segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pensamentos insones

Minhas "mínimas promessas" nunca fizeram tanto sentido para mim como agora. Talvez eu tenha me enganado, e, de fato, algo de diferente em mim esteja vindo lá de dentro. Talvez porque não dê mais para ser como antes. Porque antes eu era imortal. Mas Poeminha tirou parte da minha imortalidade. E Guillain-Barré, a outra.
.
.
.
Ora turbilhão, ora uma paz. 
:
:
Pedro foi embora. E a casa ficou como que vazia. Poeminha procurou-o pela casa: "uh, uh, uh". E quando percebeu que ele não estava, franziu a testa, arregalou o olho e levantou a mão, naquele gesto de quando se perde algo: "aaaah". "Eh, filho, mesmo as pessoas amadas se vão".
:.(
:.(
Ler Anna Karîenina tem sido maravilhoso. E neste ritmo que pausa arbitrariamente, então.... Clássico é clássico. Basta começar a ler para sentir uma volúpia; prazer puro. E por várias vezes nesta semana, me peguei pensando - com um meio sorriso nos lábios - de como é mágico ler um livro sabendo que ele foi escrito há mais de 100 anos (Tolstoi escreveu-o entre 1873 e 1876). A literatura nunca vai morrer. E a ideia de grande literatura, também não, embora... Embora seja tão démodé pensar este tipo de coisa neste mundocão. 

Geralmente, tem sido a primeira coisa que faço quando acordo. E durante o resto do dia, fico pensando no romance. Por vezes, é a técnica que me impressiona, e eu comento em voz alta sobre alguma parte, ora pro Tatu, ora pra Vovóziza, que tem me dado uma mão com o Poeminha, e eu, com a sua monografia. 

A primeira frase do romance é para nunca mais ser esquecida: "Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira". E o modo como Tolstoi nos faz saber do "clima" entre Vronski e Anna, muitas páginas depois desta primeira frase, é soberbo. Ao invés de narrar de forma direta, tudo se passa através da visão de Kitty, a "abandonada" ante tamanha paixão que recobrirá tudo a partir de então. Ela é atravessada, perfurada antes de todos. É este olhar atônito que acompanhamos.  Nada menos que genial. 

Várias outras partes são um assombro. É uma aula de romance, de como este era antes de ser "varrido", "deformado", até ser hoje quase irreconhecível como gênero. E de repente, eu fiz outra descoberta - que depõe contra mim: o que sinto falta em Bernardo Carvalho (que li recentemente), é do impossível, porque ele é nosso contemporâneo, e o que espero dele, porque ele é um bom contador de histórias, é menos peripécias, e mais HISTÓRIA - como se eu quisesse transpô-lo para outro século. Perdoe-me Bernardo, perdoe-me. Eu não sei o que sinto...
:) 
:)

2 Palavrinhas:

vovó ziza disse...

acho que entendo vc. por mais contemporânea que eu queira ser o romanção é romanção.Envolve como uma sucuri,já que estamos na amazônia rsrsr.esmaga e sufoca num prazer danado de bom,bjs

Milena Magalhães disse...

Nilza, eu não criaria uma imagem melhor: sim, envolve como uma sucuri! É como se fôssemos ou conhecêssemos todas aquelas personagens!