segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tchubarubas

i.
No fundo, o que quero como professora é instigar meus alunos para a literatura - como se eu fosse apenas o caminho que pudesse conduzi-los para o espanto de ler. Talvez quase nunca acerte. E quando sei que acertei, me vem uma alegria e uma certeza de que é mais fácil acertar quando os ouvintes estão na mesma sintonia. Foi assim sábado, depois de viajar 10 horas para ministrar uma aula de 8 horas. A disciplina Teoria da Literatura assusta tanto quem vai ministrá-la como quem vai assisti-la, porque teoria sempre é vista como um bicho papão. Mas esta turma de Letras, da tal chamada Universidade Aberta do Brasil (programa do governo federal que minha universidade de origem participa), me surpreendeu desde a primeira vez que lá fui. A empatia foi imediata; e as discussões, deliciosas. Há alunos super atenados com a literatura, cheios de dúvidas, de questões inteligentes e percebo que mesmo os que ficam em silêncio estão de ouvido atento. Eu saio de lá sempre com vontade de ler um tanto de livros. E com a promessa de fazer uma lista de filmes, de música e de livros para eles. Eles me provocam e eu os provoco. Aí fica fácil. Difícil é controlar o minguado tempo, quando um aluno me pergunta sobre Herman Hesse, Kafka, haicai, literatura fescenina, crítica versus criador... Canso? Demais! Mas momentos como este me convencem de que vale a pena insistir nesta inutilidade chamada literatura.

ii.
Enquanto eu dava aula, véspera do dia das mães, ele me liga avisando que escolheu o "motivo" do enxoval do Poeminha. Comparou um e outro e ficou com as pipas voando. Eu abro um largo sorriso e nem questiono se esta seria minha escolha também. Talvez meu filho desde cedo saberá que sua mãe é uma mulher meio avoada e muito ocupada. E talvez se ressinta, como eu me ressenti tantas vezes. Por outro lado, sei que, apesar disso, ele vai saber que é um menino de sorte. Tem um pai que é pura atenção, pura sensibilidade; olho vivo, curioso e ansioso. E a família do pai está grávida junto comigo. Na era do domínio das máquinas, uma tia borda o seu enxoval. Fraldas, lençóis, toalhas, colchas; tudo se faz artesanalmente... Quanto tempo eu não entrava em uma loja de tecidos. E de repente lá estava eu, atrapalhada e indecisa, escolhendo cores e texturas, para que as mãos habilidosas da tia transformassem tudo em beleza.

iii.
Dia das mães. Por falta de mãe, sempre tão longe geograficamente, encomprido um pouco mais a viagem para poder ficar com duas amadas: minha Maneca e minha Princesa. Não nos víamos desde o início do ano - e elas nunca tinham me visto barriguda! Daí talvez por que a saudade parecesse mais comprida, mais urgente. Ficamos o dia juntinhas. Só saímos no fim do dia para nos empanturrarmos de sushis. Foi tanto conversê, tanta palavrinha, tanto chamego, que, quando peguei o ônibus de volta para casa, não pude adormecer nem ler. Estava toda cheia de amor. Nada mais cabia. Então fiquei vendo a noite da janela pensando neste meu primeiro dia das mães como mãe. Sim! Já me sinto mãe. E me vieram um susto e um enternecimento que não têm tradução.

iv.
E hoje meu revisor de barbeiragens me manda de volta a tradução que fiz na semana passada. Texto cheio de bandaid!!! - cochilos, como ele chamou. Depois do susto, olho, olho, comparo. E vou ficando contente outra vez. Como admiro incondicionalmente este moço, vem-me um pensamento besta de menina desejosa de aprovação: "acho que ele gostou". Mas depois, bem depois, me vem algo que parece mais importante - e que diz respeito àquele sentimento de confiança de que todos precisamos para prosseguir.

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9 Palavrinhas:

renata penna disse...

feliz primeiro dia das mães, querida. a emoção com esse e outros momentos só cresce...
bjo

Rubiane disse...

poeminha é um menino?

vovó ziza disse...

assim com vc se viciou em cronopios ,eu,que sou feita de emoção,me viciei em nenhum lugar.vc alimenta minha ternura e me faz querer distribui-la.talvez seja esta a sua missão,captar e transmitir pelas palavras,o melhor dessa vida.Vc é como uma tela ,colorida e vibrante,bjs bjs bjs

Cristina Soares disse...

Motivo de pipas ??? É menino !!!!!!!! Parabéns !!!! Beijo grande !

Rubiane disse...

Milena,

Estou feliz por ti, pelo poeminha e por ele. Eu não quis ser mãe, mas tem sempre algo me comove naquelas que desejam dar o melhor de si ao mundo, que no caso é um filho. Que ele seja uma benção em sua vida, mais uma para ser exata.

Parabéns

Rubiane

Ana Claudia Lourenço disse...

Oi Milena!!!
Legal que tenha gostado do blog!
Apareça sempre por lá e quando tiver alguma sugestão email-me!!!!!
Bjão.

Cristina Soares disse...

Milena Poetisa (ou Poetiza??) ! Não seja por isso. Me mande o número do seu manequim (38, 40 ou 42??), o seu endereço para envio postal que te mando uma blusa... Só não posso prometer em quanto tempo eu a faço, mas que um dia chega aí... ah, isso chega ! Manda para cristinasoac@msn.com . beijoca !

Anônimo disse...

Milena, eu tenho a maior curiosidade sobre essa tal "Universidade Aberta do Brasil". Se não for incômodo, você poderia me mandar um e-mail falando das suas impressões. Quanto a essa satisfação que você menciona, no encontro - difícil, mas que às vezes se dá, como foi o seu caso - entre as nossas expectativas (e desejos) como professores e as dos estudantes (bem como seus desejos), essa satisfação, eu dizia, é dos sentimentos mais gratificantes que existem, e que fazem dessa profissão ainda um locus especial.

Um abraço (e parabéns, com atraso, pelo dia das mães).

QuincasB disse...

fato é que sempre se escreve para alguém