domingo, 1 de fevereiro de 2009

Dias de cronópio

"Neste país onde as coisas se fazem por obrigação ou por fanfarronada, gostamos das ocupações livres, das tarefas sem importância, dos simulacros que de nada adiantam." Julio Cortázar.
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semana toda entre livros de fotografia. cortázar, em um dos seus livros-colagem, cita uma frase de seu amigo andy warhol. esta: "eu gosto de gostar de coisas". se eu tivesse vivido no tempo de fazer brasões, eu mandaria fazer um e daria um jeito de colocar esta frase para me representar. eu gosto tanto de gostar de coisas que às vezes eu mesma me irrito. mas na maior parte do tempo eu me deleito. tenho um grave defeito de gostar de brincar de gangorra. basta a
cosacnaify anunciar uma daquelas suas promoções-relâmpagos de 50% de desconto que eu já me resigno e sei que vou fazer peraltices. foi assim que vários livros de fotografia chegaram aqui; do mesmo modo, há uns dois meses chegaram vários de cinema e de artes. e o pior é que eles chegam e eu esqueço todos os meus deveres de cidadã com deveres. esqueço e me perco neles. "cuba por korda", "abbas kiarostami", "o lugar do escritor", as fotos portáteis de antonio saggese e cris bierrenbach, "antropologia da face gloriosa", "si por cuba", não são livros que se contentam de irem para a estante e virarem objetos mortos. eles pedem antes o amor tátil. o folhear atento e emocionado, o dormir nos seus braços na tarde quente. e acordar com o rosto colado em um deles sem saber se já é tarde. nunca é tarde. é o que eu penso, ajudado por eles. nunca é tarde para gostar de coisas. para gostar da vida. para colocar nela a delicadeza e a emoção. eu tenho muito medo, nunca disse que não tinha. mas antes dizia menos. a imagem da mulher independente. agora, eu expresso tudo mais facilmente, ainda que cheia de silêncios. se me dizem que sabem que eu estou nesta cidade a contragosto, eu não desminto. mas duvido que tenha alguém mais consciente de minhas escolhas do que eu mesma. escolhas ou acasos, eu abraço tudo. e vivo. e vivo bem. não me faltam brechas. e sempre me surgem seres lindos para me ajudarem a construir estas brechas. sim, aqui é só um instante. que dure muito, que dure pouco, é só um instante, um instantâneo. como as fotografias, mas sendo minha vida. eu não quero dor, mas agora que já perdi o medo, se um dia vier outra vez, vai doer outra vez e passar outra vez. é a vida. e o que fazemos dela e o que ela faz sozinha - como os raios que nos partem e quebram nossos sorrisos ao meio.
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e de tanto me perder no meio destes livros de fotografia - que são lindos, são delicados, são repletos de histórias e de vidas e de imagens - eu lembro que eu mesma fotografo, embora não seja uma fotógrafa, não tenha a delicadeza e a presteza de uma grande fotógrafa. porém, no meio da madrugada, enquanto ele, na rede da varanda, morre de rir com "cem anos de solidão" e me pergunta o tempo todo se eu lembro de tal trecho, e eu, amaldiçoando a minha parca memória, digo-lhe que não lembro e que ele pare de me torturar; eu mexo no meu arquivo de fotografias e seleciono estas que estão aí abaixo.
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foram tiradas na minha viagem a Natal, quando meus amigos - minha amiga-comadre de infância, por quem eu sinto um verdadeiro e inesgotável amor - saiu de minha cidade natal para estar comigo nesta cidade Natal cheia de lembranças. eu já contei aqui. faltaram as fotos. sempre esta falta.
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5 Palavrinhas:

Anônimo disse...

entendo vc ,tb me perco entre os deleites que enchem minha vida e que fazem parte dela,gosto de gostar de tudo ,eu sou assim,apaixonada,por tudo que é belo.na ansia de sorver com frenesi,o bom.e me envolver no bem.O tempo é pouco ,é escasso,finito.mas o desejo de aprender ,este é eterno,bjs

Anônimo disse...

Só estando aqui pra saber o tamanho da saudade que estava de te ler!!!
Menina, eu gost um tantão desta sua abundância de sentires. E este aprofundamento em alguns deles.
Como vc, gosto tando de gostar que por vezes me perco (só não me irrito, viu? rs...)
Belissimas as fotos abaixo! Uma delas vou levar comigo (cm os devidos créditos).
Beijãozão
Ah... morro de inveja dos seus títulos! Vc é ótima pra criá-los!!!

Anônimo disse...

Oi, Milena. Acho empre divertido essa sua facilidade de falar e se expressar tão bem nesse mundo da fotografia.

"Gostar de gostar das coisas"? Que negócio é esse? Acho que não tenho isso não.

Tava sentindo falta da leitura de seu blog. Espero agora, nessa volta, acompanhar tudo bem de perto.

Um abraço.

http://sinistrasbibliotecas.blogspot.com/

Rubiane disse...

Mi,
Compre uma bicicleta, de cor bem viva, coloque uma cesta nela e pedale por aí. É perigoso? Tudo que é realmente gostoso, é perigoso, portanto aventure-se.

Compre tmb um capacete e alguma coisa legal, como a minha buzina em formato de cachorro, para torná-la SUA bike.

Espero que vocês energizem o caminho pelo qual passarem.

Quanto ao filme, prepare-se para se sentir acoada, mas com coragem para o contra-ataque. É fantástico e mais fantástico ainda por ter sido baseado em fatos.

Um beijo

Rubiane

Anônimo disse...

Achei!! Achei o que nos une tanto, apesar das nossas diferenças! Claro, foi você que achou as palavras, faladas por um artista tão amado pelas duas: "eu gosto de gostar de coisas"
Obrigada Mili