Ontem, menos um buraco no meu amor pelos filmes. Menos dois buracos. Assisti aos dois Nosferatus. Eu já tinha tentado ver o clássico de F. W. Murnau em uma retrospectiva do expressionismo alemão que houve na Cinemateca Francesa quando eu estava em Paris. Um problema no metrô me fez chegar atrasada meia hora. Clássico é clássico. Uma enciclopédia o constitui. O imaginário está formado. A emoção é ao mesmo tempo saber. Não tem comparação. E me resta concluir o que muitos ja concluíram: é sublime. Porém, Nosferatu, o vampiro da noite, de Werner Herzog, me tocou muito mais. Talvez seja esquisito falar isto de um remake. No filme de Murnau, a beleza do preto e branco é uma aula de cinema (é uma escola, é o próprio expressionismo alemão), mas Herzog, a meu ver, conseguiu algo magnífico: vemos o mesmo preto e branco em seu filme em cor! Vemos a mesma luz difusa recaindo sobre as personagens para destacar suas expressões, seus gestos, seus pavores. Tal e qual! E que vampiro triste! E o terror, neste filme de terror, é esta tristeza expressa em cada gesto do corpo do ator Klaus Kinski; é através de seu corpo alquebrado, de seu rosto atormentado, de sua loucura - inveja e despeito, superioridade e inferioridade, amor e ódio -, que sentimos em toda a dimensão o horror da imortalidade. O horror de não ser humano. E Isabelle Adjani, como Lucy, lânguida, belíssima, quase um fantasma, entregue literalmente aos dentes do vampiro Nosferatu, é uma das cenas mais bonitas que já vi. Há muito de horror, de gozo, de fé, de loucura, de fascínio, de entrega, no sacrifício. E se o sacrifício da "pessoa pura" é muito mais enfatizado no filme de Herzog é justamente para nos provar isto.
5 mulheres para acompanhar os passos:
Há 9 anos
1 Palavrinhas:
E eu não fui... dorga.
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