quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O filho da mãe de Bernardo Carvalho

Eu já disse aqui como Bernardo Carvalho me mantém presa com a sua devida distância. Retorno sempre, curiosa sobre ele. Desta vez, foi O filho da mãe. E gostei. Eu li de um golpe, como há tempos não fazia. Não me distanciei do contrato que originou o livro: um mês em São Petersburgo e, a partir daí, escrever uma história de amor ambientada nesta cidade, no projeto  "Amores expressos", da Companhia das letras. 

Sorte e azar de Bernardo Carvalho. Dostoiévski esmiuçou todos os dramas humanos espalhando-os pelas ruas desta cidade. Para nós, só existe uma São Petersburgo, e por ela caminham os seres mais angustiados que jamais existiram. Fiz esta relação de imediato, quase sem querer, e talvez por isso não tenha me espantado com a narrativa de Bernardo que quase conta, deixando um pouco de lado aquele cerebralismo que não me deixa amá-lo totalmente. Não é que O filho da mãe seja uma narrativa linear; estão lá os volteios, as várias histórias, os enigmas, as lacunas. 

O que eu senti de diferente é que, neste, há mais sentimento ou, em outras palavras, melodrama - meu amigo Marcio achou o mesmo e, por isso, não gostou muito. Há aquela voltagem emocional que nos faz derramar uma e outra lágrima. Uma avó, a todo custo, quer tirar o neto do meio da guerra. O filho, insistentemente, quer falar com a mãe que lhe abandonou. Dois homens têm o encontro mais improvável que se poderia ter, e se apaixonam, e noite após noite buscam um ao outro também de forma improvável. Outros filhos, outras mães, marido. E uma Rússia, uma certa ideia da Rússia, arrastando a todos com a sua crueza. É mais ou menos isto - com um final rocambolesco, mas com passagens memoráveis.  

2 Palavrinhas:

Milena Magalhães disse...

Halem, Halem, pra você ver... em literatura, quanto mais a gente corre atrás, mais maravilhas encontramos! Eu nunca li Luiz Ruffato, mas ele está há tempos na minha lista de desejos. E aí, vale a pena?

E sim, eu quero chegar na idade das releituras. Por enquanto, as leituras, as leituras.

Um abraço grande.

Halem Souza disse...

Milena, acho que você não vai achar Luiz Ruffato interessante não, hehehe. Mas falando de Bernardo Carvalho. Eu não li ainda O filho da mãe (e faço questão de frisar o "ainda" porque gosto bastante desse escritor).

E você fala do cerebralismo dele. Veja como são as diferenças entre os vários tipos de leitor: é justamente o cerebralismo que mais me atrai na sua obra, principalmente em Mongólia!

E o seu amigo não gostou da "voltagem emocional" e talvez esta também me desagrade. Mas você diz que há personagens memoráveis. Isso é bom, já que é a construção de personagens o que menos me encanta em B. Carvalho, como aconteceu em Nove noites

Um abraço e grato pela dica.