"Todo povo quer ver no palco apenas o padrão mediano de sua própria superficialidade; seria preciso, portanto, entretê-lo com heróis, música ou loucos".
Schelegel, em O dialeto dos fragmentos.
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admiração profunda por algumas pessoas. alegria por elas existirem e por fazerem parte da minha vida. algumas palavras que me dizem são verdadeiros tesouros. esta admiração me faz ir avante e, muitas vezes, retroceder. vontade de escutar. como escuto esta senhora-alma-de-menina que vem aqui nas tardes quentes e me hipnotiza com suas histórias. para agradecer, fico com vontade de rezar em silêncio as orações que nunca aprendi. é meu universo particular, a exemplo de marisa monte, a quem assisto ao DVD e choro. um choro que é memória do passado e agradecimento pelo presente. é uma estocada de emoção à cata daquela noite em que andei de bicicleta por paris, depois de chorar por duas horas durante seu show. quando a revi em são paulo também estava frio. mas não houve caminhada solitária pela cidade. as noções de distância e de emoção já devidamente diferenciadas.
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brinco de gangorra com o cartão de crédito nas livrarias eletrônicas - mil e um interesses e obrigações. devido ao ódio ao romantismo indianista desta terra tupiniquim, impor aos alunos o romantismo de todos os mundos. que eles saibam que a literatura vai muito além de um josédealencarzinho obrigatório. mil e uma intenções que sem que eu perceba finalmente me dão um corpo de estudo, e não apenas de leitura. rasbico textos, corrijo outros e salvo e compro uma bibliografia em português, pois é de literatura brasileira que preciso enquanto leio no domingo chuvoso thomas bernhard, este austríaco abismal. em cada linha, a expressão do horror. admiração profunda. um certo oco advindo da estocada no estômago devido a palavras tão fortes. o que é a vida senão este sucessivo movimento de contratempos. ainda thomas bernhard.
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também brinco de gangorra com a música. o canto dos escravos de clementina de jesus, tia doca e geraldo filme me lembram de imediato porque amo a música apesar do meu ouvido tosco. eu queria dizer ao mundo, e que todos ouvissem, que o cão de rômulo fróes, assim como o sou-nós, de marcelo camelo, são caixinhas de preciosidades inigualáveis. deixando as formigas corromperem meu querer de deus, eu vou abrir um desvão e ouvi-los um a um, reiteradamente, com este moço, enquanto nos embebedamos de vinho, e eu falo ou silencio, sonolenta e feliz, e ele fala e silencia, insone e belo.
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Estas frases abaixo são do voltume 1 de A volta ao dia em 80 mundos, dois livrinhos geniais de Julio Cortazar, indicação que eu fisguei nos dias maravilhosos que passei na casa da Dêamada, em São José do Rio Preto - aquele tipo de cidade que amo porque amo algumas pessoas que lá habitam. Devido à fisgada, eu li também os dois volumes de Último round, que têm a mesma estrutura. Se estes livros não tivessem sido publicados há mais de 40 anos, com certeza teriam sido, antes, blogs. Suas estruturas anti-estruturas, que aceitam como oferendas todas a sorte de colagens, são pequenas máquinas de invenção, criatividade, humor, ironia, ternura, etc. etc. etc. Cabe muito nestes etc.: poemas, ensaios, contos, notícias, desnotícias, fotografias do Cortazar e de outros, desenhos ... A ideia parece ter sido registrar tudo que lhe interessava, como um grande caldeirão onde se faz uma sopa com todos os restos da geladeira. E quem já leu qualquer outro livro deste escritor deve saber o quanto ele é genial (de fato, este é um adjetivo que se pode abusar ao nos referirmos a ele). Para mim, Todos os fogos, o fogo é um dos melhores livros de conto de toda a literatura. E O jogo da amarelinha é daqueles livros que esticam ao máximo qualquer conceito de literatura. Porém, deixemos de conversa, e vamos às frases, não sem antes confessar de que eu adoraria tê-las inventado e que elas pudessem representar o que, para mim, é este "Nenhum lugar": 

