Olga dias desses escreveu que não gosta de gente deslumbrada. Eu fiquei meio cabisbaixa, porque eu gosto muito da Olga. Gosto quando ela aparece por aqui. E quando eu apareço por lá e tem algo bom de ler e de sentir. Então, eu pensei em dizer que tenho deslumbres em mim. Uma forma de abrandar a palavra chã e mal vista = deslumbrada.
Tenho deslumbres. e estou convicta de que a vida precisa de deslumbres. ar blasé, pra quê, se quase sempre este vem acompanhado de um fastio da vida? de uma falta de curiosidade? de tesão? falta sede neste mundo, Olga. Falta gente que sinta cócegas na barriga. Eu mesma, vez em quando, ando tão sem sentimento. E fico tão infeliz quando isso acontece::: quando não há deslumbres em mim, quando não desejo.
Sabe do que gosto? Quando fico maravilhada. Quando faço alguma merda que me satisfaz. Quando meto o pé na jaca, sabendo que não devo. Estou mais ponderada, é vero. Mas porque estou tentando ver lá na frente. Lá na frente, cheia de deslumbres com o porvir.
Olga, não deixe de gostar daqui por causa disso. Não deixe. Eu tenho deslumbres quando leio você. Fico doidinha me perguntando como você consegue::: ler tanto, ver tanto, escrever tanto. E penso que é porque você vive cheia de deslumbres.
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