quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Festival Calango


Três dias de rock in roll na cidade de 40 graus. Cuiabá mais parece uma grande caldeira. As noites, uma grande caldeirada. Calangos por toda parte. 44 bandas. Chegamos sábado, no segundo dia; eu e minha melhor amiga; ela, depois de 24 horas de ônibus. E eu, 12. Encontros no meio do caminho. Eu gosto da imagem do meio do caminho. E gostei de muitos outros momentos: picolé no fim da tarde, asfalto queimando embaixo dos nossos pés, cineminha, um não ter o que fazer calmo e prazeroso; óculos novos para a ceguinha, DVDs para as noites longas, CDs para os ouvidos moucos, blusinha cheia de flores, decisões para o porvir; algum assobio, muitos assombros. Foi bom demais.

Calma que eu não virei roqueira aos 33 anos. O que me levou a ir é esta minha velha vontade de conhecer o que ainda não conheço. As páginas da net haviam me levado ao myspace. Porque sim. E por que não? Por isso, queria ver o Cérebro eletrônico. E Porcas Borboletas. E Vanguart. E vi. O Cérebro, com seu pop sensível, bebe na fonte doida e delirante do tropicalismo, mastigando muitas referências. Adorei desde que ouvi. Porcas é irreverência, poesia, performance, inteligência e sarcasmo. Os poemas de Danislau Também vieram na minha mochila. Reconheci de imediato um texto da Clarah Averbuck (preciso contar meu encontro com esta moça nas madrugadas insones!); é assombroso como eles fazem a prosa virar música. Vanguart, ah Vanguart, virei fã. Uma molecada sabida demais tocando folk. O guitarrista e vocalista, que também toca flauta, fazia lembrar não apenas Bob Dylan, mas também John Lennon, Mick Jagger, Kurt Cobain... todos estes deuses meninos que brincam de pecar. Eu fiquei realmente impressionada com a sua força e segurança no palco. E comentei com a Mari que não há nenhuma categoria de músico mais sexy do que a de roqueiro. E não apenas eles me pareciam comprovar que isso deve ser verdade. Tem uma energia em todo grupo de rock que vem junto com as performances ao vivo que é dificil se repetir no CD.

Aqueles que me pareceram fazer som sem nenhuma pulsão criativa, apenas seguindo o trilho que já está lá atrás, não mexeram muito com meu ouvido pouco habituado com a barulheira. Mas as bandas que, a meu ver, carregavam uma pulsão criativa, fazendo uma sonzeira do caralho (esta é a expressão mais repetida pelos roqueiros), me deixaram entusiasmada com o que descobri. A banda Do amor é uma delas. O título me pareceu meio adolescente, mas as letras têm um quê de nonsense delicioso, além do balanço. Eles são do Rio de Janeiro, mas têm tantas influências nordestinas que me deixaram zonza de alegria. Caldeirada. Entre um show e outro, uma cerveja e outra, levantei os dois polegares num sinal de positivo para o guitarrista. Em um instante, ele já estava por ali chamando para ver o outro show de perto. “Oh Gustavo, valeu pelo papo no pé de ouvido. Você tem razão: Filomedusa e Cérebro eletrônico são do caralho!”

No domingo, ficamos meio desanimadas com as bandas do início, mas o que veio depois foi uma loucura. Uma me parecia melhor que a outra. Cabruêra, que veio lá de Várzea Grande, na Paraíba, foi para mim o ponto alto, se não fosse a garotada do Vanguart, que encerrou a festança. Cabruêra é um caldeirão de invenção: toda a cultura nordestina está ali deglutida, devassada, numa performance enlouquecedora do seu vocalista, que dançou no meio do público, que gritou na lata dos meus ouvidos a tão conhecida Carcará totalmente renovada num frenesi musical incrível: “Carcará pega, mata e come”, foi o que ele berrou. E eu achei que é isto mesmo: estes grupos que eu citei, e outros que meus ouvidos não souberam alcançar, estão por aí, na cena independente, pegando, matando e comendo toda uma diversidade para fazerem música de alta voltagem e qualidade.

Ah, e esqueci a Curumim, a Macaco Bong... é; gostei mesmo.
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4 Palavrinhas:

Sergio disse...

Oi Milena dos meus corações ensolarados....

Não falei que o macaco bong era legal? Tem um outro daí das Rondônias que também é um arraso! (talvez já conheças) chama SODA ACÚSTICA (como diria nosso amigo poeta B..., isso que é um Trocadalho do Carilho)

São ex estudantes de letras..ehehehe

Ganharam o rumos do itaú cultural este ano.

Beijo Beijo

ps..: Bom vê-la na velha forma....

dade amorim disse...

Gosto de ver o entusiasmo dos outros, que é coisa que pega mais que virose ;)
Não conheço nenhuma dessas bandas, mas posso imaginar como foi bom.
Beijo menina.

renata penna disse...

bom, não conheço as bandas, mas indicação tua merece respeito! :-)
não sou lá muito roqueira, mas como você disse, é sempre bom se abrir ao que não se conhece, não é mesmo? que graça teria se a gente só vivesse do que já sabe?
só discordo de uma coisa: acho que o músico mais sexy é o estilo banquinho e violão... hehehe.
bjos!

Anônimo disse...

Eu e meus preconceitos... Milena, se tem uma coisa pra qual eu tenho pouca paciência é o tal do indie rock. Mas eu ainda aprendo...

Um abraço.

P.S. E o lado direito do seu blog recuperou aquela "cara" do blog antigo. Ficou bacana!