quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma casa sem a casa

Mudamos. Bem que ainda posso dizer no gerúndio: estamos mudando. Dias e dias organizando os livros.  E mais um dia e uma noite, os cds.  No dia que trouxemos tudo, caiu uma chuva de lascar. Roupas do Poeminha, na lama. Ainda estão ali com a esperança vaga de voltarem a ser brancas. E aquele ovo comprado em Paris, num bairro remoto onde fui pegar minha carte d'étudiante, este não teve jeito: quebrou. Dava para passar superbonder, mas não gosto de remendar, emendar nada. De que adianta uma beleza remendada?

Já fui menos apegada às coisas, foi o que descobri nesta mudança. Antes, quando algo quebrava, eu me consolava pensando que já tinham cumprido seu tempo por aqui. Desta vez, talvez pelo excesso de quebra-quebra e arranhões, fiquei mal humorada um par de horas; não mais que isso, pois mau humor por muito tempo é falta de educação.

Foi o susto. Não menos do que uma centena de caixas. É o que dá ter uma casa sem de fato ter a casa. No fundo, passamos a vida no provisório, mas procurando viver como se assim não fosse. Agora, olhando em volta, consola-me ver tudobonito. Ok. A pia da cozinha ainda não chegou. Tatupai ainda não organizou a sua estante de tralhas. O ainda. Mas como diriam os mais velhos, o pior já passou. E muito por causa da minha compulsão de fazer tudo o mais rápido possível.

Espanta-me a quantidade de vezes em que ouvi que mudança é assim mesmo, demora dias, meses - até anos - para pôr tudo em ordem. Não, não. Não consigo. Só senão fosse filha da minha mãe. Meu desejo é fazer tudo logo para que assim a vida comece a andar em outro compasso. Sinto falta do outro compasso.
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1 Palavrinhas:

Sergio disse...

É...Eu sei como é isso.

O tempo passa e a gente junta tralhas...depois tem que viajar pelo mundo carregando a casa nas costas que nem caracol (eheheheh)

Beijos ensolarados do começo da primavera.