sábado, 15 de dezembro de 2012

Arquivo 1 – Madonna


O que me levou a desejar ir ao show da Madonna foi a curiosidade. Eu queria ver em “atividade” esta mulher que há tanto tempo povoa o imaginário de toda uma época – a que eu vivo. E ali, já no primeiro “ato”, diante daquela missa profana, eu penso ter compreendido. E me veio uma emoção muito intensa. 

Ocupei o lugar de muitos dos seus fãs, quando chorei e senti o coração dar um salto. E foi assim, de salto em salto, que, liberta do conhecimento, da crítica, presenciei cenas de amor, de não à intolerância, à falta de liberdade. Um banquete dionisíaco, milimetricamente delirante, no que se propõe a ser transgressor, violento, particular. Como em muito dos artistas a quem dedico profundo amor, o que penso ter visto foi um enfrentamento do horror que pode tanto nos fazer sucumbir quanto nos encaminhar para a glória. Madonna, sem dúvida alguma, escolheu a segunda opção.  Mesmo assim, ela não é uma simples popstar, embora domine como ninguém o que é próprio do pop. Madonna é um mundo. É uma daquelas artistas que parecem saber como transgredir a essência de uma época. Não custa lembrar que, quando ela surgiu, a época libertária do mundo havia passado tão rápido que nos custa a acreditar naquela história de “paz e amor”, livre de todos os dogmas. 

E cada vez que penso no que vi no show, mais faço comparações – e mais penso que alguns discursos, tão distintos dos de Madonna, quando parecem pregar o amor, mais espalham a intolerância. E ainda é aquele mesmo medo do riso, da alegria, da loucura, ora feia, ora bonita, que nos compõe. Enquanto esses discursos circularem, Madonnas não podem deixar de existir – naquilo que aponta também para o contraditório. Porque o contraditório não deve perecer. A beleza viva da contradição não deve se extinguir – para que haja arte. Para que haja o riso louco nas noites em que a chuva cai.
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