i.
No fundo, o que quero como professora é instigar meus alunos para a literatura - como se eu fosse apenas o caminho que pudesse conduzi-los para o espanto de ler. Talvez quase nunca acerte. E quando sei que acertei, me vem uma alegria e uma certeza de que é mais fácil acertar quando os ouvintes estão na mesma sintonia. Foi assim sábado, depois de viajar 10 horas para ministrar uma aula de 8 horas. A disciplina Teoria da Literatura assusta tanto quem vai ministrá-la como quem vai assisti-la, porque teoria sempre é vista como um bicho papão. Mas esta turma de Letras, da tal chamada Universidade Aberta do Brasil (programa do governo federal que minha universidade de origem participa), me surpreendeu desde a primeira vez que lá fui. A empatia foi imediata; e as discussões, deliciosas. Há alunos super atenados com a literatura, cheios de dúvidas, de questões inteligentes e percebo que mesmo os que ficam em silêncio estão de ouvido atento. Eu saio de lá sempre com vontade de ler um tanto de livros. E com a promessa de fazer uma lista de filmes, de música e de livros para eles. Eles me provocam e eu os provoco. Aí fica fácil. Difícil é controlar o minguado tempo, quando um aluno me pergunta sobre Herman Hesse, Kafka, haicai, literatura fescenina, crítica versus criador... Canso? Demais! Mas momentos como este me convencem de que vale a pena insistir nesta inutilidade chamada literatura.
ii.
Enquanto eu dava aula, véspera do dia das mães, ele me liga avisando que escolheu o "motivo" do enxoval do Poeminha. Comparou um e outro e ficou com as pipas voando. Eu abro um largo sorriso e nem questiono se esta seria minha escolha também. Talvez meu filho desde cedo saberá que sua mãe é uma mulher meio avoada e muito ocupada. E talvez se ressinta, como eu me ressenti tantas vezes. Por outro lado, sei que, apesar disso, ele vai saber que é um menino de sorte. Tem um pai que é pura atenção, pura sensibilidade; olho vivo, curioso e ansioso. E a família do pai está grávida junto comigo. Na era do domínio das máquinas, uma tia borda o seu enxoval. Fraldas, lençóis, toalhas, colchas; tudo se faz artesanalmente... Quanto tempo eu não entrava em uma loja de tecidos. E de repente lá estava eu, atrapalhada e indecisa, escolhendo cores e texturas, para que as mãos habilidosas da tia transformassem tudo em beleza.
iii.
Dia das mães. Por falta de mãe, sempre tão longe geograficamente, encomprido um pouco mais a viagem para poder ficar com duas amadas: minha Maneca e minha Princesa. Não nos víamos desde o início do ano - e elas nunca tinham me visto barriguda! Daí talvez por que a saudade parecesse mais comprida, mais urgente. Ficamos o dia juntinhas. Só saímos no fim do dia para nos empanturrarmos de sushis. Foi tanto conversê, tanta palavrinha, tanto chamego, que, quando peguei o ônibus de volta para casa, não pude adormecer nem ler. Estava toda cheia de amor. Nada mais cabia. Então fiquei vendo a noite da janela pensando neste meu primeiro dia das mães como mãe. Sim! Já me sinto mãe. E me vieram um susto e um enternecimento que não têm tradução.
iv.
E hoje meu revisor de barbeiragens me manda de volta a tradução que fiz na semana passada. Texto cheio de bandaid!!! - cochilos, como ele chamou. Depois do susto, olho, olho, comparo. E vou ficando contente outra vez. Como admiro incondicionalmente este moço, vem-me um pensamento besta de menina desejosa de aprovação: "acho que ele gostou". Mas depois, bem depois, me vem algo que parece mais importante - e que diz respeito àquele sentimento de confiança de que todos precisamos para prosseguir.
No fundo, o que quero como professora é instigar meus alunos para a literatura - como se eu fosse apenas o caminho que pudesse conduzi-los para o espanto de ler. Talvez quase nunca acerte. E quando sei que acertei, me vem uma alegria e uma certeza de que é mais fácil acertar quando os ouvintes estão na mesma sintonia. Foi assim sábado, depois de viajar 10 horas para ministrar uma aula de 8 horas. A disciplina Teoria da Literatura assusta tanto quem vai ministrá-la como quem vai assisti-la, porque teoria sempre é vista como um bicho papão. Mas esta turma de Letras, da tal chamada Universidade Aberta do Brasil (programa do governo federal que minha universidade de origem participa), me surpreendeu desde a primeira vez que lá fui. A empatia foi imediata; e as discussões, deliciosas. Há alunos super atenados com a literatura, cheios de dúvidas, de questões inteligentes e percebo que mesmo os que ficam em silêncio estão de ouvido atento. Eu saio de lá sempre com vontade de ler um tanto de livros. E com a promessa de fazer uma lista de filmes, de música e de livros para eles. Eles me provocam e eu os provoco. Aí fica fácil. Difícil é controlar o minguado tempo, quando um aluno me pergunta sobre Herman Hesse, Kafka, haicai, literatura fescenina, crítica versus criador... Canso? Demais! Mas momentos como este me convencem de que vale a pena insistir nesta inutilidade chamada literatura.
ii.
