segunda-feira, 19 de setembro de 2011

sobre as birras e o amor

com filho não adianta fazer birra. e eu sinto, por experiência como filha e como mãe, que é o que as mães mais fazem. as mães são aqueles seres abomináveis que querem tudo dentro da ordem, inclusive, ou sobretudo, o filho. e eu lhes digo que Poeminha não é de brincadeira. a palavra que ele mais fala é "não". e duvido que seja por imitação. é para tripudiar em cima das minhas birras.
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de novo.
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eu pirei por umas duas semanas. pirei mesmo. falei falei falei - atrás de conselhos, que não sou boba. eu seguia o manual. manual da mãe quase mamífera. mas aí o filho deu piruetas. acordou outro de um dia para a noite. nada de comer. nada de querer dormir na hora certa. e um tal de querer escalar de querer se lambuzar de querer espernear. birra birra birra. e eu? birra birra birra. só quando chacoalhei meu filho é que caí na real. quemerdaeuestoufazendo? aí, eu me acalmei. ele, nem tchum. mal percebeu minha chacoalhada. achou que eu estava brincando. mas chorou sentido quando eu, birrenta, tirei-o do banho antes que ele achasse que era a hora. mas tem hora? que a natureza me perdoe o desperdício de água, mas vou deixar meu filho tomar banho o tempo que ele quiser - e foi o que fiz. coloquei sandálias havaianas nos seus pés, para diminuir o perigo de quedas, postei-me no vaso ou no sofá próximo e lá no banho ele tem ficado sob os meus olhos quase atentos. fica lá com seus bonecos, criando seu mundo imaginário. quando ele quer, sai atrás de mim, todo molhado, pingando tudo, aí eu o pego nos meus braços, dou muitos beijos e vamos, juntos, desligar o chuveiro. depois, eu saio secando a casa.
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eu não vou ser birrenta com meu filho. não vou mesmo. já basta todo o resto que quero dentro da ordem. não vou meter medo nele. não vou gritar nem bater nem chacoalhar só porque não sei exatamente o que fazer. quem me lê aqui sabe que vez ou outra eu digo que fui uma criança muito sofrida. eu era doente e minha mãe era muito ocupada. e eu não preciso repetir essa história. não com meu filho que até agora tem uma saúde de ferro. nem por isso estou com medo de criar um reizinho mandão. não estou mesmo. eu não sou boba, é isso que penso. eu vou aprender a ensinar tudo pela via da delicadeza. porque tudo que mais gosto em mim veio daí::: da delicadeza. e tudo que não gosto veio das brutalidades que a vida me impôs. vou acertar o "tom". já estou acertando. entre o sim e o não, a palavra doce. o eu te amo incondicional. a "sorte" - "que sorte, filho, você existir". não paro de repetir isso a ele. nem sou avara com "eu te amo". e com os abraços todos.
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e por que? porque nada, nem ninguém, me emociona mais do que partilhar a existência desse ser. e se há toda uma cultura da ordem, todo um medo de fazer errado, de dar errado, há, sobretudo, o amor que eu sinto por ele. e é com esse amor, e não com o modo como fui criada, como fui pouco amada, que eu vou caminhar. vou caminhar com este imenso amor. com este amor imenso que sinto por estes dois homens que - cópias um do outro - completam os meus dias.
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as imagens me dizem que vale a pena. um "vale a pena" refletido e amoroso. alguém duvida?




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1 Palavrinhas:

Pips Marshall disse...

Mi, que lindo! me sinto tão solidária! Esses dias estava pensando em como é difícil conter nossa própria birra, nossas vontades! Me vi assim tb, sendo violenta no trato com a Clara e de repende me deu um estalo: quemerdaeutofazendo? hahahah e me contive e vi que tinha passado do limite e que tinha tanta coisa bonita e linda na minha relação com ela que eu não podia e nem tinha o direito de espernear! Peguei-a no colo me desculpei e disse muitos eu te amo e ela me olhou e disse: diculpa, please, ama mamâe e me deu um big hugh! beijos