quinta-feira, 9 de abril de 2009

momentos antes

rituais. alguém escapa deles? me preparo para escrever sobre o que não gosto. busco uma linguagem para o que não gosto, mas a certeza de que os futuros leitores também não gostam nem gostarão me atrapalha. talvez um dia deem de cara com saramago, cardoso pires, antonio lobo antunes, se tiverem sorte. para me consolar, lembro que vou ganhar uma boa grana. o que parece ser uma boa grana. penso no quarto do bebê. aquele, como tenho imaginado. talvez assim a escrita flua. ser um prostituta eventual das letras tem lá seu charme. alguém pagando pela minha escrita não soa tão mal. miles davis para acalmar. a arrumação da casa não serviu desta vez. só para sentir falta do que falta. sinto falta da coca-cola. de um armário de cozinha, de um sofá. talvez seja apenas a tarde quente. muito quente. vai chover, é quase certo. talvez um chá. ou esperar a chuva cair. ou simplesmente começar a escrever. talvez começar assim: "talvez vocês estejam se perguntando o por que de estudar literatura portuguesa clássica e medieval. eu mesma me pergunto para que ensinar. uma boa resposta talvez seja que a literatura é um moto contínuo; quanto mais entendemos seu passado, melhor lemos o seu presente". seguir por esta linha, tentando manter a relação com o presente. que se foda quem vai ter que dar aula a partir do que eu escrever. pior seria se fossem os alunos a se foderem. sim, vou começar. tirar os "talvezes". lembrar de colocar as maiúsculas. e misturar as cantigas trovadorescas com as canções do Chico; as crônicas de Fernão Lopes com as de Nelson Rodrigues; Camões com Drummond, Caetano e Haroldo de Campos - fazer a máquina do mundo girar. e dar um pontapé nesta ementa. um pontapé de leve. quando eu achar que estou exagerando, retroceder um pouco. mas manter a linguagem viva. sim. manter a linguagem viva. lembrar de Barthes escrevendo sobre Racine, Loyola, tão ou mais apaixonado pelo passado quanto pelo presente.
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