quinta-feira, 17 de julho de 2014

quando o tempo


eu não duvido nada que, de repente, o que era certo não seja, de fato, tão certo assim. é quando a possibilidade da morte, ou da dor, ou da separação, aparece nítida. nessas horas, a certeza da dúvida. nada está realmente programado. como querer muito voltar a Paris - e ser assaltada mal se coloca os pés lá. ou querer muito fazer algo - e adiar indefinidamente (como meu pós-doutorado). ou achar que está tudo bem e, de repente, não haver mais palavras. não existe mesmo um script. os dias são vorazes. lançar mão de uma série de cascas. e tudo parece mais simples quando o que resta é nos proteger. 
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não. não quero.  
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comecei a ler Longe da árvore já não lembro exatamente por que. sei que é arrebatador. é um livro tão lindo que me dá náuseas só de pensar nas suas mil e poucas páginas.  mas leio obstinadamente, nem que seja algumas páginas por dia. e tudo parece fluir ainda mais com o serzinho que cresce ao meu lado, o Poeminha. dia desses disse na sala de aula que comprar um livro de R$200,00 é uma insensatez para uma pessoa que não tem tempo nem de cagar. não sei o que espantou mais. se os R$200,00 em um livro ou o "cagar". não falava de Longe da árvore, mas de um outro, que folheei rapidamente, e que me pegou, de surpresa, com uma lágrima escorrendo. é que lembrei que o passado existe. 
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e esta moça chamada Ana Cañas? como ela sai de uns cds engraçadinhos para uma "Volta" que faz tudo doer? a tarde quente me pegou outra vez. e com os mosquitos incomodando minhas pernas mais do que de costume, fiquei imaginando que tem este processo de maturação, de esperar ter o que dizer no momento exato. só não rolou outra lágrima porque, dessa vez, estava prevenida. 
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eu sinto falta de um tanto de coisas. e de um tanto de pessoas. dois mil e catorze estende seus enormes tentáculos sobre mim, como se eu fosse, de fato, a soma de todos os anos passados. como se eu me visse com meus grandes desvãos. algum pensamento lateja::: não tenho problema algum de esmurrar as paredes. só as paredes – que não sentem. sou quase sempre. e só fiz isso nas dores extremas. mas o que me faz falta - de verdade -  não posso dizer aqui. como vislumbre. lembrei de tudo isso naquele princípio de noite – quando tive que deixar ali aquele ser que cuidou de mim. e quando tive que ver aquela que deveria ter cuidado de mim virar as costas mais uma vez para aquele que só queria uma palavra de amor.  é assim. tudo verdade e tudo invenção, como já foi dito tantas vezes. e ainda assim tudo é bonito. mesmo quando a garganta insiste em ter um osso atravessado nela.
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