quinta-feira, 2 de agosto de 2012

para o filho

Poeminha, dois meses que você está na casa da sua avó. a mãe do seu pai. eu gosto desse contato, filho. aprendi o que é amor com a família do meu pai. e não precisou que eles fossem pessoas extrovertidas, alegres, divertidas. pelo contrário. eles eram pessoas silenciosas, discretas, severas, fechadas. mas com um senso de família inigualável. eles eram leais, filho. amavam incondicionalmente a famíla. falo no passado, porque alguns já se foram. mas trago-os em mim. trago, sobretudo, o cuidado. aquele cuidado, filho, que eles tinham com o meu pai e, por sua vez, estendiam a nós, filhos de meu pai. meu pai sempre precisou de mais cuidados. é um passarinho. ainda hoje é. e no meio daquela família silenciosa, espalhava seus gritos de euforia ocasionados pela alegria e pela bebida. e eles, silenciosos, percebiam e compreendiam esse modo de ser. e agora, que escrevo, me pergunto como meu pai consegue viver sem eles::::::

acho bonito tudo isso. e acho bonito você estar na sua avó. mas não vou deixar mais. não por tanto tempo. quando você for, a data de volta já deverá ser marcada. e mais próxima. e porque:::: você nos faz uma falta inominável. eu ando pela casa repetindo as suas palavras, os seus gestos. e falando como se você estivesse aqui, comigo, a me ouvir. já não sei viver sem a identidade de mãe. não me interessam a solidão, o tempo que sobra, a tal libberdade. o que preciso mesmo é da sua presença. 

mas não vou transformar este registro numa lamúria. você foi. e agora já sabemos o que é saudade. o modo como você me interpela no msn e no celular me dizem que a saudade está não apenas em mim. remexendo nos seus arquivos de fotos, encontrei umas bem curiosas. entre estas, as que coloco aqui. explico::: tenho a impressão de que foi a primeira vez que você externou uma fantasia, transvestiu-se de personagem. você mesmo colocou estes óculos bizarros, esta touca, e me impeliu a fotografá-lo. foi bonito, filho. foi bonito. enquanto aguardo que seu pai lhe traga de volta, observo-as e sorrio. e de  novo.certa de que não sei mais viver sem você.







1 Palavrinhas:

Marilza Gusmão disse...

Mili, minha flor. Estou aqui, com os olhos mareados... Tuas palavras descrevem tão bem um sentimento que só você é capaz de sentir... Te amo, minha amiga querida, e espero que o seu melhor e mais bonito poema volta logo.

Um beijo grande de muito amor e saudade! =)