terça-feira, 5 de agosto de 2008

Merci, jesuscristinho


Já estou me acostumando com as manhãs felizes. Um dia, é o interfone com meus CDs. Em outro, é descobrir que minha conta corrente amanheceu azul depois de meses. Todo mundo sabe que é roubada conta vermelha; é uma sangria sem fim. Mas esta mudança, estes desejos todos... Agora tudo certo; tudo azul. Vou fazer cofrinho para ir bem ali. Esta é a outra manhã feliz. Descubro que vou bem ali. Cúmplice. Tendo lado a lado pessoas que acreditam. Que desejam. Que me dizem que minhas asas devem ficar bem aqui onde sempre estiveram. Obrigada, meus amigos. Tendo vocês a me ouvirem, eu posso até sofrer. Não sei bem como lidar com esta dor, porque não sou de sofrer, mas vocês me ensinam. E me dão manhãs felizes. Logo a mim que não via manhãs. Vozes de longe cuidam de mim, pondo no colo, alisando meu cabelo. Eu posso até com esta dor no pescoço indo para o braço e me deixando mole; e posso com este remédio me deixando sonolenta. Eu posso. Não é por nada, mas meus amigos são fodas. Merci!

E tem tanta doçura. Machado e seu alienista. É bom demais. Me reencontrei com Machado no seu centenário. Ele está espalhado pela casa toda. Ontem me deu boa noite com aquele olhar de ressaca; atrás dos óculos sérios. E as Chicas; o balanço de Ludov e Cidadão instigado fazem um barulho danado. E este fofo do Rômulo Fróes canta e minha alma toda se esgarça enquanto pensa: “canta assim não moço, minha alma em pedaços vai se jogar desta varanda e lá embaixo tem apenas tetos de zinco me esperando”. E eu gosto. E tem Nina Simone às alturas às três da manhã só porque eu tive a idéia de escrever um conto com pitadas eróticas. E a pus lá dentro com sua voz cheia de melodia torturada. Tudo isso até o vizinho bater a minha porta. Do vizinho conto depois. É que meu chão estremecia sobre a cabeça dele.

Som baixinho, Nina Simone sussurrou até que eu, exausta, dor no pescoço, também caísse nos braços de Morpheu. Merci, jesuscristinho, por ter me dado insônia, bom gosto, bom humor, as lágrimas e Nina Simone para embalar tudo isto. Porque, depois das primeiras 48 horas, eu acordei com vontade de fazer TUDO. E como estou aqui, trancafiada, eu vou fazer TUDO do único jeito que sei: indo para o abismo. Que é uma miragem. Que é uma imagem. E é um jeito bom de viver inteira. De viver o porvir, esta palavra que aprendi naquele lugar frio.
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3 Palavrinhas:

Marilza Gusmão disse...

Oi, minha linda!
E como já fui tua vizinha, durante um tempo mágico em nossas vidas, ao ler esse seu texto é como mergulhar de volta neste período que foi tão especial para nossas vidas... A música alta, o falta de grana, a compulsão por CDs, a troca do dia pela noite... E a saudade bate, e penso, será que parte desse "dindim" vem para Belém me ver?! Quem dera...
Beijão florzinha, saudade!!!

Anônimo disse...

Ué, por que é que você não leu um trecho do conto que estava escrevendo ou um pouquinho de Machado de Assis pro vizinho ficar mais camarada? Não, melhor não, tem hora que a Literatura está mesmo fora de lugar.

Um abraço.

P.S. Também falei de CDs que chegaram a mim, na minha última postagem. E falei um pouco de solidão. Se puder ler, eu acharia bacana.

renata penna disse...

ô, dilícia! :-)
fez minha manhã (já meio tarde) mais feliz...
bjo!