com tanta gente para ouvir o Binho falar de um livro de literatura contemporânea? E a tarde, muitos ali, com "Linha de passe"? E o discurso de Marcio sobre nós? Como ele pode achar que pode pegar mal, se o seu coração todo estava ali, deixando-nos atordoados de amor? E Marcos falando mais de uma hora e meia com a sua voz de quem sabe tanto sobre o que fala quanto sobre o afeto? E Evando dizendo que havia sido o convite do Silic que o havia inspirado a escrever um texto tão longo? E Celso, todo inteiro a ofertar sua amizade na beleza do seu drama? E todos eles, aqui em casa? Mais de 100 alunos vieram de Guajará-Mirim, Porto Velho e Tangará da Serra, depositando em nós a alegria de uma grande jornada. Digo assim, sem nenhuma vaidade, com o sentimento de quem passou vários dias com o coração na mão, entregando-o a quem o merecesse. As noites aqui em casa foram longas. Um banquete, sempre. Tatupai cuidando de tudo. E Poeminha perambulando todo livre, encantado entre a multidão, com suas mil balas na mão? E os dias, também. Mariamada ficou aqui e tê-la na minha casa pareceu-me de uma beleza incomum e ao mesmo tempo tão natural. É isto: havia um lastro de história e, com isso, um lastro de amor.

Daí porque não posso cair na tentação de descrever um ou outro acontecimento. Foram tantos. E foram todos muito especiais. E ainda assim caio. Se me perguntarem por que insisto tanto na alegria, a resposta está em momentos como este. como este: "eu gosto tanto de você".
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