domingo, 1 de novembro de 2009

Loki, de Arnaldo Baptista

Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?


Loki
é um cd excepcional. Lançado em 1974, no ano em que nasci, continua tão belo, tão atual, tão visceral, como se tivesse sido lançado ontem. Minto. É dificil encontrar um cd hoje em dia que tenha tanta verdade - sabe quando quase se vê as veias latejando, aquela dor latente, demorada? é assim o cd de Arnaldo Baptista. Eu nascia enquanto ele ia cada vez mais longe na sua caminhada rumo à morte. Salvo por um anjo depois de alçar voo, virou menino outra vez. É o que se pode ver no documentário que carrega o mesmo nome deste cd. O documentário é lindo, mas não é visceral como o cd. Falta a dor que está exposta em cada música. Como ele é um sobrevivente, retiraram a tristeza do documentário. Mas a tristeza está no cd de 1974 e está também no último que ele lançou - Let in bed. Mesmo menino, Arnaldo está marcado. Viver a vida como se ela fosse arte tem seu preço. Ou não é nada disso. Talvez tudo seja tão difícil porque o que ele experimentou foi "o barato de ser ser humano". E como é dificil "ser ser humano!" Não há fórmulas. Às vezes, pensamos que estamos no rumo, que está tudo certo, aí vem o vento e leva tudo. "Será que é difícil esquecer os males?". Ou a gente se brutaliza! É tão perturbador ouvir um cd desse tipo. Parece que doi. E ao mesmo tempo dá uma felicidade, uma alegria por estar viva e ter tido a oportunidade de ouvir uma belezura desta. Ah, viver é tão perturbador. Tem destes encontros que nos dão tudo e nos tiram tudo. Arnaldo viveu isto de modo extremo. E ele sabia disto: "O que é isso, meu amor?/ Será que eu vou morrer de dor?" Sim, morreu. Mas o anjo estava bem ali para fazê-lo menino outra vez. Ainda bem.
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* postagem para o Tatupai, que amou este cd desde a primeira audição e que a cada vez fala dele com os olhos brilhando.
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