sexta-feira, 27 de novembro de 2009

sobre os sacos de lixo e o amor


Moro no segundo andar. Quem mora em apartamento sabe que o ato de levar o lixo é sempre uma chatice. Ainda mais quando não tem lixeira no andar. E eu, sem consultá-lo, instituí que isso seria obrigação do Tatupai. Será que levada pelas cenas dos filmes hollywoodianos, que têm sempre uma mulher mandando o homem levar o lixo pra fora? Eis um ritual de "estar casada". E eu que corria de casamento, me espanto em constatar que desde o primeiro "amanhecer" Tatu morou aqui. Até nos dias em que viajei, ele ficou com a chave. Lembro de ter tentado resistir sem convicção alguma. Ainda cheguei a perguntar: "você não vai mais dormir na sua casa?". Ele me perguntava se eu queria que ele fosse e eu, mal acreditando, me ouvia dizer que não. Não que eu soubesse que já o amava. Havia uma dor latente apenas amortecida. Mas rapidamente percebi que adorava a sua companhia. E que o esperava. Algo que me lembrava apenas as minhas grandes paixões. Confesso que nunca "esperei" as pessoas que namorei por anos seguidos. Pelo contrário, sempre corria como uma louca para fazer tudo o que eu queria, porque sentia muito fortemente que o outro ia me "atrapalhar", ia roubar meu tempo. E ele, eu esperava. E continuo esperando. Surpreendo-me lhe telefonando perguntando se ele virá do trabalho direto para casa. Por pura vontade que ele diga que sim.

E o que isso tem a ver com os sacos de lixo? É que mais uma vez eu me surpreendi, diante de uma pilha de saco de lixo (porque ele simplesmente sempre "esquece" que deve levar o lixo), pensando de modo diferente. No meio da minha irritação, eu pensei: "Ué, por que estou irritada, se ele nunca me disse que levaria os lixos? Se fui eu quem lhe impus esta tarefa?". Eu me vi então entre escolher a imagem ideal (a mulher que tem um companheiro que lhe ajuda de forma expontânea) e a imagem real (esta, de quem mora com alguém que é capaz de sair altas horas da noite para comprar algo que você quer, mas que é incapaz de ajudar em qualquer serviço de casa, sem que haja antes negociação). Escolhi então a imagem real e fiquei em paz. Senti muito fortemente que quero esta família, quero este homem, mesmo que a imagem vendida pelos filmes hollywoodianos e europeus não seja possível por aqui.

E comecei a pensar que isso é amor. É simplesmente amor. E que não quero perder isso por nada. Nem que eu tenha que levar os lixos (embora eu vá continuar tentando que ele os leve!).
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3 Palavrinhas:

Pips Marshall disse...

ahhhhhhhhhhhhh Mi, isso foi ótimo de se ler! Me senti assim muitas vezes... entendo o que vc diz sobre iamgem real e imagem ideal e a escolha do amor, da familia, sem ser algo que aprisione e sufoque. Entendo que para pessoas como nós, isso muitas vezes pareça um retrocesso, uma concessão ao mundo... por experiência própria, ele levará o lixo menos vezes do que gostaríamos, mas fará outras coisas surpreendentes que como diz aqui o meu Marcelo, os redime 100%! hehehh

Ana disse...

Putz, adorei ler isso MIlena, adorei mesmo. Beijos.

Anônimo disse...

Que lindo!!!

Estágios, etapas...

momentos

Que será isso a que chamamos de vida?



Linda historia... tão bom saber que tem um dedinho meu ai.