quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre as desfuncionalidades do "lar"

Todas as vezes que a avó do Tatu vem aqui ela "descobre" algo que não combina com a curiosidade dos bebês. Daí, tenho pesadelo só de imaginar Poeminha tropeçando, agarrando, nas coisas. Por enquanto, a decisão é, quando ele começar a engatinhar, retirar apenas o que lhe causar perigo, como a enorme coruja de barro que se equilibra em cima dos livros ou os objetos quebráveis que comprei nas minhas viagens... E colocar cerragem ou algo que o valha dentro dos dois enormes vasos marajoaras. Porém, a minha ingenuidade ou a minha dureza de mãe de primeira viagem está crente de que conseguirá ensinar ao seu rebento que há coisas que ele não pode mexer. Talvez porque eu tenha ouvido a minha mãe contar a vida inteira que filho dela nunca mexeu ou porque eu mesma tenha cuidado de uma criança que nunca sequer mexeu nos gatinhos medonhos de porcelana que a mãe tem até hoje...

Olhando em volta eu busco preparar minha alma para hospedar este novo ser que, assim como se hospeda hoje na minha barriga, vai ocupar meu espaço. E eu sou avara com o espaço! Muito! é verdade que tenho aprendido a dividi-lo. Estou feliz com meu 'novo jeito'. A última vez que dividi o espaço foi traumatizante, justamente porque eu não soube respeitar os modos diferentes com que o tratávamos. Comecei a me sentir responsável por tudo e, pressionada com a escrita da tese, virei uma fiscal da limpeza. Estou disposta a não repetir o mesmo erro. Continuo me sentindo responsável, mas estou muito mais leve em relação à presença do outro. Por enquanto, está tudo na paz. E é assim que eu espero que continue quando Poeminha chegar. Eu mandei fazer prateleiras para o quarto dele, mas também dois baús coloridos para jogar todos os seus trecos. Explicando a minha irmã a função destes baús, eu dizia às gargalhadas: "Têm a função de me acalmar. Ao mesmo tempo que me preparo mentalmente para aceitar uma casa cheia de brinquedos espalhados, eu me preparo para não querer que sejam enfileirados, separados por modelo, na estante. Como sei que não suportaria a visão de caixas de papelão meio rotas e rasgadas, mandei fazer os baús!".

Quem lê, pode pensar que eu estou exagerando - que vou me acostumar naturalmente. Eu prefiro acreditar que estou apenas me prevenindo. Costumo dizer que as pessoas, em geral, têm dificuldade de mudar porque não sabem que precisam fazê-lo. Muitas relações acabam devido às pequenas batalhas diárias. Nestas batalhas, a organização da casa tem peso enorme. Geralmente, a mulher toma conta de tudo, tratando os outros como hóspedes que devem obedecer aos limites impostos por ela. Sempre achei isto um horror. Não é o fato de o homem, em geral, não estar nem aí para a arrumação da casa que ele não deva ter seus espaços, para se sentir de fato em casa. Quer coisa mais louca do que uma frase como esta: "tire o pé do sofá, senão vai sujar"? Pois nós estamos procurando um sofá beeeeeeeem confortável, que aguente nossa maneira de se sentar ou de deitar para assistir a filmes. E quando ele ficar mais ou menos feio e fedido, hora de trocar, que sofá não é feito para durar a vida toda. Tenho feito, assim, o exercício de dividir, de perguntar o que o outro quer. Quer um sofá assim e assado? Quer uma TV maior? Então tá. Eu adoro minha TV, a ponto de achar que não existe nenhum colorido mais bonito, mas se o outro quer, quem sou eu para ignorar?

Enfim, acho que não vou conseguir fugir da demarcação dos limites, mas vou alargá-los ao máximo, para que tanto Tatu quanto Poeminha saibam que o espaço é também deles. E tenho me sentido muito bem desse modo. Evidentemente, tenho inveja de quem assim é sem nenhum esforço, e não está nem aí para as desfuncionalidades do lar, mas já que não sou assim, que ao menos eu dê um jeito de não fazer vítimas.
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2 Palavrinhas:

Euza disse...

Tou achando linda esta sua preparação! Fico me lembrando de mim qdo da primeira espera!
Vc ten toda razão... alargue os limites sim. Tudo ainda é pouco para estes poeminhas tão esperados, né?
Um beijo, moça!
Ah... eu adorei o apelido Poeminha! Adorei!!!!

Rubiane disse...

Mi,
Hoje assisti uma reapresentação do Saia Justa e um dos debates era sobre o que é felicidade. Lá pelas tantas um estudioso do tema disse que a melhor resposta que lhe deram quando ele perguntou o que era felicidade foi a de um senhor: "quando a lavanderia está cheia de roupa para lavar", o estudioso ficou intrigado, e quis entender, então o senhor explicou: quando a lavanderia está cheia de roupa por lavar é porque meus filhos e meus netos estão aqui me visitando e passamos o dia todo no jardim e velejando, então a lavanderia lotada é sinal que a casa está cheia de alegria.
Não se preocupe com nada que ainda está por vir, brinquedos espalhados, vasos quebrados, livros riscados, tudo isso será apenas uma representação física de um tempo maravilhoso.
E quanto ensinar ao poeminha as coisas, lembre-se que os filhos é que nos ensinam a sermos pais.
Você vai conseguir aninhar todos, acredite.
Beijos
Rubiane