quarta-feira, 2 de março de 2011

longe da cria

Então é assim. É isso que sentimos quando deixamos a cria. Quando estabelecemos uma distância que o olho não pode ver, o corpo não pode tocar. Eu imaginei. E comecei a sentir, ali, quando o coloquei para dormir na noite anterior a minha vinda. O choro veio fácil, antecedendo a dor física que senti ao deixá-lo, ali, na manhã seguinte, com outra que não eu. Ele tocou meu rosto com sua mão delicada, uma, duas, três vezes, ao me ver chorar, e cravou aquele olhar em mim. Ficamos, ali, demorando naquele tempo de delicadeza. Fiz ele gargalhar para  espantar minhas lágrimas. No meio de um destes risos, ele se aconchegou em cima de mim, encostou a cabeça e dormiu. O nome disso é amor. Por isso, estou aqui, como diz aquela protagonista de novela antiga, toda amarrotada por dentro. Ele, não. Ele está se saindo melhor do que eu. Porque amo, crio Poeminha para amar pessoas. E ele ama. E me troca sem nenhuma cerimônia por estas pessoas. É verdade que à noite só quer a mim. Empurra o pai se acorda. E aponta lá pra fora para dizer quem quer. E se eu não venho logo, se levanta, e vai atrás. Mas de ser assim, de dormir comigo, de só dormir  quando nos deitamos juntos na rede e eu cantar ou contar histórias não faz dele uma criança dependente, chorona, frágil. De jeito nenhum. Ele chega mesmo a nos assustar com tamanha independência. Na possibilidade do primeiro braço, na primeira oportunidade de brincadeira, liberta-se de nós e vai. Abana os braços de felicidade quando chega no quintal da sua Bisa e nos dá tchau já de costas. Ainda bem que nos recebe de volta com o mais lindo dos sorrisos e com o mesmo abanar de braços. Um ano e cinco meses e nenhum resquício de insegurança, de medo. Sorridente, tranquilo, tartamudeador, teimoso quando quer, é assim Poeminha. E é por isso que estou aqui,  com esta enormidade de sentimento. Porque saiu de mim. E porque partilhamos esta vida, estou toda zonza de saudade, de falta, também do Tatu, não vendo nenhuma lógica em estar longe dele. Veja se pode uma coisa desta. Veja como é bom sentir este deslocamento. Tudo isso me faz cheia de espanto.
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