Um filho vem e ensina a cada dia uma coisa. Registro isto para não esquecer. Tenho sentido vontade de escrever mais sobre o Poeminha. Explico: este blog existe porque não tenho boa memória. Esqueço muito facilmente tudo que me acontece, seja uma leitura, um filme, um acontecimento. Uma psicóloga que à época me parecia muito incompetente me falou uma vez que minha memória só lembrava do que tinha acontecido de ruim. Por via das dúvidas, resolvi me prevenir. O blog, desde a sua primeira versão, que sumiu no buraco da net, foi feito para funcionar como uma espécie de memória artificial: eu não queria esquecer os anos de doutorado.
Durante a gravidez, escrevi muito pouco sobre o fato em si. Sobre o que sentia, o que pensava, o que fazia por causa deste acontecimento. Pudor. Não queria dizer o que toda mãe diz: tudo açucarado demais para o meu paladar que passou a gostar de doce de leite apenas durante a gravidez (talvez porque gostava na adolescência e havia esquecido). Nem biscoito recheado eu engulo. Nem chocolate.
Mas nestes dias me veio um susto. Eu trocava a fralda do Poeminha e constatava mais uma vez que é nesta hora que ele, aos dois meses, mais emite ruídos (solta gritinhos, gemidos, de modo alegre e concentrado). Parece que quer conversar. E o que dizer das caras engraçadas que faz logo depois que mama? Acomodando o leite, preparando-se para "arrotar", ele se espreme, geme, se espreguiça, faz biquinho... E que delícia é isto, que alegria infinda observar tudo que ele faz. O susto: e se eu não lembrar depois, se for para o sumidouro da memória, onde está a maioria de tudo que vivi e não registrei? E se eu não tiver nada para lhe contar deste tempo? Ou pior: e se ele ler, um dia, este blog e perceber que eu escrevi muito pouco sobre ele? Eu que já morro de medo de que ele cresça tendo a sensação de que eu lhe abandono por causa dos livros e dos filmes?
Como minha meia dúzia de leitores já está acostumada à mistureba que é este blog, fica então o aviso: vez em quando, vai ter conteúdo açucarado - o melhor açúcar do mundo. Isso me traz uma certeza: a escrita, qualquer que seja ela, é antes para si do que para o outro. Porque ninguém mais se deleita e/ou se tortura com o que escreveu do que o autor. E nada neste meu momento é mais importante do que cuidar do meu filho, aprendendo com ele como se nasce, como se cresce, afinal eu não lembro de como nasci, como cresci. Fico pensando que observar o filho é também uma forma de se observar, de se ver em um tempo em que isto ainda não é possível. Que eu seja então fiel ao meu princípio, que este blog continue sendo o que procurava ser: "Sem análise nem crítica. Somente aquilo que advém de Barthes: humores. O jogo estéril do gosto/ não gosto. "Para guardar". "A regra = oferecer o íntimo, não o privado".
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Durante a gravidez, escrevi muito pouco sobre o fato em si. Sobre o que sentia, o que pensava, o que fazia por causa deste acontecimento. Pudor. Não queria dizer o que toda mãe diz: tudo açucarado demais para o meu paladar que passou a gostar de doce de leite apenas durante a gravidez (talvez porque gostava na adolescência e havia esquecido). Nem biscoito recheado eu engulo. Nem chocolate.
Mas nestes dias me veio um susto. Eu trocava a fralda do Poeminha e constatava mais uma vez que é nesta hora que ele, aos dois meses, mais emite ruídos (solta gritinhos, gemidos, de modo alegre e concentrado). Parece que quer conversar. E o que dizer das caras engraçadas que faz logo depois que mama? Acomodando o leite, preparando-se para "arrotar", ele se espreme, geme, se espreguiça, faz biquinho... E que delícia é isto, que alegria infinda observar tudo que ele faz. O susto: e se eu não lembrar depois, se for para o sumidouro da memória, onde está a maioria de tudo que vivi e não registrei? E se eu não tiver nada para lhe contar deste tempo? Ou pior: e se ele ler, um dia, este blog e perceber que eu escrevi muito pouco sobre ele? Eu que já morro de medo de que ele cresça tendo a sensação de que eu lhe abandono por causa dos livros e dos filmes?
Como minha meia dúzia de leitores já está acostumada à mistureba que é este blog, fica então o aviso: vez em quando, vai ter conteúdo açucarado - o melhor açúcar do mundo. Isso me traz uma certeza: a escrita, qualquer que seja ela, é antes para si do que para o outro. Porque ninguém mais se deleita e/ou se tortura com o que escreveu do que o autor. E nada neste meu momento é mais importante do que cuidar do meu filho, aprendendo com ele como se nasce, como se cresce, afinal eu não lembro de como nasci, como cresci. Fico pensando que observar o filho é também uma forma de se observar, de se ver em um tempo em que isto ainda não é possível. Que eu seja então fiel ao meu princípio, que este blog continue sendo o que procurava ser: "Sem análise nem crítica. Somente aquilo que advém de Barthes: humores. O jogo estéril do gosto/ não gosto. "Para guardar". "A regra = oferecer o íntimo, não o privado".
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7 Palavrinhas:
Não se preocupe. O Poeminha nunca vai achar que vc o abandonará - até porque isso jamais acontecerá. Quando vc estiver mais caída por ele, chegará a adolescência e ele há de se sentir "sufocado".
Agora é a época da ternura transbordante de ambos os lados.
beijo!!!
Pois é, Milena, como você sabe (ou, pelo menos, deve desconfiar), tenho imensa dificuldade para compreender postagens "pessoais" - ainda que os blogs tenham nascido justamente para isso.
Mas respeito demais essa sua "mistureba"; houve um fato novo e importantíssimo na sua vida e é difícil - senão impossível - não falar dele no blog.
Um abraço.
Oi!
Mana.
Filho é o melhor açucar do mundo.
Bj.
Nossa! Que bom! Agora é que vou amar mais ainda o seu blog! Afinal, literatura, cinema e bebÊs são minhas maiores paixões!!!
Beijos
Milena,
Ao contrário do Halem eu amo um post umbigocentrista!
E seu menininho está tão lindo, e tão fofo que vale muito a pena ler sobre ele.
Beijos.
"a escrita, qualquer que seja ela, é antes para si do que para o outro." isso é muito verdade. Eu escrevo muito mais pra mim do que para o outro, por isso não me importo mais se alguém vai mesmo visitar o meu blog ou comentar, não sei. Desde que aquilo que eu escreva me agrade de fato, está tudo bem. E Milena, o seu Poeminha é uma coisa fofa demais da conta! Beijos.
Estou lendo o 'açúcar' a posteriori e estou gostando muito. Faça com que ele leia um dia. Ele vai se sentir orgulhoso e amado.
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