quinta-feira, 7 de março de 2013

filminhos

assisti a muitos dos filmes que concorreram ao oscar. se as leituras continuam aquém do desejado, deixando-me sempre aflita com essa demora, com o tempo encolhido, ver filmes tem sido um modo de recuperar uma vida que roubei de mim, envolvida entre tantas tarefas.

e ao ver os filmes oscarizados, com esse peso do que é muito importante, instantaneamente recuperado, fez com que eu fosse mais crítica do que geralmente sou. ou antes:::: por um lado, empolgação por estar me dando este tempo, por outro, uma certa decepção diante dos "resultados". não sei bem definir.

não há do que duvidar que Amor, de Michael Haneke, é um filme dolorido, que provoca uma espécie de horror que só a dor pode causar . há ali uma incrível coragem de mostrar a inevitabilidade do tempo que passa. como se. como se não importasse o quão interessante possamos ser, próximo do fim, se ele não chega de modo inesperado, seremos sempre um fardo. Amor só não me impressionou mais do que A fita branca, do mesmo diretor, que também assisti agora. Assisti também a Tempos de lobo e, embora tenha gostado bem mais do que Lilian e Rô que viram comigo, o certo é que Amor é muito mais impactante do que essa fábula dos fins do tempo que é Tempos de lobo. Dentre todos, Amor é o que deveria ter ganhado a estatueta de melhor filme. E é um filme que depura toda a disposição para o segredo de Haneke.

e eu gostei muito de Argo. O suspense, a tensão, o manter teso o "arco da promessa" é uma grande qualidade do filme. mas ainda agora me pergunto o que o fez ganhar todos os outros grandes prêmios que culminaram no prêmio de melhor filme. e teimo em pensar que, apesar de ter o dom de manter a atenção em alta, não, não é um filme excepcional, não é o "melhor", mesmo que não haja um outro para ocupar o lugar. não entre os que constavam na lista como "oscarizáveis". fiquei com a impressão que é gesto desesperado de hollywood para nos fazer crer na perspicácia e na eficiência da inteligentsia americana. e por outro lado, se pensarmos cinema como entretenimento, sim, talvez.

e lincoln. ah, gostei. inclusive do escuro. e do tédio. sim, é um filme que entedia. se era para lincoln ser o grande homem carismático, ficou mais a imagem de um homem que entende da dor. e entre argo e lincoln para melhor filme, eu teria escolhido o último. acho que há também aí uma espécie de revolta:::: a cada vez que spielberg faz um filme "sério", há um levante contra, como se ele não pudesse fazê-lo. e isso me cansa.


alguns filmes não entendi porque estavam lá. O que é A indomável sonhadora e mesmo O lado bom da vida, como oscarizáveis? bem, a própria academia já deu a resposta, ignorando-os quase que solenemente, embora tenha dado o oscar de melhor atriz para Jennifer Lawrence. O roteiro de O lado bom da vida parece ser um daqueles de sessão da tarde, só que com mais drama. O desajustado que se recupera porque encontra o amor de sua vida (que lhe mostra como a vida pode ser bonita quando se tem um objetivo "bonitinho") é um enredo "universal". Nesse sentido, As vantagem de ser invisível é muito mais interessante, porque trabalha com as mesmas estereotipia do gênero e coloca ali um dado totalmente surpreendente. E A indomável? Gosto muito da estranheza, mas quando fica parecendo muito over, sem um objetivo claro, me incomoda. 

e ainda teve Os miseráveis, Django livre (Tarantino é uma história de amor antiga)... E outros filmes antigos, não tão antigos. safra realmente boa. 

mas se pareço rabugenta, não é que eu não goste da ideia do Oscar, ou de premiações. pode parecer fora de moda, mas eu não sou daquelas que discorda da força dos especialistas, dos críticos. em tudo há um filtro, uma perspectiva. a perspectiva do Oscar é clara = a de legitimar o que é feito no solo norte-americano e, mais ainda, em Hollywood, com a força do que isso significa. o que me incomoda mesmo é essa indecisão, que advém fatalmente da obrigatoriedade de se adequar aos novos tempos. ficar pondo filme com jeito de "independente", mas já mostrando de cara o que de independente pode entrar, não vai apagar os traços conservadores dessa instituição. e convenhamos::: algumas instituições só têm graça, se é que têm, porque são o que são.

afora a isso, que prazer assistir a filmes, nem que não possa ser mais no silêncio - Poeminha está sempre por ali a demandar algum tipo de atenção. E há as amigas que vêm, os horários que não batem, a vontade de ver mais. 
 
é bom ainda assim. ou porque é  assim. ponto.



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1 Palavrinhas:

Teoliterias disse...

Olá Milena; vamos tricotar pela blogosfera; legal sua análise; adorei ler; como sempre um texto rico em referências e ferramentas de análise; (o arco da promessa); talvez mais radical que você e empiricamente falando, achei uma safra não muito boa; O oscar é nitidamente um construtor simbólico de valores, que adere à própria cultura americana; um "rating" que determina nosso olhar e nossa direção na arte de consumir e perceber as obras cinematográficas; mas acima de tudo, parece-me um mote para deglutirmos a alegoria americana goela abaixo, a cultura "Universal" do roteiro de minorias e espionagem "cult politizado" com a personagem "empreendedora" que o americano gosta de consumir; (sempre tem estas temáticas); o Oscar está precisando remexer seus paradigmas e construir filmes de entretenimento com melhor equilíbrio entre o pop e o cult; um grande abraço