quarta-feira, 30 de julho de 2008

Noite de domingo

Volto para casa sem saber exatamente o que fazer com o que acabei de ver e por isso me sento aqui para escrever. Saio da lan house onde fui enviar aquele texto do dia 27impreterivelmente e vejo centenas de jovens na calçada do posto de gasolina em frente; e carrões que tocam um putzputzputz infernal numa altura abominável. As moças com seus cabelos de escova decerto esperam encontrar ali o seu príncipe, salvo aquelas que já os têm; todos com aqueles sorrisos que me parecem meio abobalhados; até os carros parecem sorrir abobalhadamente. E procuro uma música no meu ipod e escolho rápido the doors na tentativa de passar ao largo; e me vem à cabeça que eles nunca ouviram morrison e que talvez nunca vão saber o quanto de dor pode sair de uma voz e de uma guitarra; e também nunca leram e nunca vão se interessar por artaud, nem sentirão aquela loucura e de como ela pode ser benéfica neste mundo tão absurdamente imbecil; nem nunca viram um filme de herzorg para deixá-los com este gosto amargo na boca que agora sinto – uma sensação de inutilidade: woyzeck enfiando a faca no peito da sua amante quando é ele mesmo que sente toda a dor do mundo no próprio peito. Sobre eles por acaso lerem Büchner nem ouso pensar. Büchner que aos 23 anos já era um revolucionário, já tinha escrito a morte de danton e woyzeck e já tinha morrido devido a um miserável tifo.

A imagem não me sai da cabeça porque sinto esta inutilidade: hoje eu vou passar o resto da noite preparando aula para jovens como estes; já separei todos os livros do Machado que talvez possam interessar, embora eu saiba que não interessam; e vou ficar aqui espremendo o cérebro atrás de idéias mirabolantes que me façam falar menos sozinha... e eu sei que nada disso vai adiantar. Entendam-me: eu até acho que estes jovens devem ser bacanas, devem saber um monte de coisas que eu não sei nem nunca vou saber; o que me incomoda é a facilidade com que eles se entregam ao que existe de mais consumível, de mais idiota, como este putzputzputz infernal que nunca vai chegar a ser música. Com certeza, o abismo é entre mim e eles – e porque o abismo me espanta eu os prejulgo violentamente sem nunca ter falado sequer com um deles.

Eu não sei que porra de mundo é este que se você ouve the doors, lê artaud e assiste herzorg acaba inevitavelmente se sentindo como eu me sinto agora: distante e diferente, embora eu queira ver batman e goste de tudo quanto é filme inspirado em HQ e goste de umas cafonices e de ver bobagens na internet.

Talvez a imagem não me saia da cabeça porque eu tenha mandado aquele email e eu esteja falando sozinha não apenas para estes jovens, mas para a pessoa que eu já pensei um dia que poderia até ler meus pensamentos. E de repente eu sinta que não me reste nada mais a fazer a não ser dizer que o outro decida a minha vida quando eu já decidi. No entanto, eu sei que teria voltado para casa tranqüila, mesmo depois de ter enviado aquele email, se não fosse a imagem daqueles jovens no posto de gasolina, cujos rostos eu sou incapaz de olhar com imparcialidade. Tudo que sei por agora é que vou tomar a sopa que fiz ontem e lê mais algumas páginas do livro de artaud até que fique bem tarde e eu me dê conta de que preciso voltar a preparar aulas. Realmente, acho que é a porra do meu mundo que é mesmo antigo; embora eu ache que tudo está no lugar, mesmo que eu sinta esta inutilidade e mais alguma coisa do porvir.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Porque os dias

