domingo, 19 de junho de 2011

Bernardo Carvalho pensa

exausta, sem saber mais exatamente como me manter acordada, ou, na impossibilidade, como me manter sentada com esta dor tamanha embaixo da costela, resultado de dias e dias diante deste computador, vago pela internet atrás de algo que faça qualquer coisa com esta minha vontade - já quase insana - de entrar em off, que se fodam todos os meus compromissos pré-FALE. Encontro, então, esta postagem de Bernardo Carvalho e, de repente, descubro porque continuo lendo seus livros, apesar da antipatia por seu cerebralismo. Adoro esta sacada de que os provincianos são os outros e que temos mais é que ignorar este modo tosco de classificação dos lugares:

"(...) A coisa vai mais ou menos bem (mais para menos do que para mais) quando minha amiga me pergunta sobre as viagens, sobre a urgência de estar do lado de fora, no exterior, sobre a atração pelo estrangeiro como uma forma de estranhamento. E eu caio na asneira de responder com um exemplo recente – que, depois de uma leitura no norte da Alemanha, o mediador me perguntou: “Mas, afinal, onde está o Brasil na sua obra?”. E que isso tinha a ver com um preconceito, pois ele nunca faria a mesma pergunta a um americano ou a um inglês ou a um francês que tivesse escrito um romance sobre o Japão ou a Mongólia. O exótico não pode falar do exótico. É insuportável, não tem credibilidade. Um clichê não pode falar de outro, porque se anula. Prossigo (embora tudo – a começar pela cara da minha amiga – me alerte de que é hora de calar a boca), dizendo que as identidades nacionais também são ficções, mas ficções vividas como religião, como crença, transparência e normalidade, e que a ficção literária, ao mostrar sua construção, sua fragilidade, sua opacidade, pode servir como uma alternativa e um antídoto à crença nas identidades – e não apenas nacionais. É essa a literatura que me interessa, uma literatura desconfortável, cuja força vem da sua fragilidade".

A postagem completa está aqui. Em tempo: Bernardo Carvalho está em Berlim. E uma de suas obrigações de escritor residente é escrever um blog (algo que ele não gosta).
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