em paris, o risco do clichê escorre, pois todos querem uma pose no local exato, um momento único. mas qual será a pose exata diante da torre eiffel. qual a cara que convence diante de uma escultura de giacometti ou, melhor, diante da monalisa? pensava nessas coisas enquanto andava sobre a ponte em que milhares de casais deixaram ali - e continuam deixando - seus cadeados. fiquei observando um casal prender um cadeado num outro cadeado - já que impossível alcançar as grades da ponte, tamanho o acúmulo. em seguida, eles se benzeram, encerrando tudo com um longo beijo. depois, vi um casal discutindo, e a mulher chorava muito, enquanto o homem dizia: "você me culpa sempre, é sempre minha culpa. e não é. não é". acúmulo de clichês, pensei com um sorriso sarcástico, e depois um sorriso triste, no canto da boca. mas o certo é que fiquei por ali observando aqueles cadeados, tentando entender o que significavam - e me vi perguntando se não faria o mesmo. não tenho grandes medos dos clichês. daí me questionar o que esse diz sobre nosso desejo de amor - um amor grande o suficiente que faça cessar o medo dos clichês para poder repeti-los livremente - e à exaustão.

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1 Palavrinhas:
Sua linda! Com ou sem clichê, o bom mesmo continua sendo ler as coisas que você escreve com essa limpidez deliciosa. O bom mesmo, sabe, é poder ver com os olhos de dizer das suas palavras. Escreva mais!
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