sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O correr dos dias

Durante o SILIC, meus pés incharam muito. E tendo irmã enfermeira, sem contar todos os conhecidos que viram médicos, benzedeiras, curandeiras, passamos a fazer a maioria das refeições em casa para diminuir o sal, o que, dizem, é essencial para diminuir o inchaço e para que a pressão não suba (esta, sim, o verdadeiro vilão da história). Tatupai não é chegado a sal mesmo, então tem feito uns pratos que não têm sal algum, mas muito saborosos. Minha única contribuição continua sendo as saladas e vez ou outra um arroz. Além de toda trupe de "médicos", ainda topamos com uma daquelas senhoras de posto de saúde que nos disse que uma pressão 12 por 8 em uma grávida já era um perigo iminente. Tatupai não titubeou: comprou um aparelho de medir pressão. E eis que todos os dias averiguamos a pressão, mesmo depois que o médico disse que a tal senhora falou uma grande bobagem. A pressão vai bem, obrigada. E os pés desinchados.

Eis que descanso então! Esta é a outra mudança. Trabalhei incessantemente, e em ritmo acelerado, durante toda a gravidez a ponto de ter a sensação de não ter visto este tempo passar. Começando a carreira acadêmica, a universidade virou prioridade. Mas agora, no último mês de gravidez, barriga pesada, com o fim do SILIC, resolvi desacelerar, embora ainda tenha mil coisinhas pendentes. Estou resolvendo essas pendências a conta-gotas. E ao contrário da maioria das grávidas, embora à noite tenha que negociar horas de sono com o Poeminha, não sinto muito sono de dia. Então estou fazendo aquilo de que mais gosto: vendo filmes, lendo bastante e ouvindo muita música. A barriga incomoda, sim, mas me encho de almofadas ao redor de mim e abro minhas janelas. Não tenho palavras para explicar como isto me faz bem. Difícil compreender as pessoas que se sentem ou solitárias ou entediadas em casa. Eu me sinto viva, totalmente entregue a estes momentos.

Colocamos uma rede ao lado dos cds, no meio da casa, como um convite para os momentos de entrega à música, à leitura, à preguiça. E finalmente temos um sofá exatamente como imaginamos. Eu brinco que tem cara de sofá de "novo-rico" (entendam a ironia: é aquela coisa exagerada, quando o tamanho da sala pediria algo menor), mas como é confortável! À noite, reencontramos o prazer de ficarmos deitados assistindo a filmes, conversando, traçando vidas. E à espera. Ficamos com a sensação de que as noites são nossas.

Enfim, o mundo todo bem aqui conosco à espera.
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