domingo, 10 de novembro de 2013

Sucumbir e atravessar


“O homem é uma corda, atada entre o animal e o
além-do-homem – uma corda sobre um abismo.
Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso
olhar-pra-trás, perigoso arrepiar-se e parar.
 

O que é grande no homem, é que ele é um passar e
um sucumbir.
 

Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como
os que sucumbem, pois são os que atravessam.
 

Amo os de grande desprezo, porque são os do
grande respeito, e dardos da aspiração pela outra
margem.”


Friedrich Nietzsche

(citação recolhida da belíssima tese de Daniel Abrão, sobre Catatau, de Leminski)


a cada vez que volto de viagem, volto grávida de desejos, de mínimos desejos; todos eles envolvem pequenas mudanças no dia-a-dia. nem eu mesma levo a sério essas miudezas, mas por dias e dias carrego-as comigo. é o de sempre::: assistir a todos os filmes da extensa lista já feita e continuar a fazê-la de modo diário, de forma amorosa. e ainda ler a enorme pilha de livros urgentes a serem lidos. dividi-los por prioridades, talvez. mas prioridades que digam respeito a algumas urgências, como ler mais hilda hilst, valter hugo mãe e, ainda, ler o novo livro de michel laub, quando ainda não consegui ler nenhum dos anteriores, e este antonio geraldo figueiredo, de que todos falam agora. mas, sobretudo, eu sinto vontade de voltar a ouvir música com a mesma constância de antes. e por isso, e por outras razões, itamar assumpção não para de tocar na nossa vitrola.

assim, desejos mínimos. como mínimo é o tempo. comecei semana passada um movimento que talvez me mantenha próxima a esses desejos mínimos. e comecei pela parte mais difícil: a leitura de um grande livro, de mais de mil páginas. não sei se irei adiante.  reluto em abandonar a sensação de beleza que me acompanha. começou o período das chuvas. e afora que o mofo se aproxima violentamente dos livros, gosto muito das chuvas, do ar brumoso das chuvas. não sei. sinto o gosto de estar reconciliada com a vida que agora acontece, embora existam tantas aparas a fazer. que bela concepção de sucumbir, esta de Nietzsche. e a ela me entrego metade. 
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2 Palavrinhas:

Millena disse...

Que lindo isso: sucumbir! Quero aprender ou estou aprendendo ou nunca aprenderei, a sucumbir a cada instante. Como prenúncio da sucumbência suprema.

Anônimo disse...

oi, milena,
agora que ninguém mais fala
desse antonio geraldo figueiredo
(se não me engano tem um ferreira no fim)
talvez seja uma boa hora de lê-lo, não acha?
do fundo do esquecimento,
um murmúrio bom coçando as orelhas,
olha, se você fosse homem, diria para cultivar a unha do dedo mindinho maior, só pra essas horas perdidas de você,
cutucando em si as palavras que serão apenas suas,
bem, não sou tão machista assim, juro