Enquanto eu dava aula, véspera do dia das mães, ele me liga avisando que escolheu o "motivo" do enxoval do Poeminha. Comparou um e outro e ficou com as pipas voando. Eu abro um largo sorriso e nem questiono se esta seria minha escolha também. Talvez meu filho desde cedo saberá que sua mãe é uma mulher meio avoada e muito ocupada. E talvez se ressinta, como eu me ressenti tantas vezes. Por outro lado, sei que, apesar disso, ele vai saber que é um menino de sorte. Tem um pai que é pura atenção, pura sensibilidade; olho vivo, curioso e ansioso. E a família do pai está grávida junto comigo. Na era do domínio das máquinas, uma tia borda o seu enxoval. Fraldas, lençóis, toalhas, colchas; tudo se faz artesanalmente... Quanto tempo eu não entrava em uma loja de tecidos. E de repente lá estava eu, atrapalhada e indecisa, escolhendo cores e texturas, para que as mãos habilidosas da tia transformassem tudo em beleza.
iii.
Dia das mães. Por falta de mãe, sempre tão longe geograficamente, encomprido um pouco mais a viagem para poder ficar com duas amadas: minha Maneca e minha Princesa. Não nos víamos desde o início do ano - e elas nunca tinham me visto barriguda! Daí talvez por que a saudade parecesse mais comprida, mais urgente. Ficamos o dia juntinhas. Só saímos no fim do dia para nos empanturrarmos de sushis. Foi tanto conversê, tanta palavrinha, tanto chamego, que, quando peguei o ônibus de volta para casa, não pude adormecer nem ler. Estava toda cheia de amor. Nada mais cabia. Então fiquei vendo a noite da janela pensando neste meu primeiro dia das mães como mãe. Sim! Já me sinto mãe. E me vieram um susto e um enternecimento que não têm tradução.
iv.
E hoje meu revisor de barbeiragens me manda de volta a tradução que fiz na semana passada. Texto cheio de bandaid!!! - cochilos, como ele chamou. Depois do susto, olho, olho, comparo. E vou ficando contente outra vez. Como admiro incondicionalmente este moço, vem-me um pensamento besta de menina desejosa de aprovação: "acho que ele gostou". Mas depois, bem depois, me vem algo que parece mais importante - e que diz respeito àquele sentimento de confiança de que todos precisamos para prosseguir.
9 Palavrinhas:
feliz primeiro dia das mães, querida. a emoção com esse e outros momentos só cresce...
bjo
poeminha é um menino?
assim com vc se viciou em cronopios ,eu,que sou feita de emoção,me viciei em nenhum lugar.vc alimenta minha ternura e me faz querer distribui-la.talvez seja esta a sua missão,captar e transmitir pelas palavras,o melhor dessa vida.Vc é como uma tela ,colorida e vibrante,bjs bjs bjs
Motivo de pipas ??? É menino !!!!!!!! Parabéns !!!! Beijo grande !
Milena,
Estou feliz por ti, pelo poeminha e por ele. Eu não quis ser mãe, mas tem sempre algo me comove naquelas que desejam dar o melhor de si ao mundo, que no caso é um filho. Que ele seja uma benção em sua vida, mais uma para ser exata.
Parabéns
Rubiane
Oi Milena!!!
Legal que tenha gostado do blog!
Apareça sempre por lá e quando tiver alguma sugestão email-me!!!!!
Bjão.
Milena Poetisa (ou Poetiza??) ! Não seja por isso. Me mande o número do seu manequim (38, 40 ou 42??), o seu endereço para envio postal que te mando uma blusa... Só não posso prometer em quanto tempo eu a faço, mas que um dia chega aí... ah, isso chega ! Manda para cristinasoac@msn.com . beijoca !
Milena, eu tenho a maior curiosidade sobre essa tal "Universidade Aberta do Brasil". Se não for incômodo, você poderia me mandar um e-mail falando das suas impressões. Quanto a essa satisfação que você menciona, no encontro - difícil, mas que às vezes se dá, como foi o seu caso - entre as nossas expectativas (e desejos) como professores e as dos estudantes (bem como seus desejos), essa satisfação, eu dizia, é dos sentimentos mais gratificantes que existem, e que fazem dessa profissão ainda um locus especial.
Um abraço (e parabéns, com atraso, pelo dia das mães).
fato é que sempre se escreve para alguém
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