quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Para o filho





Na delicadeza da hora de dormir, Poeminha, você se vira para mim e diz: "Mamãe, te amo". E antes que eu morra de emoção, você se vira para a Galinha pintadinha, que está ali para dormir com você, e, com a mesma voz doce, diz: "Piu-piu, te amo". Tem nada não, filho. Tá valendo. Dividir o seu amor com a galinha pintadinha não é nada, se você também me ama.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O espirito da prosa, de Cristovão Tezza

Numa viagem para Campina Grande, dei conta de ler dois livros e boa parte de um outro. Morar na mata cria distâncias medonhas: 30 horas de deslocamento. Li Faca, de Ronaldo Correia de Brito e O espírito da prosa, de Cristovão Tezza.  Estou tentando escrever sobre minhas leituras. Tentando enquadrar no sistema as minhas leituras e a minha escrita. Mas isso é assunto para outra hora. Por agora, fico com O espírito da prosa, de Cristovão Tezza. 

É um livro casmurro. Um livro de quem passou a vida tentando descobrir por que alguém vira escritor e apenas, agora, ainda que com desconfiança, parece ter encontrado alguma resposta. Tezza, muita gente sabe, é o autor de O filho eterno, que há uns três anos causou alvoroço no mundo da crítica, levando todos os grandes prêmios na área. Também senti um certo  alvoroço e, modéstia às favas, embora ainda estejam em minha gaveta, penso que escrevi algumas das palavras mais acertadas acerca do livro. Mas isso também é assunto para outra hora. 

O espírito da prosa. Se os críticos se detiverem sobre esse livro, Tezza vai levar umas boas cacetadas.  Não é um livro pra agradar. Com a mesma virulência com que fala de sua formação, com o mesmo descrédito que dá as suas primeiras tentativas de escrita, ele disserta sobre a literatura brasileira, sobre o que a constituiu, apontando como se sentiu sempre muito distante das grandes verdades de nosso tempo. Um inadequado. Abarca, para si, uma vontade de realismo. Ou um realismo. E diz que foi assim que pôs em pé suas personagens e sua literatura.  É um ensaio não sobre a literatura, mas sobre como ele, de forma persistente, colocou-a em sua vida.

Concordo com ele num ponto que, ultimamente, volta e meia vira pauta de discussão no meu entorno: a adesão irrestrita à ideia do apagamento do sujeito - e da representação - na literatura funda-se sobre uma inconsistência. Há muito o que se discutir sobre isso, sobretudo se pensarmos sob que bases esse pensamento foi constituído. Talvez ele tenha razão, e aderir sem nenhuma discussão a esses dois apagamentos seja de fato negar toda a história da prosa. Para pensar.

Agora dá para entender um pouco mais como ele conseguiu escrever um livro como O filho eterno. Há uma sequidão nas suas escolhas, e mesmo uma tristeza modelar. A mesma que compõe a sua literatura que, claro, não se resume apenas ao seu hit parade, mas a outros que igualmente valem a pena serem lidos. Eu aponto apenas três que já li: O fotógrafo, Juliano Pavolini e Trapo
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

o verbo "botar"

Bráulio Tavares no SELL
bráulio tavares veio aqui em vilhena. para o sell - evento acadêmico organizado pelo departamento em que trabalho. bráulio tavares me emocionou muitíssimo. que me desculpe o durval, autor do belíssimo livro "invenção do nordeste", que estou lendo, e talvez não concordasse com o que vou dizer, mas o "arrastado" do sotaque nordestino é bonito, é bonito, é bonito. talvez eu ache porque sou de lá, deste lugar fantasmático::: Nordeste. fiquei ali ouvindo, emocionada, o bráulio, por diversas vezes, usar o verbo "botar", quando normalmente se usa "colocar". havia musicalidade no seu jogo de palavras. no seu jeito contundente de dizer o que dizia. como dizia.

bráulio veio. e cantou numa manhã que seria cinzenta se não fosse a sua presença. e falou do ofício de escritor. falou do ofício da vida - a vida quando se tenta unir o que se quer e o que se pode. e eu, tão abestalhada fiquei, nem me importei em chorar ali, no meio daquela moçada. é porque bráulio me lembrou que na vida é preciso ter alegria, é preciso estar junto de quem inspira, de quem diz. e este aprendizado não tem preço. ele fica em nós pela vida inteira. e nos serve quando daqueles dias duros.

* Percebi, espantada, como escrevi pouco no blog durante este ano. Pouco mais de 10 postagens. E no meio do espanto, prometi a mim mesma que vou voltar a escrever com assiduidade. Muita coisa boa tem voltado, sobretudo dentro de mim.