terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As histórias reais de Sophie Calle

As histórias da artista plástica Sophie Calle perdem um pouco da sua força quando destituídas das enormes fotografias em que costumam estar em exposições pelo mundo afora. Foi assim que eu as vi, inicialmente, no Centro Pompidou, em Paris, e, depois, na Bienal de São Paulo de 2008. Talvez por isso, quando eu li o  seu livro publicado no Brasil, pela Editora Agir, intitulado Histórias reais*, eu não tenha achado nada demais, embora elas tenham me impressionado bastante quando as vi expostas. Acho que a questão é mesmo de suporte. Dizendo rasteiramente, no livro, as pequenas histórias, ilustradas por imagens, assemelham-se a postagens de blogs. Por mais ternas, inusitadas, engraçadas que sejam, não têm a força da arbitrariedade.

Dizendo rasteiramente, claro, porque o trabalho desta francesa, no campo da arte, é, no mínimo, perturbador. Trata-se de fazer com que a arte estabeleça cumplicidade com a vida, escondendo o máximo possível o intervalo que há entre uma e outra. E nós, ouriços, como que espiamos pelo buraco da fechadura da vida, quando, de fato, observamos performances artísticas. Tudo milimétrico. Um pequeno escândalo, tamanha proximidade. Eu vejo como que barreiras ruindo; tanto a vida como a arte movendo-se, cada uma no seu terreno, em corda bamba. 

E algo em Sophie Calle tremula entre a delicadeza e a ironia, tanto em relação à exposição da vida quanto à feitura da arte. E eu gosto muito disso. As imagens, se sozinhas, podiam fazer parte de um catálogo de fotografias. E os textos, de um livro de contos ou de poesia. Mas, aqui, a voz que se diz "eu" arrisca tudo na junção, porque ela é ao mesmo tempo autora e protagonista. E é com essa autoridade que ela diz tratar-se de histórias verdadeiras. É essa junção que causa nosso gesto, seja de proximidade, seja de repulsa. Quanto a mim, que sempre acho interessante quando não faz sentido perguntar o que é ou não da ordem da verdade,  gosto demais. 

* No original, Des histoires vraies.
** Esta imagem faz parte do livro.
:)
:)
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1 Palavrinhas:

Anônimo disse...

conheci o trabalho de sophie há pouco tempo - a partir deste livro (que comprei recentemente, mas ainda não li todo...)

mesmo tendo feito uma leitura 'rasa', tive essa impressão citada por você: os textos, junto as fotos, me pareceram postagens de blogs.

por vezes, achei as fotografias - o termo me foge agora... - mas, digamos 'densas', do que o próprio texto. claro, não estou cobrando, quem sou eu, de um texto 'pesado', por parte de sophie, mas penso que, cada um funcionaria separadamente - e nós, leitores, poderíamos construir um outro sentido para essas narrativas (seja imagética ou textual), o nosso sentido.

enfim... talvez eu tenha viajado demais com esse comentário, rs.