quinta-feira, 19 de março de 2009

espanto

o primeiro espanto é o do corpo. antes de qualquer racionalização ou emoção. os seios que parecem querer saltar é apenas o mais visível do espanto. uma pequena revolução parece se fazer à revelia. o que chamam de enjoo é mero eufemismo. sinto um mal-estar geral. e a vontade de ser uma grávida espevitada não é alcançada. um dia, penso: sou aquela que hospeda. não qualquer hospedagem. mas penso naquela teorizada por Derrida. uma hospedagem tão plena que desapropria. uma hospedagem incondicional. e a casa é o meu corpo. por isso, reage. parece querer expulsar este estrangeiro que chegou - sem avisar. vomitar parece ser o caminho escolhido da expulsão. por outro lado, como aquela que hospeda, também me agrada pensar que é o contrário que ocorre: o que o corpo tenta expulsar é o acessório, o desnecessário, o dispensável, para que o lugar fique por inteiro confortável para aquele ou aquela que chega. a imagem de um bebê boiando no que parece ser um vácuo dentro de mim parece confirmar as minhas suspeitas. ignorando todo mal-estar, toda lezeira, e até a dorzinha no pé da barriga que assombram a mim e aos médicos, ele ou ela desliza para lá e para cá num balanço imaginário. o coração parece uma estrela. como marinheira de primeira viagem, custo a saber que aquela estrela que pisca é o coração. digo frases que soam muito engraçadas mas são espanto: "parece um bebê mesmo!" e o médico, acostumado a estas leseiras, sorri e afirma enfático: "é um bebê!". sim, é um bebê, embora com leve aparência de girino, lembra o pai para não perder a piada diante daquele cabeção. e por falta de nome, e para espantar a impessoalidade, passamos a chamá-lo de poeminha. o poeminha ou a poeminha. e eu, a morada.
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1 Palavrinhas:

Cristina Soares disse...

ah, que lindo poeminha !!!! curtam, curtam muito !!!!! vamos acompanhando essa curtição poética toda daqui !! bjux