Continuo sem fone em casa. Preguiça terrível de procurar uma tal de net sem fio, que dizem que existe. Dor de cabeça também a mil. Ou estou ficando hipocondríaca ou estou doente mesmo. Passo a mão no pescoço, que não pára de doer, e sinto uns caroços. Sinto mesmo? e ainda sem convênio. Não consigo falar com o sindicato da universidade que cuida disso. E eu não sei viver sem convênio médico. Fico doente só de pensar.
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O anjo ruivo partiu. Veio e ficou uns dias comigo antes de ir de vez para Paris. Quatro meses sob o sol de Porto Velho deixaram-na com vontade de fincar pé por aqui. Foi uma emoção. Até aprendi uns pratos franceses. Agora é arrumar cobaias. Choramos e rimos bem alto, como manda o figurino do amor. E vimos filmes e ouvimos muita música. Porque música brasileira encanta o mundo. E modéstia às favas, meu acervo não é de brincadeira. Fiz um texto para ela que qualquer dia posto aqui.
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E o amado veio também. 15 dias de beijo na boca. Se bem que às vezes rareou. Eu estou esquisita. Ou deixei de ser esquisita. Comecei a achar - de novo - que bom mesmo é beijar na boca, fechar os zóinhos e ficar vendo o mundo passar. Também fiz texto sobre a vinda do amado. Tudo nos arquivos do computa, trancadinhos, porque acho que perdi meu pen-drive, que chamo até hoje de clé, porque tinha comprado em Paris. Sei que foi bom. Dias divertidos; mas como já faz quatro dias que ele não dá a graça não estou com vontade de dizer dos dias que foram.

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Fomos para o niver da princesa em Porto Velho. A noitada aí embaixo faz parte. E teve muito dengo porque minha princesa já é um mulherão, mas como a carreguei muito no colo, fiz muito mingau e vitamina pra ela, porque a danada demorou a aprender a comer coisa sólida, então olho o mulherão e vejo minha bichinha de pernas tortas e respiro saudosa do tempo em que tomávamos banhos juntas horas a fio com ela escanchada na minha cintura; água e riso pra todo lado.
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E como eu sou mulher de cumprir as promessas que me interessam, os últimos três dias com o amado foi na Chapada dos Guimarães. Aquilo é bonito demais. E que companhias::: Júnior e Risele me fazem ter vontade de ser mais jovem ou ter mais perna ou mais coragem para sair pelo mundo como eles: mochilão e arte na bagagem, muita pinga e muita birra, porque birra no namoro é bom, já que depois vem a tal das pazes. Eu é que não gosto. Não sei fazer o jogo, fico irritada de verdade; mas para quem sabe, é bom. E teve tanta história. Até pegada de onça rolou. E aqueles abismos todos; fui me entranhando de perfume de mato, de som de bicho. Vontade de ficar por lá.
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Mas a vida mesmo agora é aqui. E eu, tanta vontade de ser louquinha, gasto horas cuidando da casa. Sistemática, limpinha, chatinha, ai que estes mosquitos entram e espalham suas asas. E dou uns gritos para que entreguem meu tampo de mesa, pelo amor de deus, porque eu preciso mesmo é escrever, estudar, ler; e mesa na cozinha, com fogão por perto, não rola. Aí chega a mesa e eu gasto horrores só para ter uma cadeira que me parece linda, mas evidentemente não vale este preço exorbitante. Então, com o limite no banco mais estourado ainda, ponho-me diante da mesa, sobre a tal cadeira e começo a escrever um texto que tenho que entregar impreterivelmente até dia 27. E começo bem, mas pescoço dói, me empolgo, abro uma cerveja e termino a noite meio bêbada, com dor no estômago, com fome, nada na geladeira. Melhor ir dormir e recomeçar amanhã, mas amanhã é dia de filme barato na locadora, que é horrível, não tem nada, mas, milagrosamente, encontro A eternidade e um dia, lá embaixo, na última prateleira, e vejo, e é lindo demais, e choro, e sinto vontade de beber outra vez, mas não bebo. Leio Baudelaire. Outro modo de embriaguez. E assim durmo outra vez com meu texto já adiantado, mas eu achando-o uma porcaria.
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porque os dias são os dias são os dias são os dias são medonhos.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre amigos e música

