terça-feira, 7 de janeiro de 2014

isto não é uma retrospectiva


estranho isto de medirmos o tempo em anos. e a cada ano recomeçarmos. ou tentarmos recomeçar de um jeito diferente. eu gosto muito da pausa que essa contagem proporciona. fim de ano parece ser um tempo em que nada deve ser feito, como se fosse mau agouro seguir os dias com os afazeres comezinhos. nos últimos anos, não tenho participado nem mesmo da euforia das compra de roupas e presentes. como no ano passado, eu vi filmes, fui para a ilha e li livros. Tatupai e Poeminha cuidaram de mim.  Tatupai diz que eu não mereço, tão absorta fico nas leituras, mas cuida mesmo assim. e eu me encho de gratidão e alegria por tê-lo por perto. Poeminha cria seu mundo no meio das pessoas e vez em quando me agarra e solta um "eu te amo" para me largar logo em seguida.

na contagem, foi um bom ano, o de 2013. a partir de outubro, foi estranho, como se a euforia do Silic, depois que passou, tivesse levado toda nossa energia. as batalhas foram imensas, mas vistas, agora, de longe, parecem coisas sem importância, como de fato foram. ruim é quando atingiu o osso, quando ficou muito próximo, a ponto de eu ter receio. meu percurso está mais solitário. e uma porção de coisa ficou no meio do caminho. 

e não. não é uma retrospectiva. eu bem que gostaria. mas não sei se falha a memória ou se é mesmo pudor. queria ter talento para um tipo de discrição (e não descrição) que dissesse. queria dizer aqui no blog. mas dizer de um modo que não fosse público. que não fosse privado, claro, mas também não se parecesse com estas cenas tristes de famílias que saem de férias e postam no facebook cada pose. por que as pessoas pensam que queremos ver estas fotos que não acertam nem a linha do horizonte? se eu ao menos fosse fotógrafa, poderia pincelar os dias bonitos. mas nem isto. vejamos::: saímos de férias, toda a familinha. e por duas vezes. na primeira, aportamos outra vez em jericoaquara. e fomos juntos pela primeira vez em porto de galinhas. e sobre isso nada foi dito. ou se foi, não do jeito como eu queria. nesta viagem, aconteceram tantos momentos bonitos. voltar pra família, ver mãe e pai e amigos e irmãs... como é bom. eu, desmemoriada, queria ter dito aqui. e se esquecer, como agora já esqueço? e o que dizer do silic? tão bonito! e das noites do silic? e das pessoas que vieram para o silic? e tudo que disseram? o que dizer da abralic, em campina grande? e das noites da abralic? e a travessia das estradas com tantos sonhos sendo tracejados?
os dias em São Paulo também foram bem bonitos. meu encanto pela casa da camila e do luciano, nossa passagem na exposição do cazuza, as primeiras peças de teatro do Poeminha, o dia com Marcos e Margarida, a exposição do kubrick, Poeminha no Ibirapuera, a ida até Santos com a família e, claro, a noite do meu aniversário. ainda, e por muito tempo, vou me lembrar. e ainda teve aquela viagem. ir - é sempre o quê? e quando vamos porque precisamos ir? porque senão depois tudo não será mais possível?

e em 2013 comprei muitos livros. muitos mesmo. e infelizmente, nem de longe as leituras alcançaram o mesmo ritmo. e qual deve ser mesmo o ritmo? meu amigo Marcio diz que lê, no mínimo, um livro por semana. fiquei dias imaginando que esta, sim, é uma boa vida (e os encontros com Marcio, com as conversas e os risos, valeriam todo um dossiê). O saldo é que avancei em leituras que desejava há tempos. no início do ano, estudei longamente a poesia do Marcos. Longamente é uma palavra pomposa e como a última vez que havia me "debruçado" sobre um poeta havia sido na época do doutorado, com o Cacaso, resolvi usar aqui outra vez. alguma seriedade não faz mal a ninguém. e sim, o movimento foi contínuo. e depois de tantos anos, encontrei uma grande interlocutora à distância. mariana e eu, entre uma bobagem e outra, batemos longos papos sobre o que se passa neste mundinho da literatura brasileira contemporânea. e no decorrer do ano, escrevi alguns textos. uns gostei muito e outros nem tanto. alguns foram publicados e outros não. e não exatamente foram publicados os que gostei de escrever. passei minha vida toda para criar coragem e escrever um texto sobre Graciliano Ramos e o parecer que recebi - nem posso dizer aqui! aff. e definitivamente, este não foi o ano de aprovar projetos. foi um não depois do outro. e de tudo só pude concluir que me faltou simplicidade. escrever simples, pouco, direto. pois é, não soube.

como não soube uma porção de outras coisas. por que é assim, não? mas já terminei uma outra postagem desse modo, não? vou encerrar então sem encerrar.  
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E a frase da imagem foi dita por Cazuza. talvez seja este o anseio. não a vida louca e incerta. mas uma certa loucura e uma certa incerteza que deem conta da ternura desejada.   

          
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