sábado, 27 de março de 2010

Peixe pequeno

Recebi hoje no meu email, um cartaz da ABRALIC. Pra quem não sabe, a ABRALIC é a Associação Brasileira de Literatura Comparada que promove um dos encontros mais bacanas de Literatura do meio acadêmico.  Eu gostaria de ir, mas há uns dois meses decidi não ir -  escolhas. Porém, ao ver o cartaz, fiquei por aqui experimentando sentimentos que não deveriam ser públicos - e ao mesmo tempo não há por que não sê-los. Lembrei do que um dia a Mari, minha melhor amiga, me disse: algumas universidades, alguns seminários, já nascem grandes. E seus organizadores, seus dirigentes, resmungam como se assim não fossem. Como se fossem grandes devido a uma batalha árdua e corajosa. O fato é que lembrei disto por que a Universidade onde estou é peixe pequeno. Nasceu peixe pequeno. E não importa o que se faça, o que se deseja fazer, continuará sendo peixe pequeno. E seus dirigentes, seus organizadores, se digladiam ou se confraternizam como se assim não fosse, porque é a forma que eles encontraram para assim não sentirem a  pequenez. 

Nesta semana, participei da aula inaugural do mestrado do qual farei parte como docente. Oficialmente, tenho minha primeira orientanda. E não poderia ser mais bacana, afinal ela é uma das participantes do  grupo de pesquisa do qual faço parte. Para retirar a medida de emoção inerente a um momento deste, problemas de toda ordem. E os salgadinhos, ah, os salgadinhos, foram por conta da boa vontade de um dos professores (não era para ser uma vaquinha?), afinal por que a Universidade deve se preocupar com isto?
 
Ainda hoje, como líder de um grupo de pesquisa, pus o meu capacete de burocrata e fui atrás de uma sala maior para abrigar os cerca de 20 interessados que, às segundas-feiras, dia do encontro, têm lotado nossa minúscula sala. Não consegui, evidentemente. Só coloquei mesmo meu capacete porque ele combinava com meu penteado. Para consertar os computadores que há por lá, não tive nenhum pudor de tirar o capacete e barganhar o meu corpitcho com um Tatupai em troca de uns serviços técnicos de informática. 

Gracinhas à parte, as verdades que me assaltam exigem respostas. Ou exigem que eu me cale. Há cerca de um mês, assisti ao filme Foi apenas um sonho. E lembro que uma das partes mais doídas é quando a personagem descobre que só suportava aquele território inóspito por que se achava diferente. Eu devo ter me identificado. Porém, já faz tempo que não me sinto diferente. Ou a minha sensação de ser diferente sempre veio acompanhada de uma desconfiança em relação a mim que preexiste a qualquer sentimento de diferença. 

Não sei se estou sendo clara. Também não precisa. O que eu precisava mesmo pôr para fora é que eu piso em território inóspito, sinto-o sob meus pés, perdendo a crença, a delicadeza. E com isso não desmereço pessoas. Não estou falando de conhecimento. Ou de competência. Estou falando de estrutura. Do fato de ser peixe pequeno. Arranho vez ou outra as escamas que me cabem como parte deste peixe pequeno, sem de fato arrancá-las de vez. O que me resta, então? 

A consciência é insuportável.  É dolorosa.
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2 Palavrinhas:

Anônimo disse...

Milena,
vc sabe qual é a resposta para a pergunta "O que me resta, então"!!! Já sabíamos da resposta:a) quando estabelecemos (embora às cegas) que não faríamos uma graduação nos moldes que a grande maioria faz; b)desde o dia em que botamos as malas na cabeça e fomos para São Paulo porque considerávamos o mundo que o TJ nos oferecia muito pequeno!!!;c) quando exigimos de nós mesmas fazer pós-graduação em lugares bem específicos e com orientações mais específicas ainda; d) quando fomos para a França e andamos, lemos, vivemos aquilo tudo com a gana de condenadas! Você só está se fazendo essa pergunta porque resolveu por numa mala (muito bem trancada!!!) a Milena que fez todas essas estripulias!!!
Bjs.
Marinalva

Rocha em Movimento disse...

Peixe pequeno cresce... se nada bem.
Ou como disse o outro:
"Sabe bem quem não é otário: O peixe no aquário nada"

Nadaremos, chegaremos e ainda seremos menores do que Paris, mas seremos maiores que ontem quando nos toldavam (mais...) os caminhos.

enfim, ao menos seremos.

Pior seria se pior fosse!
:-)))
JR