Em que eu acredito?
Na vida privada
Em mostrar cultura
Em música, Shakespeare, prédios antigos
Os diários são os blogs de antigamente. Mas eu que tenho pilhas de diários, no mesmo instante em que escrevo essa frase, discordo dela. Porque por mais que digam que quem escreve diário espera ser lido, não é bem assim. A possibilidade de não sê-lo faz com que escrevamos coisas que jamais escreveríamos em um blog - escancarado na sua essência. Duvido que Kafka, nos seus diários, sangraria daquele modo se fosse em um blog. Ele sangra na sua literatura, mas tranvestido de "ele". Ficção. A primeira pessoa do singular, para quem tem algum bom senso, é poderosa. Obriga-nos a selecionar.
Pensava nestas coisas lendo o primeiro volume dos Diários, de Susan Sontag. Não leio muito este gênero, mas Sontag é uma figura que dá vontade de saber mais. Amou o que eu amo - Roland Barthes. Uma norte-americana fascinada pela Europa. E que registrou seus pensamentos em mais de 100 cadernos durante toda a vida. Este primeiro volume compreende os anos de 1947-1963. Sontag é muito jovem, são seus anos de formação. Em todos os sentidos. Os diários são antipáticos. E o que há de mais interessante é perceber como ela tinha medo de ser lida: enquanto esteve casada, numa relação heterossexual, há uma impessoalidade que beira à obsessão. Depois, ela se solta, é a queda livre sem rede de proteção. Assume todas as dores e as delícias de suas relações homossexuais. E isto acontece justamente quando vai para Paris. Fica a impressão de que lá todas as experiências são possíveis.
Os diários dão a medida exata da sua obsessão pelo saber. Listas e listas de livros a comprar, de filmes vistos e a ver. E muita música, sobretudo clássica. E há também muitas citações de outros autores. E aquelas bizarrices que nos fez refletir - eu e Bozoca - que diário publicado post-mortem deixa sempre a dúvida: deveriam ter sido publicados quando a autora não o fez em vida? A bizarrice mais recorrente: ela não gostava de tomar banho. Escreve inúmeras vezes sobre isto. Martiriza-se por que não gosta. Fica feliz quando sente que está progredindo. Vejam. Uma intelectual respeitada, admirada, "e é capaz de a partir de agora ser lembrada por causa disso". Tudo se resume, assim, à imagem. É a imagem que é flechada, condenada, nos diários que supostamente não serão lidos.
Agora, é esperar pelos outros dois volumes que sairão. Porque esta é uma característica deste gênero: ao mesmo tempo que causa em mim um fastio, causa também um fascínio.
Pensava nestas coisas lendo o primeiro volume dos Diários, de Susan Sontag. Não leio muito este gênero, mas Sontag é uma figura que dá vontade de saber mais. Amou o que eu amo - Roland Barthes. Uma norte-americana fascinada pela Europa. E que registrou seus pensamentos em mais de 100 cadernos durante toda a vida. Este primeiro volume compreende os anos de 1947-1963. Sontag é muito jovem, são seus anos de formação. Em todos os sentidos. Os diários são antipáticos. E o que há de mais interessante é perceber como ela tinha medo de ser lida: enquanto esteve casada, numa relação heterossexual, há uma impessoalidade que beira à obsessão. Depois, ela se solta, é a queda livre sem rede de proteção. Assume todas as dores e as delícias de suas relações homossexuais. E isto acontece justamente quando vai para Paris. Fica a impressão de que lá todas as experiências são possíveis.
Os diários dão a medida exata da sua obsessão pelo saber. Listas e listas de livros a comprar, de filmes vistos e a ver. E muita música, sobretudo clássica. E há também muitas citações de outros autores. E aquelas bizarrices que nos fez refletir - eu e Bozoca - que diário publicado post-mortem deixa sempre a dúvida: deveriam ter sido publicados quando a autora não o fez em vida? A bizarrice mais recorrente: ela não gostava de tomar banho. Escreve inúmeras vezes sobre isto. Martiriza-se por que não gosta. Fica feliz quando sente que está progredindo. Vejam. Uma intelectual respeitada, admirada, "e é capaz de a partir de agora ser lembrada por causa disso". Tudo se resume, assim, à imagem. É a imagem que é flechada, condenada, nos diários que supostamente não serão lidos.
Agora, é esperar pelos outros dois volumes que sairão. Porque esta é uma característica deste gênero: ao mesmo tempo que causa em mim um fastio, causa também um fascínio.
SONTAG, Susan. Diários - 1947-1963. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
4 Palavrinhas:
"É a imagem que é flechada, condenada, nos diários que supostamente não serão lidos.
Quero destacar essa frase e pergunto: a pessoa que lê diário não tem muito de bisbilhoteira? Acho que ela está é justamente querendo saber se fulano bate na esposa, se tem fantasias sexuais com animais ou -no caso da Susan Sontag - não toma banho. E eu acho que essa curiosidade - apesar de considerá-la desprezível e abjeta - é "parte do negócio", uma coisa perfeita e previsivelmente humana.
Ah, e outro assunto: esse negócio de "listas e listas de livros a comprar, de filmes vistos e a ver. E muita música me lembra uma certa pessoa...hehehe...
Um abraço.
P.S. Acima, quando eu me referia a quem lê diário, estava falando do leitor em geral, aquele não "especializado".
Um abraço
Aí... acho que eu não gostaria que publicassem meus diários, não... por isso que não os escrevo... rsrsrsrs... por isso que não escrevo tudo no blog tbém !!
Mas eu tomo banho e gosto de tomar !! rsrsrsr
adoro a forma como vc fala de literatura. a gente quase sente o gosto na ponta dos dedos, coisa maluca. como sempre, fiquei com vontade de ler...
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