Neste sábado, no bar do Rui, reduto dos músicos de Porto Velho, ouvi do Guilherme Wisnick, filho do José Miguel Wisnick, que estava surpreso ao constatar que havia nesta cidade pessoas interessadas e interessantes em relação à música. Eu adorei a definição, e acho que é isto mesmo. Eu sempre tive vontade de escrever um post sobre estes músicos, o que ainda não será desta vez (acho que todo blogueiro pensa em vários posts que acaba não escrevendo! mas este farei em breve, prometo!). Porto Velho, a cidade que morei por 14 anos e onde sempre venho por conta de que minha irmã mora aqui, tem músicos maravilhosos. E o que é melhor: conheço alguns deles, sendo que ao menos dois deles são grandes amigos. E há outros queridos, queridíssimos. Cada noite em Porto é uma festa com muita música, seja na casa de meu amigo Binho, seja no bar do Rui, que acolhe todos estes músicos loucos. É uma grande confraria com muita "canja" e direito a bastão passando de pai para filho, como é o caso do Bado e Edgar. Vimos este último, filho do primeiro, virando músico aos poucos. E hoje é com um misto de orgulho e alegria que o vemos tocar seu violão com a alegria e sinceridade que já reconhecíamos no seu pai. E o que é melhor: todos são grandes conhecedores de música. Pesquisadores mesmo. É uma delícia. Enquanto o mundo reclama da vida, a gente se encontra para dar boas risadas, falar de música e, claro, beber muita cerveja até que alguém perceba que já estamos todos meio bêbados e é hora de irmos para casa. Foi em um ambiente assim que Guilherme se deu conta de que na Amazônia não se respira apenas "bumba meu boi". Aliás, aqui em Porto, todo mundo quer ser inclassificável e repudia um pouco esta história de "regionalismo". Canta-se a natureza, os costumes, as pessoas, mas em uma sonoridade que vai muito além dos temas recorrentes. A identidade é o mundo todo. Uma vez perguntei a uma amiga o que ela tinha vindo fazer em Porto Velho, e ela me respondeu: "Encontrar vocês, ora!" Esta também é uma boa resposta. Além de vir para cuidar da Jéssica, minha sobrinha-princesa- d*...-amadaalémdaconta, eu gosto de pensar que vim para conhecer estas pessoas, que são muito, muito interessante, meigas, carinhosas, lindas! Eu que não sei nem cantarolar, mas sou uma curiosa inveterada a tudo que diz respeito à música, fui acolhida por todos eles e a cada vez que aqui volto é como se tivesse sido ontem que nos encontramos. Neste sábado, foi lindo. Todo mundo apareceu no Rui sem que nem mesmo precisássemos combinar.

E por conta de sábado tão intenso, passei estes últimos dois dias em um estado de alegria e solidão. Por mim, teria prolongado esta noite por muitas noites. Por esta razão, uma das primeiras coisas que fiz ontem foi visitar a loja de cds que freqüentava quando morava aqui. Lá tem o "Ceará", vendedor que conhece tudo de música e com quem eu batia longos papos. Saí de lá, como sempre saía, com várias preciosidades. Comprei Maré, da Adriana Calcanhoto (merece um post de tão bom!) e , de Caetano (outro post!), além de uma edição comemorativa do Clube da Esquina. Não satisfeita, passei boa parte do dia navegando no site da Tratore atrás de cds que há tempos estou a fim: Chicas, Amy, Chico César, Barbatuques, Alexandre Grooves, Cidadão instigado... Todos entraram na minha sacola de desejos.
E tudo isso porque noites assim me fazem lembrar que há pessoas no mundo que não mastigam apenas o que é enlatado, de fácil digestão. Eu queria que no mundo existissem mais Binhos, Bados, Elisas, Ceiças... Certamente, seria um mundo muito mais cheio de poesia e de espantos.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Conto para uma noite

Antes do texto: eu passei vários dias com esta conversa na cabeça; com esta noite. Quando ela chegou, eu estava desprevenida... talvez seja por isso que ela ficou em mim. Eu acrescentei uns pontos e suprimi outros; como tudo que vira escrita.

