domingo, 11 de dezembro de 2011

Lira

Por que Lirinha, com sua fragilidade tão escancarada, com sua sensibilidade tão à flor, me chama a atenção? Será por que sua música, embora revestida agora de toda espécie de parafernália eletrônica, é ainda dolorosamente sentimental, como um pedido de socorro que não quer ser atendido, justo para que possa, sendo música, ser dor? São seus tecnomovimentos que tornam ainda mais visível seu diminuto corpo, oscilando entre ficar em pé e uma queda que acaba por se mostrar apenas possível. É tão bonita a sua performance solitária que chega a doer; dessa vez, sem aquela camisa larga e branca de galã e sem seus companheiros de cordel encantado, que lhe davam um suporte de deus, ele é, mais que nunca, um sujeito só urrando seu espanto diante do inapreensível do real. Daí, os hinos de amor, de perda, de saudade, que são tanto o show que vi no Auditório do Ibirapuera, quanto o cd recém-lançado de nome Lira. Como um passe para a vida adulta, até o diminutivo Lirinha foi abandonado. E ele teria conseguido a maioridade, “se não fosse o amor”, como ele mesmo profetiza. Toda fuga é fuga de si mesmo. E ele continua ele mesmo, menino doente de poesia. A vontade que sentimos de cuidar dele é certamente maior do que a dele de ser cuidado. Pois é essa falta de cuidado consigo mesmo que faz com que seus versos, e a disposição de entoá-los como um trovador muito antigo, sobrevivam, pairando acima de tudo.     





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