sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A 32ª mostra de cinema de São Paulo

Eu não sei se uma Mostra de cinema da envergadura da de São Paulo é uma dádiva ou uma tortura para uma metida a cinéfila como eu. São as duas coisas na mesma proporção! O frenesi, a correria, uma certa histeria, para dar conta de ver um tiquinho dos filmes (mais de 400 nesta edição!), são inevitáveis. E é delicioso. E a frustração de não conseguir um ingresso? E quando o filme é ruim e ficamos a imaginar nos tantos outros que estão passando simultaneamente e "certamente" são melhores? e o folhear interminável do catálogo em busca de filmes que não aparecerão no circuito nacional ou mesmo aqueles que aparecerão apenas aqui em Sampa e eu não terei a oportunidade de ver? avedapalavra! me vem aquele desejo de ser mais de uma, mais de uma, mais de uma... Ops! Já pensou mais de uma Milena pelo mundo? é melhor parar com o delírio, porque sendo só uma eu já me dou bastante trabalho! Por ora, eu me sinto uma errata exilada na floresta. Uma errata feliz.
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E, no meu caso, como não poderia deixar de ser, a Mostra tem disputado com congresso em outra cidade, exposições, peças de teatro, comprinhas para a casa na floresta... mas eu dei conta de assistir a nove filmes por estes dias, sendo que uma parte não é da Mostra. Se tivesse tempo falaria sobre cada um deles. O que dizer de Sem sol, do documentarista-poeta Chris Marker, que vi ontem na casa da Dê? Não bastam adjetivos!
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Nesta salada, o cinema do argentino Pablo Trapero foi uma descoberta da Mostra. Nascido e criado e Leonera são filmes que vou guardar para sempre na caixinha de memórias. Trapero constrói um cinema de pessoas em situações-limite, tecendo com muita delicadeza o "depois" da quebra, da ruptura. Como viver depois da perda? como decidir o caminho se parte dele faz parte do indecidível e é permeado de horror? Nas primeiras cenas de Leonera, estas questões nos espetam como esporas. Depois da quebra do cotidiano, a protagonista tenta seguir como se nada tivesse acontecido. A água do chuveiro leva o sangue do seu corpo e ela parte para o trabalho. No entanto, quando volta para casa, o horror continua ali espalhado por todo lado. O que resta é o enfrentamento. E não é apenas isto: a maternidade, o ambiente inóspito da prisão, a ambigüidade da inocência e da culpa, tudo vem neste "depois". A dureza e a aspereza enchem-se de pequenas delicadezas e põem qualquer alma em cima de uma navalha. Cada cena se encarrega de construir a tensão e a emoção com muita sobriedade. Houve momentos que eu nem sabia por que chorava de tanto que a cena era sóbria, mas chorava! E chorava por causa do filme, como se sentisse tudo aquilo, sentisse o que a protagonista se recusava a sentir e que, por fim, sente em toda completude.
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"- Diga-me, Mari, o que te constitui e você não poderia viver sem?
- ... Hum.
- No meu caso, eu não poderia viver sem livros e sem música. (pausa longa). Pensando bem, eu não poderia viver sem filmes. (outra pausa). Eu fico sem ler, mas se fico uns dois dias sem ver um filme, já fico impaciente".
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Oh yeahhh. Eu sou mesmo uma errata!
Fazendo quase tudo errado, mas quase tudo dando muito certo.
As coisas me esperam. E pronta, eu as enfrento.
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1 Palavrinhas:

Cristina Soares disse...

Hellou !!! Ai, que delícia ver um monte de filmes !!!!! E que história é essa de errata ?? Menina, vc não tem jeito de ser errata nãum !!!!!!!!! Um abraço