sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

na rede

ontem, na rede, curtindo uma daquelas ressacas derivadas pelas excursões ao mundo de baco:

"O círculo se fechou. Nada termina jamais. Onde quer que alguém plante raízes brotadas do seu eu mais puro ou verdadeiro, ali encontrará um lar".

na noite anterior, aquela do cristo e do papai noel, vinho do porto bebido como se fosse vinho italiano, argentino, chileno, se não fosse tão doce. mas tinha o italiano, o chileno, os dois argentinos. e tínhamos nós emoldurados de beleza. e tinha a música, a que amamos. a isto não nomeio para que fique apenas a memória de uma noite feliz de natal que mais pareceu uma noite pagã. a de nós quatro. talvez uma das mais felizes noites de natal da minha vida. se é que houve muitas. nunca uma com tanto vinho e tanta doçura. este natal finalmente existe. e com direito a presente. mais um. e lindo.

quanto à citação, é de Liv Ullmann, da sua autobiografia Mutações. antes mesmo de ler meus livros essenciais, eu provo a impureza dos gêneros. ultimamente, muito interessada em livros que não são estritamente literatura. o outro livro pela metade é Uma viagem pessoal pelo cinema americano, de Martin Scorsese - é de enlouquecer de vontade de ver os milhares de filmes comentados. e os outros dois que acabei de ler - Um castelo de pureza, de Octavio Paz e Um diário de Florença, de Rainer Maria Rilke, também fazem parte destes gêneros impuros: o primeiro é um ensaio (brilhante, diga-se de passagem) e o outro, como o próprio nome diz, é o diário de um poeta, escrito para a sua interlocutora ausente, Lou Salomé, por quem ele estava apaixonado. e estou no segundo tomo de O último round, de Julio Cortazar, dois formidáveis exemplares do que a escrita pode alcançar quando faz da colagem, da impureza, o seu limite. pois assim o limite passa a ser não ter limite.

sim, eu não me reconheço. e se choro e se sorrio, também leio desesperadamente, como se fosse uma questão de identidade, como se minha já enorme biblioteca me exigisse o tempo que não tenho e que, culpada, roubo das tarefas que deveria cumprir. agora mesmo, estou cumprindo uma, mas me disperso e venho aqui, me disperso e leio 20 páginas de Mutações, quando deveria estar fazendo uma proposta de ementa para o mestradoquenemseisevaiexistir. perplexa, sinto que não sei o que quero dizer aos alunosseporventuraumdiaexistirem. talvez como rilke, tudo que eu queira dizer seja, "leiam". não importa o quê, desde que esta leitura lhes faça perder o sono. e suas tarefas. se assim for, a leitura vai ter deixado de ser mero passatempo e terá se tornado algo vital, essencial, na vida; como eu acho que é na minha vida. e na vida de meia dúzia de pessoas que eu tenho o prazer de conhecer. mas no mundocão de hoje, ser e sentir desse modo é muito perigoso. sobretudo, impróprio.
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3 Palavrinhas:

Cristina Soares disse...

ai ai ai uma boa leitura me faz perder o sono mesmo Fico lá, colada no livro, lendo lendo lendo até chegar ao fim !!! que beleza !

dade amorim disse...

Que bom que o natal foi assim de bons vinhos, boas companhias e virou uma das lembranças que na certa vão integrar o que você vai escrever pela vida afora!
Estou lendo Lobo Antunes, um português de tirar o sono. A pilha que ainda falta ler, os filmes para ver (ontem vi Juventude, bem legal) não cabem no que me resta de vida.
Um 2009 de vinhos, livros, filmes e acima de tudo gentes ;)
Beijo beijo.

renata penna disse...

esse livro é um da minha cabeceira. releio sempre. lindo demais...