terça-feira, 6 de maio de 2008

Operação Defesa

Este foi o título do email que Marcos, meu orientador, mandou para mim três dias depois da defesa. Foi exatamente assim: uma verdadeira operação, mas não de guerra. Havia tanto amor vibrando no ar que acho difícil resumir o que foram estes dias. E o que foi este dia. Já disse mais de uma vez que preferia que ele não existisse. A espécie de confissão-inquisição que é a defesa de uma tese de doutorado sempre me causou um terror inominável. Então, não falarei da minha performance. As fotos que mostram meu corpo curvado dizem mais do que eu poderia dizer. Falo então daquilo que recebi, de toda generosidade que permeou meu terror. Muitos vieram. Minha família foi chegando aos poucos: Maneca, minha amada irmã de Porto Velho, foi a primeira a chegar. Passeamos pela cidade como quem ama. Fizemos comprinhas. Visitamos museus. Assistimos à peça de teatro. Minha amiga francesa Marie, que está morando em Porto Velho, chegou dias depois com a Jéssica, minha sobrinha. E pai e minha irmã Mácia chegaram de Fortaleza, depois de perderem o avião, no dia de viajarmos para São José do Rio Preto, onde foi a defesa. Não deu nem para sentir ansiedade pré-defesa, tamanho era o clima de festa que reinava. A viagem até lá, na companhia de todos eles e mais das pessoas daqui (éramos 14 ao todo), foi uma festa. Parecia que estávamos indo para um fim de semana no campo.

Foi assim, rodeada de gente que amo, que suportei o dia. A banca também foi generosa. Eu inventei uma imagem para o que aconteceu: eu fui barata e borboleta no mesmo dia. O que digo? Penso que foi muito bonito. Havia muita emoção, como se fosse uma conversa em que cada um queria acrescentar àquilo que eu tinha escrito. Custo a acreditar que aquilo que escrevi de maneira incerta provocou tantas palavras generosas, tantos elogios. Acho que meu trabalho sustentou todas as questões; mesmo aquelas do super especialista de Derrida, Evando, que produziu o momento “barata”. Explico: ele não me pisou. Acho que ele me degustou com a mesma ânsia da personagem de Clarice ao comer a massa da barata: com espanto; atrás do “acréscimo” impossível. Eu tive medo, claro. Só o meu trabalho continuou tão impassível e seguro como parece que é. O fato de ser ele a estar ali já me dizia da confiança que o Marcos tinha no trabalho. Esta confiança esteve em todos os discursos. Inclusive no meu. Eu afirmei que estava muito feliz com o que tinha feito. Que não tinha feito como tinha imaginado, porque talvez não tenha imaginado. Eu me lancei no desconhecido em um gesto quase suicida: eu nada sabia de Derrida, e, por não saber, queria saber. Quem sabe o quanto este filósofo é difícil, chegando a ser incopreensível, pode deduzir que falar em gesto suicida não é mera imagem. E eu quis saber do único modo que sei fazer: de modo apaixonado. Ter borboleteado com os “moços” da banca foi uma alegria: Arnaldo, Orlando, Alcides, Evando e também o Marcos: foi tanta palavra bonita que nem sei. A voz ficou embargada várias vezes: ora de emoção, ora de nervosismo.

Sendo assim, trago comigo apenas uma certeza: a de que minha tese, no que ela tem de promessa e no que tem de concreto, expressa minha paixão. Eu nada fiz apenas como demanda institucional. Não foi para isso que fiz doutorado. Foi para experimentar. E experienciei muito. Vivi tudo e tão intensamente. Evidentemente, se assim foi, precisava ter festa. E foi com a mesma alegria que depois nos esbaldamos até às 5 da manhã na chácara da sogra do Marcos: muita cerveja, muita carne assada (obrigada, Mabel, churrasqueiro-mor!) e ainda com música ao vivo. Uma bela cantou a noite toda como um rouxinol, além dos “meninos” que deram canjas. Foi uma grande noite.

Assim foi. Ao menos, será assim que vou guardar este dia na minha memória. Obrigada a todos! Não saberei dizer o quanto VOCÊS me fizeram feliz! E o quanto sou grata a todos que fizeram da inquisição uma festa até de manhã.
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3 Palavrinhas:

Anônimo disse...

Virei leitora assídua ;)
Parabéns!

Anônimo disse...

eu deveria estar aqui priorizando os parabéns. é claro que vc os merece tri-vezes. mas o seu texto me fez lembrar clarice do principio ao fim. a referência à barata foi apenas a azeitona de um belissimo e delicioso rechei (credo! imagem de mau gosto né? rs...) enfim, tou feliz por vc, viu? e pelo carinho merecido. e por ter a oportunidade de te ler.
beijoconas

Unknown disse...

È uma sensação de Alívio e Alegria...Mas também tem um frio na barriga né? Uma coisa ui! Agora tem um monte de outras coisas, novas, diferentes...E provavelmente interessantes..risos. A gente, que é equilibrista e adora saltos mortais na corda bamba sem rede de proteção sabe que é o risco, o novo, o horizonte que nos move! Sempre! Bem mal acabou uma coisa e já inventamos outra! Pq, afinal, viver é perigoso, não é? eheheh! A vida segura e confortável, de funcionário com recomendações do senhor diretor, não é, definitivamente, para nosotros, minha amiga equilibrista...risos

Beijos doutorais molhados de chuva e com gosto de manga.