
"(...) A coisa vai mais ou menos bem (mais para menos do que para mais) quando minha amiga me pergunta sobre as viagens, sobre a urgência de estar do lado de fora, no exterior, sobre a atração pelo estrangeiro como uma forma de estranhamento. E eu caio na asneira de responder com um exemplo recente – que, depois de uma leitura no norte da Alemanha, o mediador me perguntou: “Mas, afinal, onde está o Brasil na sua obra?”. E que isso tinha a ver com um preconceito, pois ele nunca faria a mesma pergunta a um americano ou a um inglês ou a um francês que tivesse escrito um romance sobre o Japão ou a Mongólia. O exótico não pode falar do exótico. É insuportável, não tem credibilidade. Um clichê não pode falar de outro, porque se anula. Prossigo (embora tudo – a começar pela cara da minha amiga – me alerte de que é hora de calar a boca), dizendo que as identidades nacionais também são ficções, mas ficções vividas como religião, como crença, transparência e normalidade, e que a ficção literária, ao mostrar sua construção, sua fragilidade, sua opacidade, pode servir como uma alternativa e um antídoto à crença nas identidades – e não apenas nacionais. É essa a literatura que me interessa, uma literatura desconfortável, cuja força vem da sua fragilidade".
A postagem completa está aqui. Em tempo: Bernardo Carvalho está em Berlim. E uma de suas obrigações de escritor residente é escrever um blog (algo que ele não gosta).
*
*
0 Palavrinhas:
Postar um comentário