terça-feira, 15 de setembro de 2015

sair de mim. vir a ser ---


fiquei pensando que preciso tentar de novo --- continuar nesta trajetória de melhorar o olhar. de cuidar dele e da capacidade de ele ser uma abertura para o contato com as pessoas. isso exige de mim - agora - desviar o olhar. sem perceber, passei os últimos anos obscurecendo esse olhar. obscurecendo-me. 

numa entrevista do antunes filho, ele diz: "Sei ler um ator de costas ou de frente, consigo ver como está o corpo e a voz dele. Em 15 segundos, sou capaz de ver os defeitos e as qualidades de um profissional". sou também uma boa leitora de corpos --- o corpo como um lugar que podemos chegar ao interior -- se alterarmos a dicotomia. não sei como --- mas tenho o dom de perceber com muita clareza quando uma pessoa está desconfortável, quando está mentindo, quando está sendo sincera. olho e vejo. percebo pelas alterações no tom de voz, nos movimentos das faces, dos corpos. e quase nunca erro. duvido muito. mas quase sempre os acontecimentos posteriores confirmam meu olhar --- amoroso ou não. e daí para pensar que sei quando uma pessoa é boa, é falsa, é bonita, é chata, é problemática e linda ao mesmo tempo foi um pulo. digo isso para explicar o obscurecimento do meu olhar. foi por conta dessa visceralidade. dessa proximidade que quase sem querer estabeleço com os corpos. 

mas ter essa percepção é quase um castigo. imaginem:::: amar uma pessoa e saber vê-la quando mente, quando está distanciada, quando está lhe dando uma estocada. é como se eu pudesse ouvir o que falam "nas minhas costas". traz muita tristeza. e deve ter sido isso::: perdi parte do encanto pelas pessoas. sobraram poucas. e foi aí a minha desgraça. porque nesse entretempo perdi o que me permitia só ter alegria no olhar::: esqueci da complexidade do que somos. 

amava muito os loucos e lindos. os que mentiam. os que traíam. os que davam uma estocada bem no meio do peito. eu era uma boa observadora --- e aquela que dava de ombro, dava risada, dava conselho, como uma tia mais velha. passei dessa posição a outra mais incômoda  ((((e que me tem me deixado cada dia mais infeliz)))): a de julgadora --- a que condena liminarmente.

resolvi estar fora de mim, então. ir atrás de mim outra vez. ou mesmo::: ir atrás do que ainda não sou eu agora. e posso vir a ser. é lindo isto do vir a ser.  esse tem sido meu empenho.
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3 Palavrinhas:

Márcia Mura disse...

Amei a fotografia dos filtros dos sonhos, a pontuação inventada e o texto que é de uma simplicidade tão bela e muito sincero. Que seu devir de sair de si aguce seu olhar para o que pulsa ai no lugar que é o seu não lugar que jorra sangue e luta todos os dias... Está ai bem diante de você é só olhar com firmeza que vai perceber...

vovó ziza disse...

Exercitar a generosidade já é meio caminho andado...

vovó ziza disse...

Exercitar a generosidade já é meio caminho andado...