terça-feira, 7 de outubro de 2014

sobre o sell 2014

hoje colocamos quadros na parede. ou melhor, Tatupai, sob a minha supervisão. também dei uma organizada nos livros (no que ainda é possível, pois a urgência de novas estantes já é visível há tempos). e ontem, depois de almoçarmos com o Yuji (esta belíssima pessoa!) e após votar (em Dilma, diga-se de passagem), avancei na noite lendo O que amar quer dizer, de Mathieu Lindon. tenho uma lista tão grande de "livros para ler sem ter razões para lê-los", isto é, livros que nada têm a ver com a docência e a pesquisa, que aproveito sempre estes momentos de "quietude" e "escape" para ler algum deles. 

"quietude" e "escape" foram palavras que utilizei para explicar a minha amiga Rô a razão por que sempre me retraio depois de um grande "projeto", como o do SELL - Seminário de Estudos Linguísticos e Literários! é por isso que ontem foi quietude e hoje, organização; minhas formas de escape. tenho em mim qualquer coisa que se poderia chamar de "compulsão por eventos". a cada ano, crio e recrio a coordenação de um. em seis anos de UNIR, foram seis eventos acadêmicos::: quatro edições do SILIC, uma edição do FALE e, neste ano, o SELL. a cada ano, dá vontade de parar. e a cada ano, vontade de continuar. posso atribuir o mesmo "mal" a minha amiga Rô. fomos sempre parceiras nesta compulsão. 

neste ano, tenho a impressão de ter sido mais difícil. talvez porque pisasse em território desconhecido. o SILIC é nosso, do Gepec - Grupo de Pesquisa em Poética Brasileira Contemporânea. todo e qualquer problema, toda e qualquer desdita, todo e qualquer contratempo são da ordem do entendimento, da soltura. é uma ação de amigos. já o SELL tinha o peso do cargo. foi como chefe de Departamento que me lancei nesta empreitada. e foi como chefe que respondi a todos os problemas que surgiram. e foram muitos problemas. fiquei com medo de que ele ficasse sem alma. mas só tive este receio por pouco tempo. 

quando estava começando a organizar, veio o luto e, mais a frente, o medo de perder um dos meus grandes amigos. foi assim que, muitas vezes, tive raiva de ter me metido nesta. queria viver meu luto em paz. e queria cuidar do meu amigo. ou seja, toda a minha alma já estava neste evento. o que me sobrava era imprimir a emoção; a mesma que é a marca registrada desses eventos todos. e não foi difícil. no aeroporto de Guarulhos, no meio do caminho para enterrar ser tão amado, escrevi o texto para mediar a ideia desta edição. desencavei o verso "o que quer/ o que pode esta língua?", de Caetano. estava inteira naquelas poucas palavras. quantas histórias minhas coloquei ali? e quantas histórias renderam este verso de Caetano? 

serei sempre grata a Wanderley Geraldi, a Veronica Stigger, a Pedro Serra, ao Alvaro Hatther, ao Yuji Gushiken, a Marcia, às meninas das monografias (foi lindo, lindo!) e mais um tanto de gente por terem desdobrado o verso de Caetano e terem feito um SELL tão cheio de emoção, de alegria. é isto mesmo. as palavras são estas. as emoções são estas. e é dessa rasura que eu gosto. enxertar no meio do academicismo uma onda que faça ressoar toda a entrega que é necessária para que um evento como este aconteça.
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foi bonito como tinha que ser. este trabalho em parceira que eu e Rosana inventamos é sempre da ordem da boniteza. foi diferente não este ano. "há marcas em mim no SELL. e há marcas do SELL em mim", foi o que disse na abertura. e esta é uma das muitas bem-aventuranças.
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2 Palavrinhas:

Olga de Mello disse...

E eu deixo de ler coisas tão boas quanto este post porque a vida me impede de aproveitar a beleza. É tanto trabalho, tanta correria, tanto dever ...
Saudades dessas leituras lindas.
bj

Teoliterias disse...

Parabéns Milena; por viver/ser os motivos que te movem; por eles estarem e constituírem você inteira, nada do que você faz fica sem luz; obrigado pelo carinho, sempre. Rômulo.