Sobrevivemos. Você também acha? Podemos ficar aqui sentados a noite toda. Agora que estamos seguros. Agora que nada mais podemos fazer um com o outro. Você pode encher de bituca o cinzeiro que comprei em Veneza e, no fim da noite, quebrar o copo de 50 reais que eu não me importo. Tudo cumpre seu tempo; não importa o que a gente pense. Ou queira. Quando uma coisa deixa de existir é porque já era tempo. Ainda atiro pratos um depois do outro se for torturada. Mesmo os comprados em Paris. É que morei lá. Tudo o que nos aproximamos demais perde o glamour. Até Paris. Mudei, mas não tanto assim. Perguntas? Faça-as. Sempre te disse a verdade mesmo quando menti. Responderei antes que fique bêbada demais. Depois não me responsabilizo. É que às vezes tudo. Nunca quis cortar os pulsos. Sempre achei pouco original. Não; não se preocupe. Já faz tanto tempo. Éramos meninos assustados. Hoje podemos conversar a noite toda. Não; não é para ser um museu. Você não vê? Tudo respira. Tanto os livros que já li quanto aqueles que ainda me esperam pedem para sair do lugar. A ordem é apenas aparente; é para me deixar mais segura. Não. Quando fui embora não senti nenhuma culpa. Nem mesmo raiva. Apenas meus ossos doíam. E nos dois meses seguintes as carnes aumentaram. Era um pesadelo, não era? Naquela loucura, o que havia de menos triste já estava distante de nós. E eu também. Seis meses? Tudo isso? Não me lembrava. É que já são quinze anos. Ou dezesseis? Às vezes, vomito pela manhã. Mais uma? Vamos ficar bêbados. Sua garota linda que está aí ao seu lado e nos olha desconfiada vai ter que agüentar a conversa de dois bêbados ficando velhos e bêbados. Eu não sei por que, mas a cada vez que te vejo me vem aquele mesmo sentimento de ternura. Não acredito em você quando me diz que ainda é daquele jeito. Tudo tem sua história. Até mesmo aquele quadro de madeira talhada estava à sua espera para ser posto na parede. Claro que sei onde está o cd de Pink Floyd. Só não lembro mais qual era sua música preferida. E é mentira quando digo que não ouço mais Janis Joplin. Raramente; mas ouço. Nenhum arrependimento. Eu só queria não ter marcas no corpo. Nem tiros no teto de zinco quente. Ou ter que baixar os olhos quando sorria. Feridas nas mãos cicatrizam melhor. Descobri depois. Não; de jeito nenhum. Não foi você; fui eu. Talvez você se lembrasse se tivesse sido você. Sim; sinto saudade de acordar com Joplin em cima de mim. Tantos pêlos no nariz. Se me vinguei agora que tudo parece estar bem? É que cada história só interessa ao seu protagonista. Adquiri apenas uma certa permissividade com os outros encontros. Que advém da certeza de que posso seguir sozinha. Eu só queria sobreviver; depois é que pensei que podia também viver. Não; não. Ainda tenho insônia, mas nunca mais como aquelas de domingo regadas a Charles Bronson. Onde será que consigo cianureto; talvez eu pensasse. Conversa. Nunca quis te matar. Morrer, sim. Sei lá se tenho mágoas. Com estas perguntas, parece que você as tem. Ainda bem que estou encostada aqui. Protegida pelos deuses da música. Nunca mais senti aquilo. Querer morrer por causa do outro é foda, mas às vezes se confunde com vida. É um baita poder, não é? Se é verdade? Lembra daquela noite? Você não vai lembrar. Quando é a carne do outro que sangra. Mas eu lembro. O mar enquanto eu pensava: “é só mergulhar. E, pronto, acabou!”. Nem para ser original. É que tem outras maneiras mais fáceis. Ir embora é uma delas. Sim. Vamos comemorar. São bodas de alguma coisa. Faremos uma festa. Depois a gente vai ao cartório e acaba com isto. Quero só ver a cara de todo mundo quando a gente convidar. Deixe sua garota linda perguntar também. Eu respondo. Como descobri? Fui experimentando. Pareço estar bêbada? Não; não me sinto fracassada. Não fiz promessas a ninguém. Menos ainda a mim. Se estou aqui, é porque devo estar. Esta é a décima? É verdade; eu não bebia antes. Era uma menina boba que podia ser castigada pela supressão do ingresso de uma banda sertaneja. E você me obrigando dias e noites a ouvir os gritos daquele grupo de rock. Como é mesmo que se chamava? O vocalista era lindo antes de ficar inchado de tanto beber ou se drogar; não sei. Não era? Mas você pôs a bandeira na parede por causa do guitarrista, não foi? Ainda bem que você me obrigou. Seria muito triste se alguém ainda pudesse me castigar com algo tão insipiente. Eu não acredito mais em castigo. Talvez não seja mais cristã. Você não vê? Agora as paredes também estão cheias de loucos. Lynch Almodóvar Fellini Bosch Beckett Giacometti. Todos loucos. O quê? Mais uma pergunta? Eu era louca por você. É por isso que você me afetava tanto. Por isso, eu obedecia. Ah, sim, havia o medo também. Aquele vídeo triste foi o maior soco da minha vida. Meu andar desapartado do corpo. E depois você me arrastando. Guardo tudo. As fotografias estão ali. Quer ver? Não fui verdadeira? Já te disse: sempre falei a verdade. E não importa, não é? Eu não queria mesmo. Espontâneo ou provocado. Não existiu porque não era tempo. Acho que você também não. Melhor assim. Hoje a gente pode conversar a noite toda. Talvez você possa me oferecer um cigarro. Não; eu não fumo. Muito raramente. É que tem dias que a noite é assim mesmo.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Do outro lado do espelho


Dias de professora. A disciplina que me cabe neste momento é Literatura Portuguesa I. E claro que eu preferia estar lendo outros livros, mas tenho me divertido. Tem os autos de Gil Vicente, tem Camões, e a possibilidade de fazer a ponte com Drummond, com Haroldo de Campos etc, até Dom Quixote já rolou. É uma alegria ler estes livros e imaginar modos de fazer com que os alunos leiam. Meu objetivo é sempre pensar no presente. E os alunos já ouviram desde "cantigas de amigo" interpretadas pelo grupo Quadro Cervantes até Maria Bethânia interpretando Olhos nos olhos, do Chico. Alguém pode dizer que essas associações são meio óbvias, mas, em um país em que as pessoas chegam à Universidade com muito pouco conhecimento da cultura letrada, a obviedade nem sempre é tão óbvia! Até para percebermos a obviedade, é preciso conhecer! Digo que Olhos nos olhos é uma cantiga de amigo “contemporânea”, e que isso faz toda a diferença, porque contém também outras características que a aproximam, por exemplo, das cantigas satíricas. O gênero puro não existe mais. Ou nunca existiu.

Minha única ambição é não mostrar a literatura como uma coisa morta, encalacrada na história. Quero crer que levo o óbvio e tento acrescentar algumas “dificuldades” ou simplesmente novidades. É por isso que tem lugar até para Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu, nas minhas aulas. E pergunto: “Conhecem a Fernanda?” E muitos não a conhecem. Ambição na medida.

Parto do princípio de que há muito a aprender. Aprender a pesquisar, a ler, ou simplesmente a escrever. Os alunos estão escrevendo na sala para evitar o “corta-cola” da internet. Isso me dá a oportunidade de conhecer as dificuldades de cada um – e comentá-las. E também de exercitar o que sempre achei que era um problema da Universidade, que acaba sendo um lugar em que se escreve muito pouco durante as aulas. Falei escrever, e não copiar. Como estão no terceiro período, os alunos ainda estão meio atônitos com a obrigatoriedade do comentário. Como fazê-lo? Como ler um conto, um poema, e intermediar com a teoria lida na aula anterior? Eu respondo tudo, e dou exemplos, e repito. Hoje me flagrei dizendo que os termos interessam muito pouco. Personagens planos, redondos, são meros conceitos – e antiquados! - e o que importa é internalizá-los até que se dissolvam, sobrando apenas a idéia que permitirá reconhecer o modo como a personagem é construída. Não sei o que a professora de teoria diria se tivesse me ouvido, mas sei que acredito cada vez menos no ensino de uma teoria calcado no aprendizado de termos, fórmulas, exemplos... Acredito muito mais na junção de sensibilidade com conhecimento, indo ao passado e voltando ao presente de um modo quase brincalhão, teatral. Tomara que seja este o caminho.
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